Entrevista

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO IX – CONTRATO DE SETEMBRO

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CAPÍTULO XXVIII - ENTREVISTA

O dia estava nublado e frio como era de se esperar do outono em Hawkins. Ainda assim, minhas mãos suavam intensamente e minhas pernas tremiam tanto que eu poderia abrir facilmente um braço em meus pés. Meu coração batia forte no peito, minha respiração desregulada, meus músculos estavam rígidos e a minha mente parecia que estava prestes a explodir de tanta informação que passava por ela naquele momento.

Era como se eu tivesse voltado ao dia de meu casamento. Eu estava apavorado e não sabia como fazer para extravasar toda aquela insegurança que tentava me controlar. Beth então aparece e me estende um copo de água, sorrindo com doçura. Ela se senta ao meu lado e entrelaça nossas mãos. Respiro fundo e bebo a água de uma vez, tentando manter o controle. Aperto mais a mão de minha esposa e observo a expressão calma presente em sua delicada face.

Nós estávamos no consulado americano, esperando Negan Morgan aparecer para fazer a nossa entrevista. O lugar estava cheio de imigrantes para renovar seus vistos de permanência e era possível sentir a aura de tensão daquele ambiente. Todos estavam nervosos. Ainda que tenhamos a certeza de que estamos de acordo com a lei, por menor que seja a possibilidade de sermos deportados, ela ainda existe e isso era o que nos deixa tão apavorados. A chance de termos que deixar nossas vidas para trás e retornar para um país no qual você já não tem mais certeza se pode chamar de lar.

- Você está bem? – Questiona Beth com a voz suave, enquanto passa um lenço por meu rosto, limpando o suor que descia pela minha testa.

- Sinto que posso vomitar a qualquer momento. – Confesso e ela dá uma risada discreta, negando. – Eu não sei se estou preparado para as perguntas que Negan Morgan irá fazer. E como você consegue ficar tão relaxada?

- Fique calmo. Não há com o que se preocupar. Você me conhece melhor do que qualquer pessoa nesse mundo e eu também não fiquei estudando e tentando encontrar formas de me aproximar de você à toa. Nós vamos nos sair bem. – Garante Beth, deixando um beijo em minha bochecha.

- Mas e se...

- Qual é a minha cor de roupa favorita? – Pergunta Beth, interrompendo-me ao ver a minha insegurança começar a falar mais alto.

- Cinza. Você tem pelo menos umas vinte peças na cor cinza no guarda-roupa. – Respondo no mesmo instante. Eu já havia comentado com ela sobre a quantidade de roupas cinzas que ela tinha. Superava até mesmo as pretas e brancas.

- E qual é o meu livro favorito? – Questiona a loira, sorrindo presunçosa.

- Você não consegue escolher um livro preferido, então sempre fala que o último livro que você leu é o seu preferido. No momento, o seu atual livro preferido é Contra Todas as Probabilidades do Amor. Você está há dias falando sobre esse livro. – Relembro de como ela havia chorado diversas vezes lendo a história, mas persistiu em terminar de ler, mesmo dizendo que ela a fazia ter diversos apertos no peito.

- Qual é a minha mania mais estranha? – Indaga minha esposa e eu a encaro por alguns instantes, observando seu sorriso animado.

- São tantos que eu sou capaz de fazer uma lista infinita. – Afirmo e recebo um tapa em meu ombro. Acabo rindo do bico inconsciente que ela faz. – Mas acho que o fato de você encenar diálogos sozinha alternando os idiomas que você sabe é bem intrigante. Eu entendo o que você fala em inglês e francês, mas quando começa a misturar japonês, mandarim, espanhol, alemão e russo, eu me perco completamente. E na maior parte desses diálogos, ou você está fazendo um discurso para o Grammy ou Oscar, ou finge estar sendo entrevistada pela Oprah.

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