•Diferentes e tão Iguais•

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Anne finalmente fugira de Cole e Diana, os dois amigos não paravam de comentar da pequena loucura que tinha sido a aula: Gilbert Blythe queria ficar do lado deles. A cada comentário sonhador só fazia o estômago da ruiva embrulhar ainda mais. Nunca guardara um segredo dos amigos, e na verdade pensava em contar da madrugada que passara com o Blythe, mas como poderia agora sabendo que passaria o resto da semana os quatro juntos? Cole e Diana não são do tipo que sabem disfarçar bem uma situação.

Ela parou no banheiro entre a próxima aula e ficou se encarando no espelho. Parecia tão vulnerável e assustada, se perguntava onde havia ido parar a menina forte e indestrutível.

"Você afasta as pessoas com medo de sofrer... como sofreu pelos seus pai"

A voz suave de Gilbert a consumia, a despia de formas mais íntima do que qualquer roupa.

Ele a viu como ninguém viu. E isso a assustava.

Ela nunca foi forte de verdade; era tudo fachada. Como a todas as pessoas que julgava.

Como se estivessem ligadas por pensamento, Anne vê pelo reflexo os cabelos loiros e impecáveis de Josie entrar no banheiro. Josie sabia que Anne estava ali, sozinha, e foi propositalmente lá.

As duas se encaravam de forma intensa, uma de frente a outra.

-Eu sei que foi vocês. – ela comenta. Anne parece confusa, sem entender o que ela quis dizer, mas Josie alisa as sobrancelhas e abre um sorrisinho presunçoso que faz o coração de Anne acelerar. Se Josie abrisse a boca seria o fim de Gilbert.

A ruiva apenas fica encarando Josie e começa a pensar em meio ao seu desespero. Fazia quase uma semana, ela teve todo tempo do mundo e não contou.

-Porque não contou? – Anne murmura cruzando os braços e se aproximando.

-Porque você não contou? – a loira faz o mesmo, desafiando Anne.

Porque Anne não arruinara toda a vida de Josie Pye? Esse era o impasse. A loira esperou isso acontecer para revidar e contar a verdade sobre Billy e se sentir vingada, mas nada veio. E essa pergunta a martelava dia após dia.

-Fazemos o que é necessário para sobreviver. – comentou a ruiva vendo a si própria. – Não cabe a mim e nem a ninguém julgar a realidade do outro.

Josie fica muda, enquanto digere as palavras de Anne. Ela não tinha intenções de prejudicar Josie, além disse não a julgava e não a humilharia por ser pobre e passar uma imagem de menina rica.

-Mas acho que você merecia mais. – Anne murmura e então Josie sorri.

-Ele é um idiota mesmo. – ela concorda. – Mas uma parte minha se considera idiota também, por isso devo ter me acostumado fácil a ele. – ela confessa e as duas se encaram

Tão diferentes, mas tão iguais.

Um sorriso não deixa de surgir ali entre as duas.

-Queria realmente saber o que fez para cativar o Blythe. A Ruby tá há dois anos tentando. – Josie sorrir. – Admito que até eu, ele era a minha primeira opção, mas ele era bom demais para mim.

-Não diga isso. – Anne reprova sua frase autodepreciativa, fazendo Josie sorrir.

-Certo, eu tenho que ir. – a loira murmura e Anne assente.

-Boa sorte, Josie.

-Boa sorte, Shirley.





O resto do dia, Josie passou rindo e vivendo seu faz de contas como líder de torcida, abraçada aos braços de um dos melhores jogadores e um dos mais temidos garotos do colégio, com as amigas mais lindas e desejadas daquele lugar. Mas quando podia, seu olhar cruzava com o de Anne. Seja pelo corredor, seja numa aula, seja no bebedouro.

Elas se encaravam por um segundo ou dois, e voltavam suas vidas. Josie insultaria Anne, mas ficaria tranquila porque a ruiva saberia que não era verdadeiramente sincero.

Ela enfrentava também Gilebrt Blythe. Era estranho saber quando os outros sabem de suas farsas, mas ela também sabia dos dele, então eles se olhavam e eram os únicos que realmente se viam.

Ela queria falar com ele, realmente colocar para fora a verdade que transpassava o olhar, mas ela ainda não tinha coragem. Ela observava Gilbert olhar Anne e até entendia o jeito suave do rapaz perto dos esquisitos amigos dela. Ela mesma se pagava imaginando como seria ter amigos de verdade, ter pessoas que se preocupam com ela. Se ela tem comida em casa para dar a sua irmã caçula e a mãe com depressão, se ela estava indo bem nas matérias ao invés de alguém que comenta se ela engordou um quilo ou está com olheiras demais. Ela chegava a esboçar um sorriso, mas olhava a sua volta, as pessoas de plástico e erguia o rosto, ela precisava disso. Não tinha chances de uma vida melhor.

Não era inteligente como Gilbert ou Anne.

Talvez ela fosse tão ruim ou pior do que aquelas pessoas que a cercavam.

Ela com certeza era pior.

Enquanto estavam no almoço, ela viu o rapaz admirar Anne e sentiu seu coração compadecer. Pensava se um dia se apaixonasse por alguém fora daquela pequena jaula enfeitada. Não, não seria possível. Ela sofreria muito.

Ela não podia ser inteligente, mas era esperta. Gilbert não era o melhor amigo do Billy por acaso. Os Andrews eram extremamente conceituados, o pai de Billy era amigo de infância de um dos diretores da Universidade de Alberta: um telefonema e Gilbert estava dentro com uma bolsa de estudos.

Billy jamais admitiria seu melhor amigo namorar uma bastarda, uma amiga de um cara gay.

Gilbert finalmente desviou sua atenção de Anne e olhou Josie. Ela sustentou o olhar e os dois se falaram pelo olhar e Josie lamentou, o rapaz não iria desistir de Anne; isso a deixou feliz, porque Anne deveria valer a pena para ele, mas qual seria o preço disso?



Continua...

𝘼𝙎𝙉 || 𝙎𝙝𝙞𝙧𝙗𝙚𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora