Elizabeth
A xícara de café foi esquecida enquanto Elizabeth fitava o papel e a caneta na mesa à frente. A livraria estava surpreendentemente vazia naquele fim de tarde, observou uma das garçonetes do estabelecimento limpava mesas vazias cantarolando a letra de qualquer que fosse a música que estivesse ouvindo em seus fones.
Bebeu o líquido, que agora já estava frio e pousou a delicada xícara no pires branco que a acompanhava. Se virou para grandes janelas onde conseguia ver o ritmo caótico que a cidade de Nova York possuía. Ao contrário da correria e da pressa do lado de fora, no interior do prédio revestido de tijolos vermelhos, a calma pairava e o silêncio era ensurdecedor.
Ao observar que não havia bebido todo o café, a garçonete veio em direção a garota, passando ao lado das grandes prateleiras repletas de livros. Ela era bonita, possuía cabelos loiros encaracolados que passavam um pouco do ombro e a pele branca como a neve.
- Você precisa de mais alguma coisa? – Perguntou ela pegando sua pequena caderneta.
- Não, obrigada.
- Você é escritora? – Seu olhar havia escapado para o notebook aberto na mesa.
- Faço rascunhos, meu cunhado, no entanto, está na faculdade de Letras e pretende se tornar escritor.
- Ele deve ser realmente talentoso – A moça abriu um pequeno sorriso puxando assunto – E você, no que trabalha?
- Eu, hm, estou voltando para a faculdade de cinema e faço um curso de teatro – Não sabia se aquele súbito interesse podia ser um flerte.
- Você parece ter talento para isso – Ela passou as mãos nos cabelos loiros e os juntou ao lado direito do pescoço.
- Por que diz isso?
- Você tem um olhar profundo – A garçonete mediu suas palavras – Como se conseguisse ler as almas das pessoas.
- Qual é o seu nome?
- Eva – A garota olhou para o relógio de bronze em seu pulso – E eu provavelmente deveria voltar ao trabalho se não quiser ser demitida.
- Espera – Rasgou um pedaço da folha e anotou seu número – Eu sou Elizabeth – Entregou o pequeno papel à Eva – Se quiser fazer algo depois do expediente, é só me ligar.
- Pode apostar – Eva guardou o papel em seu avental branco e saiu dali deixando-me sozinha com meus pensamentos.
Então Elizabeth pegou sua bolsa do chão e retirou um grande caderno preto, abriu em uma página e arrancou a folha. Escrever uma carta para seu irmão deveria ser fácil, mas desde a morte de seus pais, a decisão de sumir por um tempo poderia ter feito com que ele não enxergasse da mesma forma.
Observou a lixeira ao lado da modesta mesa de madeira, cerca de cinco rascunhos amassados haviam sido jogados por Beth. Encarou novamente o pôr do sol que anunciava a beleza das luzes por vir. Finalmente, pegou a caneta e escreveu:
Querido Tomas, as luzes de uma noite em Nova York são pura e simplesmente magia e todos deveriam testemunhar esse encanto pelo menos uma vez na vida. Escrevo para você de Barnes & Noble, nossa livraria favorita de quando éramos crianças.
Eu me lembro de como eu e você passávamos dias e dias explorando as imensas prateleiras e éramos transportados para os diversos mundos nas páginas dos livros, enquanto nosso pai resolvia seus negócios.
Acredito que por essa conexão com o lugar é que eu o escolhi para escrever para você. Escrevo essa carta para me desculpar por ter estado ausente todo esse tempo. Sei que papai e mamãe não farão falta para nós pelas suas atitudes abusivas e tóxicas e principalmente para você, por não aceitarem sua sexualidade.
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Shadow Creatures
FantastikVoltar para a universidade era um alívio para Elizabeth. A possibilidade de se formar e atuar em grandes produções cinematográficas movia todos os sonhos e esperanças da garota. Entretanto, um passado misterioso se choca com um presente caótico quan...