Reencontro

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO IX – CONTRATO DE SETEMBRO

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CAPÍTULO XX - REENCONTRO

Assim que terminamos de tomar o café da manhã, Beth e eu seguimos para cemitério da cidade. O silêncio continuava incômodo entre nós e eu sentia minha cabeça pesar. Eu não havia dormido nada e a preocupação com Beth só havia se tornado ainda mais ao confirmar minhas suspeitas de que Hugh havia a atacado na noite anterior.

Eu ainda me sentia frustrado pela garota ter escondido a verdade de mim e a ansiedade para descobrir de uma vez por todas o que Hugh havia feito que a deixou tão fragilizada e intimidada só aumentava em meu peito. Mas o que mais me deixava incomodado era o fato de não ter a protegido. Eu falhei com ela e com a promessa que fiz aos primos da garota.

Eu prometi a família Barton que eu a protegeria e a faria feliz, no entanto, algumas horas depois de ter se casado comigo, ela foi esfaqueada e passou o resto da noite chorando no quarto ao lado do meu. Orgulhoso e magoado demais, tudo o que fiz foi ficar horas parado na porta do quarto, ponderando a minha vida e as escolhas que eu fiz.

- Podemos parar na floricultura? – Pergunta Beth com a voz mais baixa do que de costume. Mesmo tentando se fazer de forte, eu sabia que ela estava exausta e ainda sofria com o ferimento na barriga, que mesmo não sendo profundo, havia levado cinco pontos. – Eu quero comprar flores para a minha família.

- Claro. – Concordo, observando-a pelo canto do olho. Ela dá um fraco sorriso e passa a encarar a janela do carro com um semblante abatido. – Você está bem?

- Sim. Só... eu estou com saudade. – Confessa e posso ver a dor em seus olhos. – Um mês se passou desde a morte do meu pai e desde que vi Samy pela última vez. Eu sinto como se... se tivesse um buraco gigantesco em meu coração, que por mais que eu tente não pensar, continua a me machucar dia após dia. Tenho tentado me focar ao máximo no trabalho, ocupar minha cabeça, mas agora...

Beth suspira e encosta a cabeça no vidro da janela, fechando os olhos. Ela parecia vulnerável. Eu queria poder dizer alguma coisa que a ajudasse a superar, mas eu sabia que a dor e a perda ainda era recente demais. Kyle era o porto seguro das filhas. Beth, em especial, era ainda mais apegada ao homem. E era por isso que eu a admirava tanto. A força que ela estava tendo para tentar superar o luto e seguir em frente era surpreendente.

- Eu não sei o que eu devo fazer. Meu pai sempre parecia ter a resposta certa para tudo. E eu me sinto tão culpada por não ter dito com tanta frequência que o amava. Por muitas vezes ter sido teimosa e brusca quando ele só queria o meu bem. Eu deveria ter o abraçado mais vezes, ter rido mais de suas piadas sem graça. Eu... – Ela soluça e posso ver que chorava com intensidade. – Por que ele teve que morrer?

- Eu sinto muito. – Sussurro, pegando em sua mão. Beth entrelaça nossos dedos e chora em silêncio. Aquele choro doloroso, que tira o ar e parece ter algo entalado em sua garganta.

E seguimos assim até chegarmos à floricultura na entrada do cemitério. Ela então tenta se recompor e sai do carro, ainda muito abatida. Observo o céu nublado e suspiro, sentindo todo o peso emocional que Beth deveria estar carregando. Sigo-a ao longe, vendo-a conversar com a floricultora sobre o que queria. Vê-la sofrer tanto me fazia lembrar de quando recebi a notícia de que meu pai foi morto na prisão.

Eu o odiava. Ao contrário de Kyle e Beth, Will Dixon era o meu pior pesadelo. E quando ele morreu, eu me senti aliviado e abalado. Mesmo hoje, após um pouco mais de vinte anos desde sua morte, todo dia dez de janeiro, lembranças de quando eu ainda morava com ele invadem minha mente e os lamentos pelo que poderia ter sido nossa relação se ele não fosse um maldito e violento alcóolatra ou se eu não fosse covarde demais para enfrentá-lo, assim como Merle sempre fazia.

Contrato de SetembroOnde histórias criam vida. Descubra agora