Refúgio- Noany

Chapter 10

Vancouver, 3 de setembro, 19:32 p.m

-Não é óbvio?Claro que ele não sabe. Você queria o que? Que eu chegasse e falasse "Oi, eu sou uma traficante e fugitiva da polícia, me abriga na sua casa, por favor"?-Falo com um tom exagerado de ironia e sarcasmo.

-Fugitiva da polícia? Elly você foi presa?-Ele pergunta com um tom acusatório e cheio de pena.

-Sim. Na minha última entrega com a Joalin, na formatura, chegou um policial que estava atrás de mim há um tempo e me levou para um reformatório aqui em Vancouver.-Ele me olha surpreso e assustado.
-Meu Deus, eu não sei o que dizer.-E então ele se joga em cima de mim num abraço reconfortante.

-Por favor, não diz nada para o Noah, eu logo vou embora, estou apenas me restabelecendo, consegui um emprego, tenho um dinheiro guardado, vou recomeçar e então eu sumo da vida dele para sempre. Só, por favor, pela amizade que você tem por mim, não conte ao Noah sobre a minha antiga vida.

-Antiga? Então pelo menos você largou tudo, certo? Agora está levando uma vida digna?

-Sim. Como eu disse, estou trabalhando, meu dinheiro é limpo. E você? Está fazendo faculdade, então presumo que também tenha largado os maus hábitos, certo? Porque eu fazia porque não tinha opção, já no seu caso era nada mais que um hobbie.

-Eu sei, e me arrependo. Estou estudando, meus pais estão pagando a faculdade, vou me formar e ser alguém digno.

-Ótimo. Aquilo que vivíamos não era vida não. Sempre tendo que nos esconder e...

-Vida que vocês levavam? Tinham que se esconder? De quem? Por que?- Puta que pariu. Olho para o lado e vejo Noah com cara de quem pede explicações e segurando três potes de sorvete com três colheres. Droga. Olho para o Krys e vejo que está tão petrificado quanto eu.

-A vida de... estudantes rebeldes que levávamos. Vivíamos nos escondendo pelos cantos da escola para fugir das aulas. Fugíamos da diretora que estava sempre atrás da gente. Coisa de adolescente levado, nada de mais.-Respondo inventando cada vírgula na hora, sempre fui boa em mentir, mas por algum motivo não me sinto bem fazendo isso com o Noah.

-Ah, entendo, eu fui um estudante bem cdf, então não sei como é isso, mas deve ser bem ruim.-Responde calmamente, às vezes tenho dó da ingenuidade dele e orgulho da sua pureza.

-Ruim, não, é horrível. Mas agora mudamos, eu me endireitei e a Elly também, somos outras pessoas.-Diz Kriss, me passando muitas mensagens quase subliminares implícitas na fala.

                                  [...]

São quase 21:00, Krys acabou de ir embora, Noah foi tomar banho e eu estou aqui, no sofá, pensando no giro de 360 graus que a minha vida deu em tão pouco tempo. O mais estranho é que eu gosto de estar com Noah, gosto de viver como se a vida fosse fácil. Eu sei que ela não é, mas ele faz com que pareça. Querendo me livrar desses pensamentos sem sentido, me levanto e vou em direção ao meu quarto, quando vejo Noah saindo de toalha do banheiro. Aí, que calor. Qual a dificuldade desse deus grego, digo, do Noah, de sair vestido do banho?

-Ei, que tal continuarmos de onde paramos?- Levo um susto quando ele diz isso e subitamente sinto sua boca mordendo o lóbulo da minha orelha. Porcaria de desejo.

-Noah...É...Eu acho melhor não.-Digo quase contra a minha vontade e meu corpo evidencia isso.-Sabe, o Kriss chegou e acho que foi meio um sinal dizendo que não deveríamos exceder os limites.

-Como assim, Any? Horas atrás você estava quase explodindo de desejo por mim naquela cozinha. Deus sabe onde poderíamos ter parado e se teríamos parado caso o Kriss não tivesse chegado.

-Exatamente. Eu sei pegar sem me apegar, não sou uma das princesinhas com que você deve estar acostumado. Sei separar amor de desejo, mas não sei se você sabe e se sabe eu não sei até que ponto. Não vou te usar. Te desejo e não vou mentir, mas não tenho o direito de fazer você acreditar que quando acordar de manhã, eu estarei te esperando com um café na cama. Não vou te iludir, me importo demais com você para isso. -A última parte digo quase em um sussurro, como se fosse um segredo.

-Any...Eu...Eu não quero que você pense que isso é mais do que é. Isso é desejo e nada mais. Somos maduros o suficiente pra saber separar amor de desejo. Quero você. Mas não acho que isso precise ser algo tão rotineiro, tão banal. Não precisa fugir da minha cama de manhã. Finge que gosta de mim. Mesmo que por uma noite. A gente finge que se ama pra deixar tudo mais gostoso. Fingimos que nos conhecemos bem, fingimos que não escondemos segredos um do outro, que não estamos quebrados, machucados. Vamos fingir. Se tudo der errado, a gente sai do papel, encerra o teatro e finge que nada aconteceu, segue com a vida. Mas, por favor, Any Gabrielly, não haja como se não estivesse acontecendo nada aqui. Nós soltamos faíscas latentes só de estarmos assim, próximos. Finja, Any. Atue. Tente. se não der certo, deixamos para lá e nada muda. Dê uma chance para nós mesmo que de mentira.-Ele fala sensualmente enquanto passa as mãos pelo meu pescoço e o beija aos poucos.

-Preciso pensar.

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Oi galera