Capítulo 21 - A última Ceia

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  Sophie

Sophie fechou o volumoso livro com capa de couro, delicadamente. Parte dela estranhava a calma que a envolvia. Estava sentada em frente a escrivaninha do quarto em que estava hospedada, na casa de Marcos. Foi ali que passou grande parte de seu recesso, estudando os feitiços daquele grimório que Pedro fora suficientemente gentil para roubar da sede.

Após o Halloween, a paciência foi uma virtude que ela aprendeu a exercer. O encontro com o fantasma de Mônica, aparentemente ex-namorada de Marcos, e a descoberta de seu corpo no jardim da casa fizeram com que a garota levantasse sua guarda, mas ao mesmo tempo, agisse como se tudo estivesse perfeitamente normal.

O namorado, no entanto, continuava a agir como um príncipe. Seguro de si, cordial e constantemente trazendo-a variados presentes que iam de vestidos caros à jóias extravagantes. Sophie se perguntava se o carinho realmente era fruto do interesse de Marcos por ela, ou se um reflexo dos negócios do pai, Alberto, no consórcio de carros, estarem decolando.

Já Regina, sua sogra, apenas tolerava a existência de Sophie na casa. A garota percebia como, mesmo que sua presença ali fosse insuportável para a mulher, a etiqueta e a cordialidade nunca seriam ignoradas pela mãe de Marcos.

Se a melhora dele era ou não legítima, ela não fazia ideia. Tudo que passava por sua mente era descobrir a verdade sobre a modelo morta no jardim. Por isso, durante o recesso, Sophie praticamente obrigara Pedro a invadir a sede com uma das chaves reservas que possuía e roubar alguns grimórios.

Para isso, ela fez o enorme esforço de colocar nele um feitiço de proteção. Honestamente, não esperava que fosse funcionar caso Louise ou Clarice aparecessem, mas Pedro foi capaz de voltar com três compilados de magia avançada especializados em descobertas de verdades ocultas.

Assim, Sophie passava horas no quarto, durante o dia. Não precisava responder muitas perguntas aos habitantes da casa, já que Marcos e o pai estavam na loja, na maioria do dia, e a mãe, em seu salão, no centro da cidade.

Quanto mais entendia sobre os encantamentos ali escritos, perguntava-se porque, agora, a sensação de desconfiança e insegurança em relação a Marcos aparecera. Sempre havia sido avisada, tanto por Phoebe, quanto por Elizabeth, que ele não era o homem para ela, mas a paixão, a ligação que Sophie acreditava que tinham, era maior do que isso.

Então, quando finalmente encontrou o feitiço perfeito, naquela noite, o namorado e o pai ainda não tinham chegado em casa para o jantar, e Regina preparava a mesa da refeição. Sophie encarou as palavras, analisou a potencialidade e os requisitos para que pudesse performar aquele tipo de magia. Mas, deveria realmente seguir em frente? Era tudo que quisera nos últimos meses, não?

As incertezas inundaram a mente da garota, cegando-a completamente. Por um instante, ainda sentada em frente ao grimório, cogitou desistir. Precisava de alguém que lhe oferecesse um pouco de racionalidade. Com isso, pegou o celular e discou o número de um velho amigo.

— Pedro! Encontrei um feitiço que me permite ver as memórias de Marcos e quero usar também em seus pais, se Mônica estava enterrada no jardim da casa, então talvez eles também saibam alguma coisa — as palavras saíram da boca de Sophie com rapidez e sem nenhuma pausa, assim que o amigo atendeu o telefone.

— Oi!... — Sophie mal podia escutar a voz de Pedro, pelo barulho que vinha do outro lado da linha. — O quê? Sério?... Isso é ótimo, mas é arriscado. Por que não estudamos isso juntos primeiro?

— Ótimo, vamos estudar agora, onde você está? — Sophie se levantou abruptamente.

— Não posso agora — gritou ele, de onde quer que estivesse.

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