23 de julho de 2020- Vancouver, Canadá- 3:38 a.m
1 ano. 1 ano se passou desde o pior dia da minha vida. Um dia horrível que tinha tudo para ser perfeito. Minha formatura, o momento com que toda adolescente sonha. Eu estava em um lugar incrível, com pessoas incríveis e em uma ocasião incrível. Mas bastou um deslize para que aquele dia ficasse marcado para sempre, da pior maneira possível.
Em 23 de julho de 2019, eu fui levada para um reformatório. Por que? Bom, eu não sou lá a garota mais certinha de todas. Eu traficava drogas. Não, não era por diversão e muito menos para pagar de rebelde. Eu traficava para viver. O meu pão de cada dia dependia daquele dinheiro sujo. Sujo, mas meu. Diferente de Joalin, que traficava, não por diversão, mas meio que por lazer, eu fazia esse “trabalho" para me sustentar.
Eu já havia levado algumas duras da polícia, eu era discreta, mas nesse ramo, nem toda a discrição do mundo é suficiente. O policial que me prendeu já havia deixado avisado anteriormente: a próxima vez que ele me pegasse seria para valer. E foi.
Agora estou aqui, com 17 anos, em um reformatório. Eu tinha planos. Pretendia arranjar um emprego digno, entrar em uma faculdade, morar em um lugar melhor, essas coisas “cliches"com que todo jovem sonha. Sonhos. Sonhos que hoje não passam de pensamentos distantes e impossíveis de se tronarem reais. Eu poderia ter fugido, e Joalin, minha melhor amiga que foi pega primeiro, poderia ter vindo no meu lugar. Ela nunca tinha levado duras, estava no meio há menos tempo que eu e certamente seria liberada semanas depois, afinal, além de não ser considerada “problemática”, sua pele é branca feito neve, seus pais têm boas condições e ela não tem “cara de bandida”. Ao contrário de mim, que além de estar realmente errada por estar envolvida com tráfico há anos, eu ainda sou negra e em uma sociedade estruturalmente racista, isso faz toda a diferença. Eu poderia ter deixado Joalin vir no meu lugar. Mas eu não quis. Não quis porque ela é a típica filha de ouro, o orgulho dos pais. Pais esses que nunca a perdoariam caso descobrissem o que ela faz por trás de seus olhos. Joalin tinha muito a perder. Eu não.
Mas apesar de estar relativamente conformada com a situação, penso em maneiras de sair dela. A maneira mais eficaz que encontrei foi fugir. Caso eu fuja agora, não completarei a maioridade aqui dentro e não serei levada para a prisão, posso conseguir levar uma vida honesta lá fora e quando conseguir dinheiro suficiente para me manter, uso a poupança que fiz para pagar a minha altíssima fiança.
Lembro-me de Diarra, a menina que conheci no avião e que é a coisa mais próxima de uma amiga para mim aqui dentro. Ela é a única pessoa que pode me ajudar na minha fuga. Diarra é negra, assim como eu, mas diferente de mim, vem de família rica. Seus pais controlam metade de Los Angeles. Ela veio para o reformatório comigo ano passado por tráfico de drogas também. Di fazia o tipo menina má, mas ela realmente mudou nos meses em que passou aqui. Ela passou 3 meses nesse lugar horrendo, até que o advogado de seus pais conseguiu uma liminar para soltá-la. Duas semanas atrás, ela voltou por tentativa de homícidio. Claramente, foi legítima defesa, um cara tentou estuprá-la na rua e então ela usou uma faca exposta no açougue da esquina para golpea-lo e fugir. Mas a polícia norte-americana é machista demais para entender isso. O advogado da família está reunindo provas para tirá-la daqui e certamente conseguirá fazer isso tão logo quanto possível, então preciso ser rápida. Sem me importar com o horário (maldita insônia), pego meu celular (contrabandeado por meio de uns contatos antigos) e mando uma mensagem para Diarra (que também tem um celular contrabandeado).
Any [3:44 a.m]: Diarra, preciso da sua ajuda
Para a minha sorte, ela está online e responde logo em seguida.
Diarra [3:45 a.m]: o q foi????
Any [3:45 a.m]: Preciso fugir daqui o mais rápido possível.
Diarra [3:45 a.m]: any, eu não posso
Diarra [3:45 a.m]: o advogado ta p me tirar em 3 dias, se eu fugir a pena vai ser aumentada, vc sabe como eh
Any[3:46 a.m]: Qual é Diarra, eu sei que você tem dinheiro suficiente pra subornar esse reformatório e até mesmo essa cidade inteira se você quiser.
Diarra [3:46 a.m]: esse eh o seu plano? suborno?
Diarra [3:46 a.m]: q cliche
Diarra [3:46 a.m]: eu tenho uma idéia melhor
Any [3:46 a.m]: Qual?
Diarra [3:47 a.m]: esse lugar tem 0 segurança de madrugada
Diarra [3:47 a.m]: só tem um vigia no portao, o Caleb, ele eh mais velho que as nossas avós juntas e ta smp dormindo, entao eh fácil passar por ele.
Diarra [3:47 a.m]: do lado de fora tem dois guardas que sao mais tontos que nao sei o q, eu jogo qq coisa desse lado do muro (ja q a cerca elétrica ta quebrada) e distraio eles, enquanto isso, vc ja vai ter passado pelo Caleb (q vai ta no decimo quinto sono e nao acorda de jeito nenhum) e depois voce corre o máximo que conseguir pro mais longe que der
Any [3:47 a.m]: É um bom plano, mas me parece muito arriscado, não sei se tenho coragem.
Diarra [3:48 a.m]: é extremamente arriscado e você precisa ter isso em mente. Pode dar mto errado e eu falo serio. Nao tem garantia de q vai dar certo, mas eh a sua única escolha. Se topar podemos fazer essa semana mesmo.
Diarra[3:48 a.m]: olha,eu posso te ajudar d boa, vou c a sua cara e acho q até podemos ser amigas, mas lembra q tudo nessa vida tem um preço. e se vc decidir fazer esse plano c a minha ajuda, vc fica me devendo uma e eu te cobro qdo precisar.
Diarra [3:50 a.m]: e ai? Vc topa?
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Até semana que vem, amo vcs❤
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Refúgio- Noany
Fanfiction[EM HIATUS] Mulheres, na verdade meninas, têm muitos sonhos, querem ser bem sucedidas, ter um emprego legal, algumas querem pegar todo mundo, outras querem se casar, umas querem ir morar do outro lado do mundo ou cursar a faculdade no outro hemisfér...