Capítulo 11 - O sacrifício

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 Louise

Silêncio. A quietude prevaleceu nos corredores e cômodos da grandiosa mansão a qual tomaram sede para a ordem. Ordem, algo que aprenderam desde a infância. Bruxas não andam sozinhas. Não possuem esse luxo, porque seu poder está em somarem as forças que percorrem seus corpos e assim realizam grandes feitos.

"O que Elizabeth, Phoebe e Sophie performaram hoje foi algo inacreditável", refletiu Louise. Phoebe era sem dúvida a mais evoluída entre elas, porém, para quem havia descoberto seus poderes recentemente, Elizabeth e Sophie também surpreenderam a mulher. Havia algo nelas, não eram garotas inocentes e indefesas. Provaram a escuridão, e parte delas gostou daquilo.

As cinzas do quadro que prendera a alma de Clarice por mais de trezentos anos, resultado do esforço de três jovens bruxas para salvar alguém com quem se importavam, estavam espalhadas pelo enorme museu. Por um momento, a expressão de decepção que Phoebe lançara pairou sobre os pensamentos de Louise. Parte dela se sentia mal por aquilo, mas no fundo ela sabia que sua apatia seria o sacrifício que teria de pagar por ter feito o necessário.

Apesar de que não fora a forma como planejou, a pressão dos imortais através de Pedro deu as garotas um incentivo. A verdade é que tiveram sorte de terem conseguido. Louise tinha planos que envolviam muito mais tempo e prática para poderem fazer isso de forma segura. Infelizmente, seres que estão nessa terra há mais tempo do que se pode imaginar não compartilham da mesma noção de paciência.

Louise interrompeu os pensamentos desordenados e focou no que ainda precisava ser feito. Se dirigiu ao centro da sala e concentrou suas energias na marca que havia sido deixada pelo poder das três feiticeiras. Estendeu as mãos e respirou profundamente. Conseguiu sentir os pelos de seu corpo se excitando quando os resultados do feitiço começaram.

O lustre acima dela passou a balançar. De um lado para o outro, devagar. O silêncio foi substituído por um súbito ruído. Partículas leves se arrastando de todos os cantos, atraídas por ela. Mais rápido do que esperava, as cinzas da prisão de Clarice estavam reunidas no chão, à sua frente.

Com uma vassoura e uma pá, ela reuniu os restos do quadro queimado em um recipiente de vidro. Então, percorreu o enorme salão até chegar ao corredor da sede. Todas as luzes do local estavam desligadas, por isso, achou melhor manter dessa forma, nada de interrupções e suspeitas dos vizinhos, apesar de estarem distantes.

Ciente de cada canto da propriedade, ela andava pelo extenso corredor passando pelas portas das salas de ensino, salão de treino, laboratório e não demorou muito para descer as escadas. Após o último degrau, encontrou-se na sofisticada sala de estar, sem hesitar e contendo a ansiedade, seguiu para o outro corredor.

No extenso corredor rente à entrada principal, um grande quadro com a pintura de uma gigantesca árvore de carvalho ocupava boa parte da parede. Nervosa, Louise colocou-se diante da obra de arte e tocou sua superfície macia e quente.

Quase que imperceptivelmente, uma maçaneta dourada surgiu em uma das extremidades do quadro e, sem hesitar, ela a puxou. Passou pelo quadro, saindo em uma pequena e apertada sala. Em seu interior, apenas uma estátua pequena da deusa Atena estava imponente diante dela.

– Seu sangue é meu sangue – Disse Louise, quase que em sussurro.

Ao ouvir a frase, a estátua foi movida para o lado, revelando uma pequena passagem que dava acesso a um conjunto de escadas em espiral. Correndo, a feiticeira desceu as escadas, ainda segurando o pote de vidro com as cinzas, com o máximo de cuidado.

À medida que descia, a temperatura do ambiente subia cada vez mais. As paredes ao redor ficavam mais desgastadas e davam lugar a algumas pedras. O caminho era iluminado por pequenas tochas, duas a cada lado dos degraus sujos. Louise podia jurar que escutava ruídos de ratos e baratas pelo encanamento.

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