Capítulo 15 - Doces & Travessuras Parte 1

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Clarice

O vestido chegou algumas horas antes da festa. O entregador da loja defantasias foi humilde o suficiente para abrir uma exceção em sua agenda lotadadevido ao aumento no número de pedidos. Clarice mexera um pauzinho, ou dois,mas valeu a pena, tudo precisava estar perfeito para a ocasião.

 Estendido na cama, o estonteante vestido vermelho aguardava para serusado. Apesar da pequena incoerência em escolher se fantasiar de vampira,logo quando a espécie imortal fizera de tudo para a exterminar, esses seressombrios e sanguinários sempre foram alvo de sua admiração, e o Halloween éjustamente a melhor oportunidade para abraçar todos os seus desejos maissombrios. 

Essa era a máxima Clarice esperava de Nick. O querido amigo de Anselcaíra como uma luva para os planos dela e assim que as peças fossemcolocadas no lugar, o movimento do garoto seria fundamental para que elaestivesse um pouco mais perto de seus objetivos. 

Tomas ficaria arrasado. Uma pontada de culpa percorreu o coração dela.Um lado de si, odiava aquilo. Essa era a pior parte., pensou. Sentir as emoçõesde seu hospedeiro pode acabar te fazendo questionar sua própria mente. E ossentimentos de Elizabeth eram fortes, não surpreende que ela era uma das maispoderosas pupilas de Louise, a garota lutava contra suas correntes mentais eClarice podia sentir a temperatura do corpo subir à medida que tentava afogá-lacada vez mais para o esquecimento.

 Sim, o irmão de Elizabeth ficaria destroçado, mas esse era o objetivo.Clarice esperou muito para finalmente estar aqui, em carne e osso, mesmo quenão fosse sua própria carne e osso. Enfim, ela podia beijar Louise, a essênciade Helene passando de corpo em corpo, até ela. Tudo para ter Clarice de volta,para que juntas pudessem ter justiça pelo que foi tirado delas. 

300 anos. Roubados. A solidão foi a pior parte. Muitos dizem que morreré a pior coisa que pode acontecer com alguém. Mas não. A dor da morte é real,mas nada comparada a dor de se sentir pura e completamente só, Clarice sentiaojeriza apenas de lembrar como era estar naquela prisão. As chamas queengoliram seu corpo eram suportáveis diante do esquecimento. De poder vertudo que acontecia através de um espelho e não poder interagir por tanto tempo. 

Solidão. Ela conheceu a solidão. O vazio imensurável de nada excetosuas lágrimas, enquanto ninguém a ouvia chorar. E assim, talvez fosse justo, coerente, fazer com que todos também sejam capazes de conhecer essa dor.Poético, até.

 Enquanto fazia sua maquiagem assistindo um tutorial do youtube, afeiticeira se encantou com o quão prático era manusear essa ferramenta. Celular.É claro que podia ver as pessoas os usando, do outro lado, mas nunca foracapaz de entender realmente como podiam preencher tanto o tempo de alguém.

 Informação. Estava tudo ali, naquela tela à sua frente. Desde históriassobre bruxas completamente equivocadas, até algumas que flertam com averdade. Filmes, música. Os humanos encontraram uma forma de compactar oconhecimento e vendê-lo instantaneamente.

 Clarice terminou de desenhar com a ponta do batom o que devia insinuarsangue saindo dos lábios vermelhos como cereja de Elizabeth quando ouviu asbatidas na porta. Provavelmente, Tomas e Ansel. Ela precisava admitir quegostava dos garotos, eles a lembravam dela e Helene, em 1600 duas garotasjuntas eram tidas como doentes mentais ou possuídas por demônios, não asrestava algo para lutar e tudo a fazer era se esconder e tomar o máximo decautela. 

Tomas e Ansel não. Existia um movimento, e agora as pessoasrevidavam. Exigiam ser enxergadas como seres humanos e respeitadas comotal. Ela admirava isso, talvez a única coisa que gostava sobre esse século.

 — Só um minuto – Clarice gritou, através da voz imponente de Elizabeth, então,levantou da cadeira, com agilidade, e com os olhos fixos no vestido, estalou seusdedos. 

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