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Era noite ainda e a praia já estava fervendo com nossa movimentação. Eu queria pegar a luz suave do amanhecer para criar um clima misterioso nas fotos, além de uma segunda fonte luminosa para alguns efeitos interessantes de contraste.
Na minha cabeça tudo já estava determinado. Cada ângulo seguiria um roteiro que eu definira previamente no instante exato em que pisara naquela praia. Essa era a diferença entre um mestre da fotografia e um fotógrafo medíocre. Eu me achava o máximo e as pessoas do ramo achavam também.
Todos sabiam que bastava deixar nas minhas mãos que eu entregaria uma obra de arte.
Preparei as modelos explicando o que elas deviam fazer e as posicionei nos locais certos para a hora do show. Tudo prontinho aguardando o momento supremo da natureza que traria a luz perfeita para compor o meu ensaio antológico. Meus olhos no visor da câmera fixa no tripé e a outra móvel nas mãos do assistente, pronta para quando eu precisasse.
Então o desastre aconteceu.-- O que aquele catamarã está fazendo lá atrás? – gritei horrorizada – Tirem aquilo dali.
Raul, meu assistente, saiu correndo, jogando areia para todos os lados, tentando chegar até a embarcação antes que perdêssemos o momento certo onde o sol estaria no local perfeito.
O burburinho foi geral e todos se desconcentraram enquanto olhavam para o assassinato das minhas fotos. As modelos se dispersaram, os assistentes largaram os equipamentos e eu fiquei lá sozinha, sentada na areia, xingando o idiota que resolvera sair para pescar àquelas horas da madrugada.
-- É o marido daquela morena linda. – Túlio, o baixinho que cuidava dos cabos afirmou.
Não me surpreendeu: Aquele homem tinha o dom de atravessar o meu caminho para estragar a festa.
Manu sentou-se a meu lado e ficamos ali observando o caos que se transformara o set.
-- Você sabe o que significa, não é? – resmunguei.
Manu: Um atraso na nossa saída dessa ilha paradisíaca. -- ela respondeu sem parecer muito preocupada com isso. Até deu mostras de satisfação.
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Será que é só eu que gosto de banho quente?
Manu: Com esse calor Gi, o que menos desejo é me cozinhar embaixo de um chuveiro de água aquecida.
Ela tinha razão. E naquele momento a odiei por isto. Ninguém tinha culpa se eu me metera numa terrível encrenca e agora tinha que fingir estar junto com a espiga de milho verde para me livrar do assédio cerrado da sereia lasciva.
Então vi o mastodonte vindo na minha direção com cara de poucos amigos e gelei a polenta. Será que ele tinha descoberto da minha transa com a mulher dele? Por via das dúvidas procurei Ivy pelas redondezas e me agarrei nela, quase pulando em seu colo.
-- Meu nome é Rodolfo, prazer! - O grandão me ofereceu sua mão, que apertei nervosamente - Estraguei suas fotos.
-- Não tem problema, Rodolfo. – banquei a compreensiva -- A culpa foi nossa por não avisá-lo que estaríamos fazendo as fotos aqui.
O sujeito riu feliz e consegui até sentir simpatia por ele. Era um cara gentil, apesar do tamanho avantajado.
Ivy juntou-se aos sorrisos, acompanhando os passos pesados de Matareka pela areia da praia enquanto voltava para seu catamarã.
Ivy: -Um bom homem, não é? – comentou com ar de encantamento, esforçando-se para libertar-se do meu agarramento em seu braço. – E a esposa dele então? Um amor de pessoa, tão simpática e receptiva!
Repentinamente percebi que ela estava me censurando com ironias e me preparei para retrucar, porém um movimento atrás de uma palmeira deteve minha resposta atravessada. Reconheci Rafa escondida atrás do mato, com seu jeitinho sonso de se insinuar para mim.
Voltei a agarrar Ivy e, por via das dúvidas, dei-lhe um beijaço daqueles de cutucar as amídalas até fazer cócegas.
Fiquei com um olho fechado e o outro semi-aberto para ter certeza de que a garota tinha compreendido a situação e se mandado.
E ela realmente se foi, mas o beijo estranhamente continuou empolgado depois disto. Até que finalmente me lembrei de quem era aquela boca que eu devorava e recobrei a sanidade. Só me faltava aquela: ficar de atracação com uma mocoronga. Ainda mais assim em público para que a equipe tirasse sarro de mim mais tarde.
-- Ufa! – respirei mais calma, largando Ivy de vez – Aquela pentelha estava novamente atrás de mim. Que saco!
Ivy parecia meio zonza e achei que fosse desmaiar.
-- O que foi? – perguntei preocupada com seu jeito aturdido.
Ivy: Nada! – respondeu rapidamente, virando-se de costas e indo embora.
-- O que foi que aconteceu? – indaguei a Manu, que simplesmente sorriu para mim e me deu um peteleco na orelha como se eu tivesse dado uma bola fora.
-- O que foi? – repeti a pergunta. Mas minha prima já estava longe, indo em direção ao chalé.
E eu ali, com cara de babaca, pensando no que significava tudo aquilo. Mas é claro que minha maior preocupação era me livrar de vez de Rafa. Aquilo já tinha passado dos limites. Nunca tinha sido do tipo de me meter com mulher casada. Mesmo eu sendo uma pessoa de poucos escrúpulos, tinha uma espécie de código de honra pessoal. Ainda mais quando havia risco de morte.
*********Vivas, ainda? 😂😂💛
Espero que estejam gostando e estejam se divertindo assim como eu estou. Tem muuuuita coisa pra acontecer ainda.Boa noite e tenham uma ótima noite de sono givys shippers. 💛
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Um amor improvável? GyI
FanfictionGizelly Bicalho é uma fotógrafa de moda em ascensão que adora desafios e não hesita em assumir riscos em sua profissão. Mas na vida particular prefere manter as coisas o mais simples possível, sem assumir relacionamentos duradouros. Afinal, viver ro...