•Um Monstro•

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Diana fechou a porta e tudo se tornou tão silencioso, tão carregado e intenso. Os dois ficaram quietos algum tempo, sem saber ao certo como começar isso.

Gilbert queria fazer Anne lhe dar uma chance.

Anne queria que ele se afastasse.

-Porque está fazendo tudo isso? – Anne murmurou alguns segundos depois. Gilbert se aproximou mais perto dela da cama e ergueu o rosto da menina que teimava a olhar para o chão ao invés dele.

-Anne, eu já disse, antes de você fugir! Não quero desistir disso que a gente tem.

-E o quê exatamente a gente tem, Gilbert? Foi apenas uma noite divertida, só isso. Você, mais do que eu, mais do que qualquer um, está acostumado com uma noite divertida. – Anne revira os olhos e suspira irritada por se ver tão vulnerável.

-Me dê uma chance para mostrar que é diferente. É tudo diferente com você. – o rapaz garante. – O que eu sinto, como agora, olhando para você... é algo fora do comum.

-Já parou para pensar que talvez seja só seu desejo de ter algo que até então não conquistou? Assim como todas as outras?

Anne ameaça levantar, mas Gilbert segura suas mãos. A menina se inclina com a puxada, ficando de frente a ele, perto demais dele... os olhos do rapaz estavam um verde escuro, quase mel. Seus lábios entreabertos enquanto respirava de forma mais intensa que o normal convidava a menina para seu desejo mais íntimo.

-Não faça isso. Não faça eu me apaixonar por você, não faça meus amigos se abrirem para você para parti-los depois. Mexer comigo tudo bem, mas jamais te perdoarei se os machucar.

-Eu sei. – Gilbert confirma. – Eles são bons, e eu realmente gosto deles. Não acho justo terem uma parte importante da vida deles arrancadas por medo. Eu não quero mais ter medo também.

-Você não tem medo, nunca teve. Não é atoa que invadimos uma casa. Você é esperto, sabe o que precisa fazer. Você precisa entrar para faculdade, porque é brilhante demais para ficar em Avonlea. Não fez nada disso por medo. 

-Eu vou dar um jeito.

-Não, não vai. Se pudesse dar um jeito não teria se submetido a uma vida que não é sua.

Anne respira fundo, criando coragem para algo que a machucaria para sempre, para algo cruel. Mas Gilbert a olhava determinado, ela tinha que acabar com aquilo agora. E teria que ser daquele jeito.

-Eu não gosto de você, Gilbert. Você é apenas um cara legal. Eu não sinto atração nenhuma por você, é cômico pensar que teríamos algo. – ela diz e então se levanta.

O rapaz pisca algumas vezes, desnorteado, enquanto digere as palavras frias e cruéis de Anne. Ele tinha que odiá-la para se manter afastado, para não machucar seus amigos.

-Não me procure, estou tentando ser gentil porque machuquei sua perna, mas é só isso. Eu não quero nada com você.

Gilbert encara Anne e sente seu coração se despedaçar em milhões e milhões de pedaços. Abre a boca diversas vezes, mas era incapaz de dizer algo. Sua voz havia sumido, se perdido pelo ar, como toda a felicidade que um dia, pareceu habitar seu corpo.

Não havia mais nada ali.

Então a porta do quarto se abre e Matthew surge de forma tímida. Ele vê o rapaz sentado a cama, petrificado. E Anne em pé, encarando-o de forma dura.

-Ah, desculpa, mas seu pai chegou, Gilbert.

-Claro, obrigado senhor Cuthbert. – murmurou o rapaz com a voz falha.

𝘼𝙎𝙉 || 𝙎𝙝𝙞𝙧𝙗𝙚𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora