•Vida Plástica•

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            Obviamente o time de basquete sem camisa e um monte de meninas de mini saia atraiu um número um tanto promissor de clientes. Não só entre os alunos, mas entre os moradores do bairro, e até quando os professores souberam, eles mesmo foram ajudar e lavaram seus carros lá. No fim do dia, Anne havia contabilizado o que geralmente sua turma juntava o semestre inteiro para o jornal da escola. Óbvio que as despesas com o time eram maiores, mas ela sentiu que haviam dado um grande passo; e um passo certo.

Ela olhava Gilbert pelo canto e não parava de sorrir como uma boba apaixonada. Ele era tão lindo, e tinha uma alma tão bonita. Como dera sorte!

-Conseguimos, pessoal! – declarou Cole largando os panos e sentando juntos com o pessoal no chão do estacionamento, completamente exaustos.

-Cole, você é bem ágil, já pensou em entrar no time? – comentou Jason, um dos jogadores.

-Real. Você é bem alto também. – comentou outro jogador.

Cole pareceu surpreso com o comentário e sorriu, nunca achou que estaria ali, interagindo com o time de basquete ou com garotos populares.

-Eu sou mais da área das artes, mas obrigado... de verdade.

Cole sorriu para aqueles garotos e sentiu seu coração se aquecer. Eles não pensaram um instante que talvez a sexualidade do rapaz pudesse ser um empecilho, e nem o trataram diferente por isso. Isso, para Cole, já bastava.


-Bom, eu já vou indo. – comentou Ruby se levantando quando as meninas da torcida terminaram de pegar suas coisas.

-Já vai? – disse Josie indo até ela.

-Sim. Achei legal isso, mas sabe... eles são os nerds. Não fica muito legal ficar muito tempo com eles. – disse a menina olhando pelo canto Cole rindo de alguma piada da Tillie e da Anne.

-Eles são legal, Ruby. Dê uma chance...

-Eu não duvido que sejam, olha o que fizeram! Mas... acho que consegue entender. – Ruby abriu um sorriso sem jeito.

Sim, Josie entendia.


A mãe de Ruby investiu para que a filha fosse popular, comprou roupas, investiu na ginástica desde que ela era nova; Ruby odiava ser da torcida. Não era exatamente sua vida, era a vida que a mãe dela não pôde viver.

A mãe de Ruby também tinha sido popular, mas tudo mudou quando o pai dela havia perdido o emprego e teriam que se mudar para um lugar mais humilde, na época a mãe de Ruby estava paquerando um homem mais velho e teve que pensar e agir rápido.

A senhora Gillis era nova, tinha uma beleza renascentista com seus cabelos dourados e olhos azuis acinzentados, mas para garantir um futuro para si engravidara de Ruby e casou com um dos homens de vida legal no bairro. Ela conseguiu terminar a escola um mês antes de dar a luz a Ruby e aí virou a mulher de boa família.

Ruby diz que a ela nunca se arrependeu, ela dizia que não teria um futuro muito melhor. Ela era até inteligente, mas mesmo com as bolsas, jamais os pais conseguiriam pagar uma faculdade. Acabaria sendo um vendedora de lojas de móveis no shopping, no fim das contas, hoje tem uma família linda e estabilidade.

Uma vida ideal.

-Nos vemos amanhã no treino? – disse Ruby.

-Até amanhã. – Josie sorriu e deu um rápido abraço na amiga antes dela partir.

Ruby chegou em casa e soltou um suspiro pesado. Que dia louco! Como pôde estar do lado de pessoas que jamais imaginara. Mas não foi ruim.

-Ruby? – a menina acorda ao ouvir ser chamada na sala de estar.

Em frente a lareira o pai estava em sua poltrona lendo um livro grosso e antigo.

-Oi, papai.

-Como foi a escola?

-Foi bem, hoje fizemos uma gincana para arrecadar fundos.

-A escola está falindo? Já disse para sua mãe largar os laços sentimentais por aquela escola e te transferir para a escola para moças em Toronto, onde moças de boa família são mais bem vistas.

-Estou no último ano, papai. Não posso sair agora e... foi legal.

-Não quero minha filha se misturando com essas esmolas sociais. Ouviu? Foque para ter notas decentes, já vi com o diretor da Toronto University as mensalidade de sua faculdade.

-Só estava tentando aproveitar um pouco, papai. Mas não se repetirá. – a menina abre um sorriso doce e sobe para o quarto.

Enquanto subia ouviu o som na sala de ginástica de sua mãe. A mulher passava o dia todo lá, só saia nos horários de refeição ou para ir ao shopping. Acho que era bom para todos. Seu pai já estava impaciente com a mulher e ela não gostava de conversar com ele também, isso evitava que Ruby ficasse entre o clima estranho entre os dois.

Pensou em ir comentar sobre a escola, mas a mãe só pensaria se Ruby havia sido galanteada por algum rapaz bonito, ou se tivesse se destacado no treino... o resto era besteira.

Ruby se trancou no quarto e tirou o casaquinho. Ela se olhou no espelho e contemplou o uniforme que ainda a pertencia. Foi tão estranho não usá-lo pela manhã, era como se fosse errado, mas estranhamento sentia-se mais ela mesma sem ele.

Porque aquele uniforme fazia parte de uma Ruby que construíram para ela. Ruby não saberia dizer quem realmente era e pensar isso a assustava.

Tentando não pensar nisso, colocando sempre na cabeça de que era o melhor para si, foi até a mochila para tirar os cadernos de lá. Ficou surpresa ao ver um bilhetinho que havia sido jogado lá dentro.


"Obrigada por hoje. Não que faça diferente, mas foi bom finalmente conhece-la melhor! Sua ajuda fez toda a diferença.

Anne."


Ruby de início estranhou, mas depois se pegou abrindo um sorriso e sentindo algo estranho. Não que desejasse ser amiga da ruiva esquisita que roubara o amor de sua vida, mas admitia que havia uma certa verdade em suas palavras e em seus gestos que Ruby há muito não sentia em sua vida plástica.


Talvez se tudo fosse diferente, poderiam se dar bem.


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Continua...

𝘼𝙎𝙉 || 𝙎𝙝𝙞𝙧𝙗𝙚𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora