Capítulo 10 - O Grito da Banshee

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Sophie

Sophie podia escutá-los: passos pesados. Seu coração palpitou e ela cobriu a boca com uma das mãos vacilantes. Devagar, espiou pela lateral do sofá que usava para se esconder e notou que o grande cômodo continuava sob uma quietude agoniante.

Brincar de esconde-esconde com seu irmão sempre gerava nela ansiedade que comumente era usada a seu favor. Seus pais observavam, encantados, enquanto ela criava esconderijos criativos e difíceis, aumentando o nível da brincadeira. Atrás do fundo falso do armário de sua mãe, dentro da enorme mala de viagem de seu pai ou ainda no armário da cozinha.

Seu irmão gastava horas para encontrá-la. Chegava a ficar tão frustrado que desistia de brincar, por raiva. Lucas e Sophie tinham três anos de diferença e ela ainda se lembrava do dia em que sua mãe o trouxe para casa, um bebê encantador de pele impecável e lindos olhos azuis que mais tarde seriam seus artifícios de flerte mais vantajosos.

Lucas conseguia a encontrar uma ou outra vez em suas brincadeiras. Até hoje ela desconfiava que sua mãe contava a ele onde ela estava escondida para evitar que o garoto começasse uma crise de choro desesperadora. Ela sempre fingia surpresa ao ser pega, apesar de já conseguir ouvir os passos dele quando se aproximava. O barulho que fazia era alto e excitado de quem finalmente havia ganhado a partida. Era um som no qual ela podia confiar e ser capaz de sair e o abraçar logo depois de tentar convencê-lo que não sabia que estava vindo. Aquele som era completamente diferente daquele que fazia seu atual caçador.

Ele desceu as escadas violentamente. Quem quer que estivesse a caçando não parecia se importar com a delicadeza de uma surpresa, o que significava que não estavam em um jogo. Essa é uma caçada de vida ou morte.

Silêncio. Um silêncio que se alastrou por algum tempo. Foi em direção à cozinha. Essa era a chance dela.

Sophie juntou todo o fôlego e coragem que conseguiu e correu em direção à escada. Ele a ouviu imediatamente e ela pôde escutá-lo correndo para a alcançar, assim como um leão para abater a gazela.

Mas ela foi mais rápida – vantagem de ter corrido por aquela casa toda a sua infância. Ela entrou no quarto e trancou a porta atrás de si segundos antes de batidas raivosas começarem e, após, observou o cenário em que estava. O quarto de sua casa em Berkeley pareceu mais reconfortante do que eu se lembrava.

Lembrar. As batidas pararam de forma misteriosa. Ela se aproximou da porta, prendendo a respiração. Nada, nenhum sinal de que ainda estivesse ali. Foi até a cama e sentou. A sensação de conforto pareceu distante, tinha se esquecido. Mas o que tinha esquecido?

Buscou nos bolsos da calça e tudo o que encontrou foi o batom quase acabado cor cereja e seu celular. A tela estava quebrada, provavelmente por conta de toda a correria das últimas horas. Porém, em meio aos estilhaços, leu a última mensagem com dificuldade: "Estarei aí logo, beijos –M".

Marcos. Ele logo estaria ali. Sophie fitou as horas no relógio de pulso dourado e se espantou ao perceber a quantidade de tempo que perdeu. Atônita, ela se dirigiu ao guarda-roupa e jogou as peças na cama. Precisava escolher algo interessante e provocante, porém nada que Marcos já tivesse visto antes.

Depois de algum tempo, seu reflexo no espelho estava estonteante. A lingerie vermelha destacava seus seios ao mesmo tempo em que concedia certo volume à sua bunda. Marcos ficaria satisfeito. Passou sua essência de morango pelo corpo e penteou os cabelos ruivos. Em breve estariam juntos.

– Você o ama? – perguntara seu irmão em uma das poucas vezes em que ela mencionou Marcos durante as chamadas de vídeo.

Sophie ficara constrangida. Amor sempre foi algo que acreditou encontrar eventualmente. Ela se formaria na universidade, trabalharia e encontraria o homem que dividiria sua vida com ela e se casariam três anos e meio depois do primeiro encontro. A festa ocorreria no mesmo lugar em que se conheceram.

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