Capítulo 4 - A garota no espelho me fez fazer

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Phoebe

A garota abriu os olhos quando os primeiros raios de sol anunciaram o dia. Imediatamente, o sino da capela soou, indicando que eram sete horas. Então se levantou ainda um pouco cansada, o sonho da noite anterior jazia vívido em sua mente. Pensou em como era interessante a capacidade de seu subconsciente criar uma personagem tão real e original, não havia assistido nenhum filme ou livro que mencionasse uma bruxa, ainda mais chamada Clarice.

Em meio a esses pensamentos e refletindo sobre a conversa que teve no sonho, se arrumou rapidamente para o culto matinal. Usava um longo vestido que mais se assemelhava a um hábito, entrou na fila para sair do quarto atrás das outras garotas que comentavam entre si qual teria sido a punição de Dona.

- Acha que vão expulsar ela? – Mônica tirava um catarro do nariz enquanto aguardava a resposta de Julie.

- Eu não sei – Julie deu um leve tapa na mão de Mônica – Ela estava no limite de advertências por trocar o copo de suco de Joana por um de urina semana passada, a pobre garota vomitou a bile.

- Se ela for expulsa, sabemos quem vai levar a pior – Mônica cruzou os braços e lançou um olhar de desdém para Phoebe.

- Sim, eu não iria querer entrar no caminho da Dona – Julie ajoelhou para amarrar seus sapatos e aproveitou para olhar a garota de relance – Ouvi dizer que em seu último abrigo, Dona esfaqueou uma menina.

- Você não pode estar falando sério – Julie, que estava na frente de Phoebe na fila, rapidamente entrou no assunto.

- Pois é – Julie se levantou e começou a falar como se estivesse contando a última fofoca quente do momento – Parece que a garota morreu na hora.

Irmã Maria abriu a porta do quarto assustando as meninas e colocando fim no assunto. Ela entrou, sem dizer uma palavra e, atentamente, checou cada uma das vestimentas que usavam, depois se dirigiu aos beliches para conferir se estavam em ordem. Por fim, observou os cadarços dos sapatos.

Quando terminou a inspeção matinal, saiu do quarto por um momento. Ao voltar, estava acompanhada por Dona, que tinha os olhos lacrimejantes de tanto chorar e o cabelo completamente bagunçado. A garota encarou cada uma das garotas ao passar e ocupar seu lugar no fim da fila.

- Bom dia garotas – Irmã Maria pegou o pequeno terço de madeira que carregava nas vestes do hábito e segurou com as duas mãos – Vamos fazer nossas preces para que nossos pecados sejam perdoados.

Enquanto todas rezavam a Ave Maria em uníssono, Phoebe sentiu a respiração de Dona em sua orelha.

- Eu perdoo você por ter me colocado nessa enrascada.

- Amém – Finalizou irmã Maria – Agora, antes de mais perguntas, nós da comunidade Celestial sempre prezamos pela honestidade e bons costumes, e não esperamos nada menos de nossas garotas para que cresçam para serem mulheres exemplares para seus maridos.

Phoebe observou o largo sorriso se abrir de repente no rosto de Mônica, que sempre dizia o quanto iria ter uma família bela e rica com um marido lindo, no futuro.

- Mas atitudes de nossa colega, Dona, na noite de ontem não foi nada de acordo com o que uma mulher bem comportada faria – Irmã Maria andou entre as meninas – Entretanto, o senhor é misericordioso, por isso decidimos dar a ela mais uma chance.

Irmã Maria passou suas mãos enrugadas nos cabelos negros e de aspecto seboso de Dona, que parecia se esforçar para fingir que não estava incomodada com a situação.

- Porém – A irmã abaixou suas mãos e continuou andando, parou ao lado de Phoebe e fixou seu olhar – Precisamos garantir que outras maçãs não foram contaminadas pela fruta podre, por isso vocês irão passar por uma avaliação psicológica hoje, uma por uma, com uma profissional que respeito e admiro muito.

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