ROMANCES MENSAIS
LIVRO IX – CONTRATO DE SETEMBRO
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CAPÍTULO III - PROPOSTA
Eu não tenho muitas lembranças de minha mãe. Ela morreu quando eu tinha apenas cinco anos e quase tudo relacionado a ela foi descartado da minha mente sem que eu tivesse muito controle. No entanto, havia algo que eu sempre mantive guardado em meu coração. A lembrança de um dia qualquer, onde estou sentada ao seu lado, enquanto uma música clássica tocava ao fundo. Ela acariciava a barriga enorme, destacando o final de sua gestação, e observava alguns casais dançando.
Na época, o homem que eu tinha como um pai estava começando a empresa de produtos enlatados. Ainda era uma indústria pequena e precisava de mais capital para que pudesse se desenvolver, por isso, sempre que possível, nós participávamos de eventos onde pudéssemos conseguir alguma pessoa louca o bastante para investir em nossa empresa.
Meu padrasto se aproxima com um homem alto, magro e de barba branca. Ele nos apresenta ao possível investidor e explica a esposa quem era aquele homem, que faz alguma piada sem graça sobre sua barriga avantajada de gêmeas e em seguida questiona a meu pai de consideração se ele finalmente teria um herdeiro de verdade para administrar a empresa da família ou seria mais uma menina para trazer despesas, preocupações e problemas a ele, assim como eu provavelmente daria.
Antes que meu pai pudesse responder, mamãe listou o nome de diversas empresas de sucesso gerenciada por mulheres. Sem graça, o homem se desculpou e se afastou de nossa família. Como o homem consciente que era, papai pediu desculpas a esposa e lamentou que tivesse a feito passar por essa situação.
Ela o beijou e disse mais algumas coisas que eu não me lembro ao certo, mas que deram forças para meu pai continuar a busca por novos investidores. Mamãe então desvia sua atenção para mim e abaixa o máximo que consegue com sua barriga pesada para ficar na minha altura. Observo o relicário em formato de coração que ela sempre tinha em seu pescoço. Ela leva a mão ao meu queixo e levanta meu rosto com delicadeza, obrigando-me a encará-la. Por algum motivo, não consigo ver seu rosto, mas vejo sua boca pintada de um vermelho vivo exibir um bonito sorriso.
Com um tom divertido, ela me diz que as ideias das mulheres não são ouvidas a menos que sejam repetidas por um homem, que fica com o crédito, e que no fundo, o machismo era apenas uma demonstração do frágil ego masculino que não consegue aceitar que uma mulher possa fazer algo melhor do que ele. Por isso, ao invés de abaixar nossas cabeças, nós deveríamos estar passos a frente deles e usar até as menores oportunidades para fazer nossa voz ser ouvida. Ainda que para isso nós precisássemos usar um homem a nosso favor.
Pamela Greene Puckett era uma mulher de personalidade forte, sorriso fácil e humor ácido, que chocava as pessoas que a conheciam pela primeira vez. Ao mesmo tempo, era por esse jeito tão único que ela atraía as pessoas e fez Kyle se apaixonar por ela. E agora, vinte e três anos depois de sua morte, eu começava a entender o que ela queria dizer com aquele conselho estranho que se manteve tão vívido em minha mente.
Diante de Daryl, que me encarava incrédulo com a minha proposta, segurando um cigarro entre os dedos e um celular contra o ouvido, minha mente se dividia entre admirar a beleza estonteante do homem e me concentrar no que eu realmente precisava naquele momento. Aproximo-me calmamente de Daryl e ele parece finalmente sair de seu estado de choque.
- Glenn, eu preciso desligar agora. Assim que a reunião terminar, eu vou para a delegacia. – Daryl volta sua atenção para o celular, quase como se estivesse me ignorando, e suspira. – Tudo bem. Nós conversamos sobre isso depois. Obrigado por me ligar e por ir. Até mais.
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Contrato de Setembro
FanfictionApós a morte de seu padrasto e o desaparecimento de sua irmã mais nova, Beth Greene não teve escolha a não ser lutar para assumir a presidência das Corporações Puckett e impedir que o seu maquiavélico e ganancioso tio colocasse as mãos na fortuna da...