Cinco - Sobre caronas e abraços.

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O resto das semanas de serviço comunitário na prefeitura passam rapidamente para Wei WuXian. Felizmente, nenhuma das pessoas que o humilharam naquele fatídico dia havia decidido contar à justiça sobre seu surto de raiva e ele espera que a razão para isso tenha sido porque eles perceberam o quão errados estavam. Mas WuXian duvida muito de que esse seja o caso.

Wei WuXian tenta manter o máximo de sua sanidade naquele lugar e continua a fazer o seu trabalho com avidez, ignorando os olhares de julgamento e as fofocas maliciosas e sem sentido que surgem sobre ele. Em qualquer outra situação, WuXian já teria resolvido isso com um bate-boca intenso, mas ele tem noção da posição em que está. Ele sabe que não pode arriscar que sua pena seja aumentada, ou pior, trocada para a restrição de sua liberdade.

Mesmo que nenhum outro incidente tenha ocorrido depois daquele com a bandeja e o café, Wei WuXian sente o corpo ficar mais leve quando seu tempo na prefeitura acaba. Ele logo seria chamado para outra instituição na cidade, mas não ter mais que olhar para a cara daquela assessora já é bastante reconfortante.

No entanto, quando Wei WuXian é informado de que irá trabalhar em uma escola, seu corpo inteiro fica tenso mais uma vez. Ele nunca havia se dado muito bem com crianças – nem mesmo quando ele próprio era uma. Na sua cabeça, crianças são malvadas.

Num estado de consciência misturada com sono, Wei WuXian levanta meio tonto da cama com o barulho de seu despertador. Para a alegria dele, o canto do galo não mais o acorda diariamente como acontecia no começo de sua estadia e WuXian se pergunta se não está ficando muito acostumado com essa vida rural.

Quando está prestes a entrar no banheiro e se preparar para o primeiro dia de trabalho na escola, Wei WuXian ouve duas batidas delicadas em sua porta. Sem pensar muito no seu estado – ainda de pijama, cabelo bagunçado e cara inchada depois de uma boa noite de sono –, WuXian caminha até a porta e a abre.

Nesse momento, Wei WuXian percebe que realmente deveria ter pensado melhor antes de simplesmente abrir aquela porta.

Lan WangJi está ali em sua frente, já todo arrumado perfeitamente para um novo dia – tão belo, como sempre. Com a postura perfeita, ele olha surpreso para Wei WuXian e fica calado por vários segundos. Seus olhos se revezam entre cada canto do rosto de WuXian e, curiosamente, param por um bom tempo sobre os lábios inchados dele. Um brilho diferente toma conta daqueles olhos dourados.

Por outro lado, Wei WuXian aperta a maçaneta da porta com força e tem vontade de sair correndo pela casa até chegar na floresta ao lado e se esconder no meio das árvores. Envergonhado, WuXian não consegue parar de pensar no quão inchada e sonolenta a sua face está agora, querendo que um buraco se abra no chão para que ele possa se esconder do olhar profundo de Lan WangJi.

— Lan Zhan... — Wei WuXian murmura a primeira coisa que vem à sua cabeça. — Bom dia. Aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta depois de se recompor. Olhar para Lan WangJi em qualquer momento do dia sempre é algo que o deixa muito balançado.

Ao ouvir a voz de Wei WuXian quebrando o silêncio que havia se instalado entre os dois, Lan WangJi parece sair de um transe. Os olhos claros com as pupilas dilatadas se desviam da boca de WuXian e ele limpa a garganta, parecendo levemente perdido, como se estivesse tentando se lembrar do que havia ido fazer ali.

— Bom dia, Wei WuXian. — Lan WangJi cumprimenta, sua expressão solene e indecifrável voltando aos poucos. — Vim avisar que XiChen precisou sair mais cedo, então não poderá lhe dar carona.

Surpreso, Wei WuXian arregala levemente os olhos e não consegue evitar o bico que surge em sua boca, como um cachorrinho confuso depois de se perder. Ele olha perdido para Lan WangJi e pergunta: — E agora? Como chego à cidade?

surrender | wangxianOnde histórias criam vida. Descubra agora