Capítulo Dezenove

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Harry Heart:

Saímos daquela casa e me senti mais livre por ter enfrentado o homem que, durante a adolescência, me causava certo medo. Agora, vejo-o como uma pessoa comum após todos esses anos. Ele não tem mais o poder de me afetar.

Os pensamentos em Milo me ajudaram a perceber que não devo temer o passado, mas sim enfrentar os desafios futuros. Não foi apenas Milo que me ajudou; a conversa com minha tia clareou minha mente.

Ela me disse que devo me impor contra qualquer pessoa que vá contra mim ou meus ideais. Ela disse isso logo após jogar as coisas do meu tio pela janela, enquanto ele não dava sinal de vida. Milo, sem entender o que estava acontecendo, apenas ajudou a jogar tudo pela janela. Jacob, vendo a cena, sugeriu que queimássemos as coisas, e a ideia o deixou animado.

Depois de organizar tudo, ficamos por ali e Milo brincava com a avó. Então, Dominic me mandou uma mensagem. Falei para Jacob, que concordou que eu fosse, e ainda me incentivou a pedir ajuda à mãe dele. Contamos a ela e, de imediato, ela ficou séria e histérica, preocupada com a possibilidade de alguém machucar os garotos mais preciosos da vida dela.

Depois de se acalmar, disse que teria uma conversa com Richard sobre trabalharem juntos. Mesmo que o assunto do divórcio demorasse a ser resolvido, nossa proteção era mais importante do que qualquer outra coisa.
Fiquei agradecido por tê-la ao meu lado, assim como meu primo. No entanto, ainda não sei o que fazer em relação ao meu tio. Sinto-me culpado, pois, se não fosse pela minha fragilidade de cinco anos atrás, eles já estariam divorciados há muito tempo, em vez de viverem infelizes e serem humilhados publicamente por aquele que deveria ser uma figura paterna para mim.

******************

De volta ao presente, sinto o calor da mão de Dominic, e isso me deixa um pouco mais calmo. Saímos para fora da mansão Rosende, ignorando os olhares curiosos dos outros convidados. Só desejo sair o mais rápido possível deste lugar, que é tóxico para Dom.

Do lado de fora, ele me aponta o carro, e entramos, onde posso finalmente respirar um pouco mais aliviado.

— Devo dizer que você foi incrivelmente foda — diz Dominic, me encarando. — Sério, o jeito que enfrentou meu pai para defender sua relação com nosso filho foi muito admirável. Nem consigo explicar em palavras.

— Não posso mais deixar que alguém desacredite que sou capaz de fazer as coisas do meu jeito — respondi calmamente. — Em cinco anos, me tornei alguém que enfrenta aqueles que tentam me diminuir e ainda querem chegar até mim usando meu filho. Aprendi isso com a vida, quando entrei na faculdade de administração e trabalhando para meus tios. Não se pode abaixar a cabeça para alguém contra nossos princípios. Um acordo deve ser justo para ambos os lados.

Dom assentiu, e olhei para seu rosto, percebendo que ele queria fazer uma pergunta.

— Pode perguntar. Sei que está curioso sobre algo em relação a mim ou até mesmo sobre Milo — falei.

— Você parece tão diferente do garoto que conheci no passado. É como se tivesse se tornado alguém que não acredita nas palavras das pessoas ou em qualquer outra coisa — disse Dominic, sem desviar o olhar. — Quero saber como foi seu tempo cuidando da sua vida enquanto estava grávido de Milo ou até mesmo depois que ele nasceu.

— Foi complicado no início, já que eu era jovem e pai de primeira viagem. Tudo era novo para mim: consultas ao médico para acompanhar minha saúde e a do bebê, dietas adequadas para a gravidez, entre outras coisas. Mas o que mais me afetava era o julgamento das pessoas por ser um pai solteiro e grávido — falei, lembrando daqueles tempos. — Eu já era criticado antes de engravidar, então por que deveria me importar com o que falavam sobre minha gravidez? Mas, depois que Milo nasceu, prometi a mim mesmo que seria forte por ele e o protegeria dos desafios do mundo. Ele trocava o dia pela noite, e foi difícil conciliar meus estudos e trabalho no início, mas meus tios, primo e amigos ajudaram bastante. Foi assim até que ele completou dois anos e eu quis ter minha própria casa.

