Sophie
Berkeley, Califórnia. 2022
Ao pisar no primeiro degrau da escada, o ranger da madeira anunciou a presença de Sophie. Subir significa que seria pega, sabia disso, mas algo naquele quarto do primeiro andar fazia com que todo o seu corpo implorasse para continuar. Era difícil discernir se a sensação era de segurança suprema ou medo avassalador. Respirou fundo, ele não estava em nenhum lugar em que pudesse ser visto.
Tentando abafar o som de seus passos, Sophie chega ao último degrau sem que ele a notasse. Sentia seu coração batendo acelerado. Em uma das três portas estava aquilo que poderia salvar ou condena-la. O terror começou a faze-la suar, limpou a testa com a manga do pijama.
Entrou na primeira porta achando que ele nunca a seguiria até ali. Com a maior sutileza possível, girou a maçaneta e entrou no quarto. A mulher já dormia embrulhadas pesados na cama ao centro, as cortinas estavam fechadas e o frio deixava o ambiente gelado. Sem muita demora e silenciosamente para não acorda-la, entrou em baixo da cama de casal e se envolveu as pernas com os braços. Finalmente estava segura. A sensação de tranquilidade também a envolveu e algumas horas se passaram. Seus olhos pesaram e começou a adormecer, mas afastou sua vontade mordendo fortemente o lábio inferior.
Acordou ao ouviu o ranger delicado da porta juntamente com passos apressados, anunciando a entrada de alguém. Sophie se manteve completamente parada ouvindo a pessoa percorrer o ambiente. Torceu para que não encontrasse nada suspeito e fosse embora. E assim aconteceu, ele se virou até a porta para sair dali. A garota sentiu seu alivio ir embora junto de um espirro. Merda. Deveria ter imaginado que toda aquela poeira faria espirrar. Sentiu os pés que já estavam próximos à porta voltarem-se para a cama e o lençol ser puxado com ternura, até que pudesse vê-la.
O pai agachou-se e sorriu para a pequena do outro lado da cama.
- O que está fazendo, meu amor? – Cochichou.
- Lucas e eu estamos brincando de pique esconde – Talvez tenha falado alto demais.
O homem levou a mão até a boca e repreendeu meu barulho.
- Shhh. Não acorde a mamãe.
Se arrastando para seu pai, se levantou e sentiu suas mãos a levantar do chão e sacudir a poeira que envolvia suas roupas. Ele sorriu para sua pequena e parecia feliz por tê-la ali. Ele começou a treme-la no ar, era uma brincadeira que tinham desde os três anos. Do alto, sendo sustentada por seus braços, olhou de relance para sua mãe. Ela parecia dormir profundamente.
- Papai, o que a mamãe está fazendo aqui? – A voz fina que tinha, como qualquer criança, foi a que saiu de sua boca ao dizer aquelas palavras, sem pensar nas consequências.
Imediatamente a garota sentiu o impacto do chão contra seu rosto e percebeu que era novamente ela, adulta. Se levantou e encarou o homem, lágrimas escorriam incessantemente pelo seu rosto e ele tremia desesperadamente.
- Pai, o que a mamãe está fazendo aqui? – A voz daquela criança assustada havia dado espaço para uma voz madura e crescida.
Seus olhares se encontraram.
- Não acorde sua mãe Sophie – Suas palavras vieram em um tom de alerta.
Deu alguns passos em direção à cama, podia ver o ar gélido e mortificado sair do nariz enquanto aproximava-se da mesa de autópsia que ocupara o lugar da grande cama onde sua mãe estava deitada. Olhou ao redor, o quarto sumiu, ao invés disso uma sala clínica com várias gavetas era o novo cenário.
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Shadow Creatures
FantasyVoltar para a universidade era um alívio para Elizabeth. A possibilidade de se formar e atuar em grandes produções cinematográficas movia todos os sonhos e esperanças da garota. Entretanto, um passado misterioso se choca com um presente caótico quan...