•Josie Pye•

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Gilbert estacionou o carro em frente a um prédio um tanto duvidoso em uma parte distante do bairro. Ele olhou de forma preocupada para Anne, mas não sabia ao certo o que falar.

-Quer que eu espere por você aqui? – perguntou o rapaz preocupado.

-Fica tranquilo. A Josie anda todo dia esse lugar. – comentou Anne de forma determinada. – Agradeço a carona, quando eu for embora o Cole vai estar saindo do cinema com a Diana e eu vou embora com eles.

-Certo... – concordou Gilbert, mesmo que não estivesse exatamente confortável em deixar Anne ali. – Qualquer coisa me liga que eu venho correndo.

Anne esboçou um sorriso e se aproximou beijando de forma suave os lábios do rapaz. O toque gentil e carinho desarmou Gilbert que puxou Anne para mais perto de si.

-Eu aviso assim que chegar em casa. – Prometeu Anne e sorriu antes de pegar a mochila e sair do carro do rapaz.

Ela subiu a escadinha e tocou a campainha do andar indicado, 303B. Um som estridente e rouco soou e Anne pôde ouvir latidos de cachorro num andar e em outro alguém resmungando. Os sons do prédio não eram muito isolados, então Anne soube quando alguém desceu as escadas para recebe-la lá embaixo.

Josie abriu a porta e deu um sorriso sem jeito a Anne. Ela viu Gilbert dentro do carro e acenou para ele e quando o rapaz viu que Anne estava em segurança foi embora.

-Oi, chegou no horário. – comentou Josie com um sorriso meio forçado enquanto deu espaço para Anne entrar.

Ela olhou a escada velha e tudo no prédio parecia aos pedaços. Elas subiram uns três lances de escada e Anne viu nesse meio tempo, três crianças desnutridas e sujas brincando no corredor do primeiro andar, no segundo andar um velhinho tentando limpar um tapete gastos e no terceiro andar uma mulher gritando com algum marido bêbado.

Josie tentava se apressar em abrir a porta do seu apartamento, mas quanto mais nervosa ficava, mais parecia difícil. Nunca trouxe nenhum amigo, ninguém da escola, ninguém da sua idade até sua casa. Ela não sabia como agir, nem sabia como se portar.

-Fica a vontade. – ela comentou deixando as chaves numa mesinha na cozinha.

Anne olhou rapidamente o apartamento de Josie. A primeira coisa que reparou é que era bem pequeno, escuro e abafado. A janela praticamente dava para a parede de algum outro prédio, então não tinha luz solar ali, muito menos corrente de vento fresca. Havia um sofá gasto e uma TV bem antiga, e apenas a mesinha dividia para a cozinha com uma geladeira velha e um fogão com bocas faltando. Tudo muito perto, muito apertado. A segunda coisa foi a menininha sentada no sofá tentando fazer algum dever de casa, a roupinha ainda da escola. A menina olhou Anne e sorriu.

-Oi! – ela comentou largando o livro e pulando em frente da Anne. – Você é amiga da Josie? Josie, sua amiga é tão bonita! Queria ter cabelos vermelhos, eu seria tão mais bonita!

-Minnie May, fica calma. Vai tomar banho e depois terminamos o dever.

-Que legal, eu achei que a Josie nunca ia me mostrar uma amiga dela. – comentou a criança de forma tímida e correu para dentro de uma portinha que devia ser o banheiro.

-Não liga para ela. – comentou Josie e tirou pegou os cadernos e os colocou em cima da mesa da cozinha. – Quer uma água?

-Não, estou bem. Vamos lá! – comentou Anne, focada naquilo que a trouxe ali, os estudos de Josie.

As duas sentaram-se a mesa e Anne começou a ensinar matemática básica para tornar tudo mais fácil para Josie. As duas se envolveram e Anne ficou feliz de ver que Josie estava realmente determinada a aprender, mesmo que parecesse muito difícil.

Depois de quase duas horas, Josie sentiu que isso poderia dar certo. Passou tão rápido e até que matemática não era tão ruim quando explicada do jeito imaginativo e romântico de Anne.

