Seis - Sobre toques e conversas.

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Os dias no interior de Gusu passam com uma calmaria que Wei WuXian nunca havia experimentado em sua vida. Ele já estava muito acostumado à intensidade e rapidez da cidade, então havia sido necessário algum tempo para que WuXian se adaptasse à lentidão daquele novo local. Depois de várias semanas, o rapaz já consegue até apreciar o tempo livre que tem e desconfia que o estranho agora seria a correria da cidade.

Uma rotina confortável havia se instalado na vida de Wei WuXian e, para a surpresa dele próprio, ter horários certos para fazer suas coisas e compromissos para atender já não o irrita mais como antes. Pelo contrário, ele se sente útil. WuXian sente que finalmente está fazendo algo certo quando acorda e se prepara para trabalhar, para conversar com SiZhui – ele nem acredita que uma criança de sete anos havia se tornado sua nova amizade – e para ajudar no que pudesse na residência Lan.

Além disso, os dias de Wei WuXian haviam se tornado muito mais satisfatórios depois daquela carona que Lan WangJi lhe deu pelo fato de que isso continua se repetindo diariamente. Mesmo quando Lan XiChen está disponível para levá-lo até a cidade de carro, WangJi oferece carona na sua simples bicicleta azul e Wei WuXian, que não é bobo nem nada, sempre aceita de muito bom grado.

Isso acontece até um ponto em que nenhum dos envolvidos fala mais nada – nem mesmo Lan XiChen, que havia desistido de oferecer carona para evitar ser rejeitado educadamente como sempre acontecia, e agora apenas observa Lan WangJi e Wei WuXian subirem na bicicleta com um sorrisinho no rosto. Irem juntos até a cidade já havia se tornado parte da rotina daqueles dois e eles a cumprem com avidez.

É por isso que Wei WuXian se sente levemente culpado quando o horário de ir embora chega e ele ainda está dentro da escola. Lan WangJi, pontual do jeito que é, já deve estar o esperando do lado de fora. Mas há uma razão plausível para seu atraso.

— Ai! — SiZhui exclama quando a enfermeira da escola espirra um remédio para ferimentos em seu pequeno joelho. Wei WuXian está ao lado da maca onde o menino está sentado reclamando sobre a ardência do remédio. Mesmo sabendo que a reação de SiZhui para um simples joelho ralado está sendo exagerada, WuXian não consegue evitar e leva uma de suas mãos ao ombro do garoto para reconfortá-lo.

Há algumas semanas, uma cena como essas seria impossível de acontecer na vida de Wei WuXian, mas sua visão sobre as crianças havia mudado bastante desde que conheceu SiZhui. O menino é tão desastrado – e tão divertido – que faz WuXian ter vontade de protegê-lo a qualquer custo. E, pelo visto, seu trabalho está sendo bem feito, pois desde que se tornou "amigo" de SiZhui nenhum daqueles outros meninos havia tentado humilhá-lo.

— Prontinho! — A enfermeira diz com um sorriso no rosto depois de colocar um curativo na pele machucada de SiZhui, que faz um biquinho emburrado e desce da maca com a ajuda de Wei WuXian.

Depois de agradecerem à mulher, adulto e criança saem da enfermaria rindo da tentativa de Wei WuXian de imitar um SiZhui emburrado por ter ralado o joelho depois de um tropeço no corredor da escola.

— Olhe, sua avó chegou. — No pátio da escola, Wei WuXian avisa para o menino apontando para o portão, onde uma senhora de feições parecidas com a de SiZhui está prostrada, e aparentemente preocupada com o neto.

Ao ver sua avó, SiZhui se esquece completamente da irritação por ter se machucado e sorri abertamente. Com pressa, ele se despede de Wei WuXian em um abraço rápido e corre em direção à senhora, ignorando o fato de ter um joelho ralado.

Rindo das ações de SiZhui, Wei WuXian pega seus pertences no armário e caminha até o portão de saída do local. O coração do rapaz já se acelera um pouco só por saber que Lan WangJi estaria bem ali, em frente à escola – provavelmente afastado da multidão de responsáveis que aparecem naquele horário para buscar as crianças –, esperando por ele com sua bicicleta azul e uma expressão intrigada pelo atraso de WuXian.

surrender | wangxianOnde histórias criam vida. Descubra agora