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// CINCO //

Segundas eram ruins, terças um pouco melhores. Seguindo a lógica, deve-se imaginar que quarta-feira seja um dia razoável, não? Não. Quarta era simplesmente o pior dia da semana e não era pelo fato de ainda faltarem 2 dias para o fim-de-semana, ou porque logo nas duas primeiras horas de aula eu tinha incansáveis problemas para resolver na álgebra dois, nem por ter que acordar mais cedo porque era um dos meus dias de arrumar a minha cama e a da minha irmã (sim, fazíamos rodízio porque nós duas éramos preguiçosas).

Não, era o pior dia porque me fazia lembrar de casa. Todas as quartas era o dia do jantar em famílias; sim, no plural. Meus pais e os pais de Tyler, meu ex-namorado se juntavam conosco e na casa de algum de nós era organizado um jantar casual, simplesmente porque gostávamos uns dos outros. Durante um ano e sete meses esses jantares eram de lei, era o que nos fazia unidos. Depois do jantar, eu e Tyler íamos para a casa da árvore que ele tinha no quintal dele - sim, mais clichê impossível. Era isso o que eu mais gostava na relação com ele, era tudo muito previsível, sem surpresas muito preocupantes.

Naquele momento eu olhava para trás e, com dor no coração, me arrependia de ter sido tão controlada minha vida toda. Porém, não achava que conseguia mudar de uma hora para outra, ele me fez assim. Desde que começara a sair com Tyler, minhas notas aumentaram e eu finalmente comecei a decidir meu futuro; estava tudo planejado. Ele tinha o sonho de vir para Columbia e agora que não o tinha mais, parecia que estava roubando seu sonho, o que me fazia sentir mal. No entanto, também me fazia pensar que talvez estivesse fazendo uma homenagem, do quão especial ele tinha sido; ele me guiara.

Durante um mês na cidade, em todas as quartas eu tirava um tempo para pensar em Tyler, em seus pais devastados e tudo que deixara para trás. Porém, naquela quarta em especial, tinha acordado pior, sentindo uma náusea depois de um sonho que havia tido. Tinha acordado sem lembrar de nada, apenas de seu rosto, claro na minha cabeça.

Levantei e comecei a arrumar meus lençóis. Antes de ir para o banho, corri para o quarto de Johanna e fiz sua cama também. Peguei minha toalha que estava pendurada na parte de trás da porta do meu quarto e fui para o único banheiro do apartamento.

Demorei-me um pouco mais, lavando todos os pensamentos ruins junto com meu cabelo e assim que saí do boxe, pulei para meu quarto e fechei a porta. Sabia que Hunter poderia estar assistindo eu vestindo minha roupa, mas não senti vontade em fechar a persiana; durante duas semanas de acordo, ele tinha me visto pelada mais vezes do que um mês de namoro com Tyler e eu não me sentia preocupada com meu corpo mais. Além de que, doze anos de Break Dance não foram em vão, eu ainda conseguia chamar um pouco de atenção quando queria.

Soltei a toalha no chão e, nua, examinei minhas roupas penduradas nos cabides. Meu armário ficava na parede ao lado da janela que dava para o quarto de Hunter, o que queria dizer que quando eu me arrumava, ele tinha uma vista clara do meu corpo de perfil.

Espiei de canto de olho e sorri maliciosamente quando vi que minhas suspeitas estavam certas: ele estava agachado no chão e com os braços cruzados, apoiados no batente da janela. Ele também tinha uma expressão maliciosa no rosto.

Coloquei meu sutiã de renda amarela e enquanto terminava de vestir a calcinha, virei para ele e caminhei até minha janela, que era quase de corpo inteiro. Agachei-me e sentei no chão com as pernas cruzadas.

"Se quiser, Colbie, é só pedir, não precisa ficar babando." Impliquei, sorrindo.

Ele revirou os olhos. "Cala a boca. Vou estar ai na portaria em vinte, fique pronta."

Balancei a cabeça. "As pessoas vão ver."

"Só as que têm olhos." Ele disse, num tom zombeteiro.

Alguém Para Dizer Bom DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora