Sublime

105 10 0
                                    

Mantenho-me solitária à beira desse mar trancado;
De águas vazias, opacas com o gelo petrificado.
Estática, observando o horizonte enevoado suspirar;
Com pássaros negros vigiando minha alma a transbordar
.

Oh! Astro de luz, que traga-me uma esperança;
Nessa imensidão lúgubre a qual ele me deixou
Amaldiçoada pelos fantasmas da noite em dança;
Numa melodia macabra, que mais me assustou;
Perturbou. Ceifou.
E arruína-me lentamente, cada dia um pedaço.


Quem é esta criatura ao meu lado?
Um ser de esquisitas feições, de rastros cabais.
Com outra ave noturna, vigilante do meu isolado
Além de eterno sobrado na costa desta praia.


Por ele amei, e ainda dou-me por inteira.
Pois da janela do castelo de luzes âmbares,
Sei que me olhas, estarrecido, numa barreira
De ferro cretina que levou! Sugou de nossos olhares;
A vitalidade do tempo, cardíaca e obstruída.

Da colina, saio todos os dias quebrada.
Um abismo infinito.
Queria eu ser ajudada,
E ter aquela ponte enlarguecida até o espírito.
No entanto, o que vejo são sombras longínquas.
Silhuetas das quais perpassam um grito.
Profundo, desesperado.
Dos meus anseios équos.


Sinto-me fraca, anêmica.
Palideci.
E sei que uma parte se esvaiu em névoa;
Completando a nuvem chuvosa que povoa,
Meu ser, por tê-lo perdido.
Oh, meu amor.
Adoeci.


Não esquecerei, meu lorde, tuas cartas.
E lembrarei de todas as poesias
Que tu fizeste

Mas é hora de despedidas.
Com tuas asas de anjo, mesmo no acaso
Tu me protegestes.


Príncipe dos meus lares.
Cavaleiro dos meus demônios.
Artista dos meus sentimentos.


Na ausência, contudo, não consegui.
A tempestade inundou. Venceu.
E com a rosa vermelha que me destes, subo;
Cravada pelo espinho da solidão ensanguentado.


Durmo tranquila, debaixo do cemitério.

ALGAR DE DEVANEIOS (textos poéticos e crônicas) [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora