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// DOIS //


Na sexta-feira ir para a escola não era mais uma missão tão horrível. As pessoas passaram a se conformar comigo e não mais me encaravam, no geral; ainda existiam as meninas nojentas que olhavam feio para qualquer um e aqueles meninos que mais pareciam animais excitados pelos corredores. Fora tudo isso, a minha rotina acabou se tornando surpreendentemente agradável.

Dia sim, dia não, eu e o pessoal que conhecera no primeiro dia íamos para o Café ao lado da escola, onde a maioria do pessoal ia; apenas para conversar e passar o tempo. Quando chegava em casa tentava estudar um pouco, como uma medrosa de carteirinha, desde sempre tive medo de não passar no fim do ano, diferente dos meus amigos, que não consideravam esse inicio de ano letivo um momento para estudos, e sim "Férias - parte 2". Tinha que admitir que era um ponto de vista intrigante; porém não podia me dar a esse luxo, Columbia ou NYU me esperavam e falhar nas matérias não era uma opção.

Tirei o pijama e fui ao banheiro tomar uma ducha. Nosso apartamento era relativamente pequeno, comparado à nossa casa antiga, mas de algum modo era muito mais confortável de se viver ali, naquele cubículo. Ouvi quatro músicas de Coexist do The XX enquanto tomava o banho e fui enrolada na toalha para o meu quarto. Me desenrolei e procurei um sutiã e calcinha que combinassem quando ouvi uma voz.

"Bela bunda."

Segui a voz com os olhos e os mesmos arregalaram-se quando me deparei com ninguém mais, ninguém menos que o idiota que andava pelado 24h por dia e que fazia sexo de uma maneira não muito convencional, apoiado com os braços cruzados no batente da janela. O mesmo idiota que me chamara de vadia no início da semana.

Rosnei para mim mesma e coloquei a calcinha rapidamente e logo depois o sutiã. "Você tem alguma noção de privacidade, por acaso?" Disse, enquanto colocava os shorts e uma blusa.

"Sabe, a maioria das meninas teria se escondido ou gritado." Ele comentou, pensativo.

"E?" Perguntei, colocando o material na mochila.

Ele deu de ombros. "Nada, eu gostei."

Olhei para ele e revirei os olhos para seu sorriso de satisfação. Me aproximei da janela e me inclinei um pouco para que meu decote ficasse um pouco mais à mostra que o aceitável socialmente e não podia negar ter ficado um tanto satisfeita por ter atingido o objetivo esperado; seus olhos seguiram bem para o espaço abaixo do meu pescoço.

"Não se iluda, você nunca vai ver nada de uma distância menor do que a que estamos agora." Disse antes de fechar a persiana e voltar para a cozinha para pegar uma maçã verde e descer os quatro andares de escada; estava um pouco atrasada e teria que correr.

Estava andando para a estação do metrô, um pouco distraída com as mensagens do grupo dos meus amigos de Westchester quando ouvi uma buzina vindo de trás de mim. Virei, com uma expressão confusa e me deparei com um carro estilo retrô cor azul marinho, conversível. Dentro dele, um idiota de óculos escuros e uma aparência ridiculamente atraente. Ele estava tão bonito que me irritava.

"Entra." Ele disse. O jeito autoritário com que disse me dera vontade de bater nele.

Revirei os olhos. "Eu não, deve pegar."

Ele franziu o cenho, confuso. "O que?"

"Esse seu jeito idiota."

Ele deu um sorriso malicioso; ok, minha tentativa de ofender não tinha funcionado. Não podia evitar me sentir um pouco triste.

"Você não vai querer chegar atrasada e pegar detenção na sua primeira sexta-feira do ano letivo, vai?" Ele argumentou, e pela sua expressão, ele sabia que eu não ia recusar.

Alguém Para Dizer Bom DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora