Quatro - Sobre explosões e companhias.

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Algo peculiar sobre se acostumar a morar na cidade grande é que você também se acostuma à movimentação ininterrupta dela. A correria do dia a dia faz as pessoas não terem tempo nem de organizarem os seus próprios pensamentos, e Wei WuXian gosta disso. Ele gosta porque assim não tem tempo para parar e pensar no que passa pela sua própria cabeça. Consequentemente, WuXian pode ignorar os seus problemas até não suportar mais e explodir.

Mas a história é completamente diferente na residência Lan. Rodeado por árvores e animais, sem internet e acompanhado de pessoas que não o conhecem tão bem, Wei WuXian não consegue evitar o rumo pelo qual sua mente o leva de vez em quando. Muitas vezes, ele se pega pensando em tudo o que havia feito naqueles últimos anos, em todas as palavras duras que havia escutado de Madame Yu e em todas as vezes que havia visto a expressão desapontada na face de Jiang FengMian.

Se estivesse na cidade, Wei WuXian provavelmente já haveria esquecido de tudo isso com álcool, barzinhos, muros em branco, saídas com pessoas que nem podem ser consideradas muito próximas de si e flertes que nunca levam a algo mais. Quando pensa muito sobre isso, WuXian acaba se perguntando se sua vida não é mesmo uma grande piada.

E isso tudo piora quando o verdadeiro trabalho comunitário começa.

Na semana seguinte a sua chegada à residência Lan, Wei WuXian é chamado pela justiça para começar a prestar seu serviço na prefeitura do interior de Gusu. Enquanto está na casa dos Lan, ele ainda consegue se manter mais são ao olhar para o rosto de Lan WangJi – mesmo que o rapaz nunca fale muita coisa–, pois apenas olhá-lo faz uma calma surgir no peito de WuXian. Porém, todos os dias, depois que pega a sua carona para a cidade no carro de Lan XiChen e chega à prefeitura, o rapaz sente que sua sanidade está por um fio.

— Eu pedi café com adoçante, não açúcar. — A assessora do prefeito da cidadezinha diz para Wei WuXian no sétimo dia de serviço comunitário do rapaz.

A mulher está sentada em uma cadeira de frente para a sua mesa enquanto Wei WuXian está no lado oposto à ela segurando a bandeja vazia com a qual havia trazido o café. Uma expressão de desdém se encontra na face já meio enojada da assessora e WuXian sabe que se ela estivesse em pé provavelmente teria o seu nariz levantado para o rapaz, olhando-o de cima como se fosse superior a ele.

Wei WuXian precisa respirar fundo antes de respondê-la: — Perdão. Posso buscar outro para a senhorita. — Ele diz educadamente.

Ao ouvir isso, a assessora revira os olhos e solta uma risada que soa tão desdenhosa quanto a sua expressão nesse momento. Ela coloca a xícara com café sem qualquer cerimônia de volta à bandeja, fazendo um pouco do líquido quente ser espirrado sobre os braços descobertos e tatuados de Wei WuXian, que recua levemente com a sensação da súbita quentura em sua pele.

— Deixa pra lá, não quero mais café. — A mulher diz com um deboche escancarado em seu tom de voz, fazendo um gesto para que Wei WuXian saia de sua sala.

De onde está, Wei WuXian consegue ouvir algumas risadinhas baixas vindas dos colegas de trabalho da mulher que estão espalhados pelo compartimento. Ele olha ao redor e vê essas mesmas pessoas tapando a boca com as mãos e tentando esconder o quão engraçada aquela cena é para elas.

Wei WuXian precisa contar de um até dez para tentar se acalmar, pelo menos até que saia dali e possa xingar todas as pessoas daquela sala.

Da forma mais educada possível, Wei WuXian havia passado seus últimos sete dias indo e vindo pelo prédio da prefeitura, buscando coisas para todos ali, fazendo favores para quem lhe pedisse e havia até cortado a grama de todos os arredores do local. Durante todos aqueles dias, ele havia tentado avidamente ignorar os olhares e palavras maléficas das pessoas que trabalham ali.

surrender | wangxianOnde histórias criam vida. Descubra agora