-Josie... – as duas meninas ouviram alguém chamar.

Anne reparou ser uma voz falha, fraca e doente. Josie sorriu e se levantou indo ao pequeno corredor onde tinha uma porta e a abriu. Anne ouviu tosses fortes, uma tosse que doía só de ouvir. Josie demorou alguns minutos e pessoas passos a menina estava tentando ajudar a mãe.

Anne levantou e achou melhor ir ver se precisava de ajuda. A ruiva viu a mulher num quarto minúsculo, onde uma mulher de aparência acabada e cabeços que deveria ser loiros estavam quase todos brancos. Minnie May estava deitada ao lado e Anne viu um colchonete no chão, onde talvez Josie dormia.

Josie procurava algum remédio numa caixinha e ficou surpresa ao ver Anne ali. Ela ia pedir para a menina esperava na sala, mas Anne mostrou um copo de água e Josie aceitou agradecendo e dando a mãe junto com o remédio.

-Que menina bonita, Josie... – comentou a mulher com certo esforço. A voz esganiçada e gasta, e depois da frase se sucedeu diversos tossidos.

-Repouse, mãe. -pediu a menina.

Quando Anne e Josie voltaram para a sala, havia um certo constrangimento. Josie estava sem graça, mas ao mesmo tempo estava agradecida por Anne não julgar.

-Minnie May não para de falar de você. – comentou Josie sorrindo.

-Elas são lindas, Josie.

Josie sorriu e ficou um pouco deprimida. As duas ficaram em silencio antes de Josie voltar a dizer.

-Queria tanto fazer mais por ela... Espero tanto que eu consiga passar. – murmurou a menina.

-Vai sim.

Nesse momento o celular de Anne vibra e é uma mensagem de Diana avisando que já estavam chegando.

-Está na minha hora.

-Certo...

Anne começou a guardar as coisas e viu o desconforte de Josie.

-Gostei muito de ter conhecido elas. São adoráveis.

Josie abriu um sorriso, realmente feliz com o comentário e Anne viu o carinho da menina pela mãe e irmã.

-Sabe Josie, quem for seu amigo mesmo, não vai ligar de onde você vem, mas sim que você é. – comentou Anne já a porta. – Nos vemos amanhã.

Anne ia fechar a porta quando Josie pediu para ela esperar.

-Eu vou te levar lá em baixo. – disse Josie.

-Cole e Diana que estão indo me buscar. – alertou Anne. Josie pareceu refletir mais uma última vez e sorriu.

-Eu sei. Vamos!

Anne não sabia o grande passo que era para Josie descer e ter que mostrar para outras pessoas onde ela morava, quem ela realmente era. Mas eles sempre foram legais com ela, mesmo quando ela havia sido rude, o mínimo que podia fazer era ser sincera.

Quando as duas desceram, Cole e Diana olharam um pouco surpresos a Josie. Os dois sabiam que Anne tinha algum compromisso no bairro pobre da cidade, mas eles acharam que era algum projeto de caridade, não que era a casa de Josie Pye, a abelha rainha do colégio local de Avonlea.

-Nos vemos amanhã! – disse Anne dando um rápido abraço em Josie e correndo para dentro do carro.

Josie acenou para os dois um pouco sem jeito, mas Diana sorriu e acenou e Cole também.

-Tchau, Josie! – eles gritaram e foram embora.

Josie suspirou aliviada, não houve comentário maldoso, nem risos, nem julgamentos. Talvez Anne estivesse certa... quem a amasse, a aceitaria como ela era.




-Aquela é a casa da Josie? – comentou Diana um pouco surpresa.

-É sim. Nem tudo é como as pessoas pensam, não é? – disse Anne.

Cole e Diana não fizeram maiores comentários, nem pensaram muito. Só havia sido surpreendidos mesmo. 


Continua...

𝘼𝙎𝙉 || 𝙎𝙝𝙞𝙧𝙗𝙚𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora