// QUATORZE //
Heather acabou indo comigo para a casa de Johanna. Ela estava bem alterada pelo álcool e não era uma boa ideia ela pegar o trem para casa àquela hora da madrugada. Saímos ás cinco horas e algo que ficara preso em minha cabeça era o fato de Hunter ter desaparecido de lá sem falar com ninguém lá pelas duas da manhã. Última vez que havia o visto tinha sido no momento em que discutimos. Não podia negar que havia ficado preocupada com ele e não conseguira parar de pensar naquilo desde que deitara na cama. Já eram seis horas; uma hora para conseguir que o sono viesse. E ele estava se arrastando.
Porém, assim como as pessoas morrem e doenças existem, tragédias acontecem. Ás seis da manhã (ainda nem tinha clareado), meu telefone toca. Tentei ignorar algumas chamadas, mas como já tinha sido a quinta, pensei que poderia ser sério (e mataria o dito cujo caso não fosse). E o destino, com o intuito de me dar um chute na bunda, se provou maldoso mais uma vez. Era Hunter e suas primeiras palavras foram "estou na merda".
Subi as escadas do seu prédio apressadamente. Segui as instruções rapidamente - peguei a chave do apartamento debaixo do tapete e depois a de seu carro, em cima da sua mesa do quarto. Ele não me explicou muita coisa e ficar no escuro era frustrante. Não foi fácil tomar a decisão de ir ajudar Hunter em apuros sem contar para ninguém ou pedir ajuda mais útil, mas ao perceber sua voz banhada de dor, medo e urgência, deixei a frustração de lado e fiz o que ele pediu.
Corri até o estacionamento que seu carro estava, que ficava na mesma rua de nossos prédios, e continuei seguindo o que ele me dissera. Norte por três ruas e depois virei a esquerda e direita na quinta rua. Não pensei muito enquanto segui as instruções, apenas as fiz. Sabia que Hunter não me ligaria àquela hora se não fosse algo que realmente importava. O nervosismo subiu para meu peito e a minha respiração se acelerou; estava ficando cada vez mais difícil de pensar. Hunter não estava morto - isso já era reconfortante. Mas se alguma coisa ruim aconteceu com ele, ele não deve estar completamente seguro. Não é?
Quando cheguei ao destino, desliguei o carro e saí rapidamente. Era um beco extremamente escuro e assustador. Num dia normal escolheria andar mais cinco quadras só para não passar por um lugar como aquele. Sacos e mais sacos pretos de lixo estavam empilhados pelos cantos de ambas as calçadas. Vez ou outra passava uma porta de fundos de diversas lanchonetes ou de prédios bem suspeitos. Graças à alguma divindade, não vi nenhum homem mal encarado andando, segurando algo suspeito nas mãos - como canivete, faca, pedaço de vidro. Aprendi que na cidade, por mais que pudesse parecer perigoso, não era nada extremo como alguém de fora pode chegar a acreditar. Se deixar seu carro passar a noite na rua, com algum objeto de valor dentro, é possível que na manhã seguinte apareça com o vidro quebrado e o objeto sumido. No entanto, a possibilidade de alguém realmente chegar até você e ameaçá-lo com qualquer tipo de arma beirava o impossível. Obviamente, havia exceções. Com o tempo eu ia aprendendo, mas para uma recente na cidade, eu ainda acreditava que qualquer homem na rua era um assaltante assassino em potencial. Tudo por culpa da minha vidinha pequena de subúrbio; tem gente que mora em Westchester que não deve saber nem como um assalto acontece. É até preocupante.
Continuando, eu andei vagarosamente pelo beco, procurando por qualquer sinal de movimento. Precisava achar Hunter respirando ainda. E foi, então, que minha visão de lince não foi mais necessário. Uma tosse ecoou à minha esquerda e avistei meu amigo sentado nos degraus de uma saída de fundos num prédio qualquer. Uma garrada de vodca quebrada do seu lado com uma pequena poça de sangue rondando-na.
Apressei-me em sua direção e, ainda com a respiração acelerada, segurei seu rosto - fraco e sonolento.
"Veio de mula, docinho?" Ele perguntou, curvando seus lábios minimamente para cima.
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Alguém Para Dizer Bom Dia
Genç KurguHailey é uma menina pouco inocente mas controlada e pé no chão. Teve um namorado ou outro durante a infância mas sua última relação foi a que marcou. Um incidente durante um de seus encontros com seu namorado da época acabou levando-a a uma mudança...