Dominic fechou os olhos, provavelmente imaginando como foi, mas não pôde ver o que perdeu em cinco anos. Apertei sua mão, querendo mostrar que não era culpa dele.

— Como já disse, quis te ligar incontáveis vezes para falar sobre Milo — continuei, expressando nossos pensamentos. — Mas tinha tanto medo que você o recusasse ou tentasse se livrar dele e de mim.

Ele se aproximou, e nossos narizes ficaram colados. Seus olhos estavam tempestuosos e aflitos.

— Eu nunca faria isso com você ou nosso filho, Harry. Nós éramos jovens e tínhamos medos! — Dominic disse baixinho. — Você tinha medo que eu tirasse seu filho e destruísse nossa ligação, mas nunca faria isso. Não importa quantos anos passem, sempre amarei a pessoa que você é, o guerreiro que se tornou.

Olhei para ele e levei minha mão até sua bochecha, acariciando-a enquanto seus olhos se fechavam ao sentir meu toque.

— Qual era o seu medo quando éramos mais novos? — perguntei suavemente. — Você disse que ambos tínhamos medos. Qual era o seu?

Os olhos de Dominic abriram-se, agora mais calmos.

— Que meu pai tirasse você da minha vida ou tentasse contra sua vida — ele respondeu. — Esse era meu medo: que ele machucasse a pessoa que amo, aquele cujo meu coração chama a cada vez que estou acordado ou dormindo.

Ele se aproximou lentamente de mim, nossos lábios a centímetros de distância. Meu coração estava acelerado, batendo loucamente contra meu peito. Meu cérebro não conseguia raciocinar. Meus sentidos estavam focados nos olhos de Dom. Eu estava dilatando de desejo e prazer, tentando me preparar mentalmente para não enlouquecer e desmaiar.

Então, quando nossos lábios mal se colaram novamente, meu telefone começou a tocar, nos afastando um do outro rapidamente.

— Vou atender — falei, pegando o telefone do bolso e vendo que era Jacob. — O que houve com meu filho? — perguntei de imediato.

— Não aconteceu nada demais! — Jacob respondeu. — Ele só quer que você cante para ele.

Sabia que isso iria acontecer. Respirei fundo e comecei a cantar. A melodia suave e familiar fluiu de meus lábios, enchendo o carro com uma serenidade inesperada. Dominic observava em silêncio, um sorriso terno surgindo em seus lábios enquanto eu cantava para nosso filho.

Cada nota parecia aliviar a tensão acumulada, não apenas em mim, mas também em Dominic. Sentia o amor e a conexão entre nós três crescendo, atravessando qualquer obstáculo que surgisse. A canção, simples e carregada de afeto, parecia ser o remédio para todas as nossas preocupações.

Quando terminei, ouvi a voz doce de Milo do outro lado da linha:

— Boa noite, papai. Eu te amo.

— Boa noite, meu anjo. Eu também te amo — respondi, sentindo um calor confortante em meu coração.

Desliguei o telefone e voltei meu olhar para Dominic. Seus olhos brilhavam com uma mistura de amor e admiração. Ele se aproximou de novo, e desta vez, sem interrupções, nossos lábios se encontraram em um beijo profundo e apaixonado. Toda a turbulência do dia pareceu desaparecer naquele momento, deixando apenas a promessa de um futuro mais brilhante e cheio de amor.

— Que tal irmos para casa? — sugeri, com um sorriso esperançoso.

Dominic assentiu, ligando o carro. Saímos daquela propriedade, deixando para trás os olhares e os julgamentos. A noite parecia mais tranquila enquanto nos afastávamos, as luzes da cidade se refletindo nos vidros do carro.

Durante o trajeto, senti a tensão dissipar gradualmente. Dominic segurou minha mão, e senti a conexão entre nós se fortalecer ainda mais. O silêncio confortável preenchia o espaço, apenas interrompido pelo som suave do motor.

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Até a próxima 😘

A Melodia do Coração(Mpreg) | Livro 3 - Amores perdidos e encontrados Onde histórias criam vida. Descubra agora