CAPÍTULO 35

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Agora que eu tinha uma grande responsabilidade familiar em minhas mãos, pensei muito e decidi não voltar para o meu antigo apartamento. O bairro até que era pacato e seria um bom lugar para criar Alessia, mas o prédio definitivamente era para lá de decadente. Nós precisávamos de algo melhor e mais seguro. Não queria me arriscar que outro bandido entrasse chutando a minha porta. E também tinha a questão da vizinhança. A velhinha do fim do corredor até que era gentil, mas o sujeito ao lado era muito sinistro dava umas festas muito loucas.

Até que ele me convidava para participar de vez em quando, mas aquele pessoal era doido demais até para mim. Não queria gente assim perto da minha filha.

“Como assim filha?”, vocês devem estar pensando.

É que depois de conversar longamente com Alessia, ela entendeu que dali para frente eu seria a mãe substituta dela. Não que ela tivesse que me chamar de mãe ou coisa assim. Mas eu precisava de um título qualquer na hora de apresentá-la para todo mundo. Não podia dizer que ele era a filha de uma ex-namorada maluca e que eu a tinha comprado com uma fortuna roubada de um bicheiro. Entenderam o drama, né?

Ivy queria que morássemos juntas de uma vez. Mas eu achava meio cedo em nosso relacionamento. Amar e conseguir conviver sob o mesmo teto são duas coisas bem diferentes.  Precisávamos de um pouco mais de tempo para nos acostumarmos com aquela situação nova, tanto para mim, quanto para ela.

Montei um apartamento perto do anterior, mas num prédio de melhor categoria e muitas noites Ivy dormia lá comigo. Era mais prático porque se fosse ao contrário, eu teria que carregar uma mudança inteira com as coisas da Alessia. Assim também ela se acostumava a ter um lar fixo e não viver por todo canto. De dia ela ficava numa creche e quando eu terminava meus compromissos, ia lá buscá-la para fazermos algo juntos.

Tudo seguia bem em minha vida. Estava perfeita do jeito que era. Até profissionalmente eu alcançara um bom status que me permitia escolher meus trabalhos como quisesse. Deixara de ser uma freelance qualquer para ser uma fotógrafa altamente requisitada. O Guilherme cansava de correr atrás de mim e eu tinha o supremo prazer de desligar o celular na cara dele. Todas às vezes. Sabia que ele era pura encrenca e não queria confusão para o meu lado novamente.

Eu ainda sofria assédio das mulheres. Não é assim tão fácil sair de cena e não fazer mais o que todo mundo espera que se faça. Elas vinham atrás de mim e mesmo eu dizendo que era compromissada, a perseguição continuava sem tréguas. Uma delas chegou a pular em mim enquanto eu guardava meu material e roubou um beijo guloso. Foi difícil resistir ao ataque da Tati e empurrá-la para longe de mim, mas resisti bravamente e dei um chega-pra-lá na assanhadinha.

Ivy não se adaptara às lentes de contato e tremia só de pensar em cirurgia. Então os óculos continuavam lá onde sempre estiveram. E por mim tudo bem, contanto que ela não resolvesse usá-los durante o sexo. Aí era um pouco demais para a minha libido.

O que não dava para agüentar era aquela boneca Barbie anoréxica desmerecendo a mulher que eu amava.

--Qual o problema com você, Tati? Deficiência auditiva? Tenho namorada e ela vale umas dez do seu tipinho. Beleza acaba, minha filha. Em alguns anos ninguém nem vai mais lembrar de você porque vai ter outra garotinha bonitinha e fútil no seu lugar. E o que vai ser da sua vida, hein? Sem sucesso, sem beleza e sem neurônios.

Um sonoro tapa atingiu meu rosto e bem nessa hora o gerente de produção apareceu na porta com a assessoria toda a tiracolo.

Um amor improvável? GyIOnde histórias criam vida. Descubra agora