Capítulo 4 - Um reencontro (in)esperado

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O mês de fevereiro passou muito rápido para Anne, e as chuvas de março pós-carnaval vieram violentamente. Anne passou o mês inteiro pensando em Helena, chorando e tentando a reencontrar em alguma rede social. "Se ao menos eu soubesse seu sobrenome..."
Desde seu encontro estranho com ela, Anne havia cortado sua franja para que não cobrissem mais seus olhos, pois havia recebido elogio dos seus olhos, olhos de pérolas negras. Causou estranhamento na escola, e não fora chamada mais nenhuma vez na diretoria nem coordenação, não havia mais artes de protesto pela escola. Todos perceberam essa mudança, e se assustaram. Anne, no entanto, estava com a cabeça oucupada para qualquer uma de suas travessuras. "Helena", era isso que Anne pensava sem descanço.
As imaginações de Anne nos tempos livres na Olave&Marrie corriam ao reencontro de Helena. Imagina ela passeando em um paque, usava seu vestido xadrez branco e rosa com um chapéu com uma fita no mesmo tom de rosa do vestido, delicadas meias de renda e a sua sapatilha preta de fivela favorita. Parecendo uma garota vinda de um livro romântico do século passado. Sentada em um banco do parque, esperava timidamente. Avistava pessoas passando, mas nenhuma delas ao seu agrado, até que andando em sua direção vem uma garota com cabelos de ouro, alta, usando uma saia de pregas e uma camiseta estilo colegial com um all star rosa e meias até o joelho, se sentando em companhia da menina. Os sonhos de Anne com Helena iam longe, sempre com uma pitada de fantasia e romantismo. Todas dariam belos livros,mas estavam guardadas no coração da garota e nas folhas de Papyrus.
Uma terça-feira nublada aguardava Anne. O seu dia na escola fora como todos os últimos: repleto das fantasias de Anne com Helena, era como uma melodia muito bonita que não saía de sua cabeça e poderia ouvir quantas vezes quisesse que jamais enjoaria. Estava no ônibus a caminho da Olave&Marrie, ouvindo Dollhouse, de Melanie Martinez, que certamente era sua cantora predileta, e com certeza a maior inspiração para seus desenhos. Coloria aquele cenário cinza com cor-de-rosa, mas sem tirar o cinza dos sentimentos. Era um mundo fofo, mas assustador, assim como crianças.
Os funcionários do prédio e modelos que lá trabalhavam olhavam com olhos diferentes para a menina desde que cortara sua franja. Anne pela primeira vez se sentiu atraente. Todos olhabam para a parte do rosto que sempre fora escondida por sua franja: seus olhos de pérola negra. Anne nunca reparou o quão lindo eram até Helena falar. Todos faziam elogio aos seus olhos grandes e brilhantes. Com várias olheras, mas isso não conseguia apagar a beleza daqueles olhos.
Na cafeteria do prédio, uma pessoinha desenhava enquanto comia pães de queijo e uma fatia de bolo de chocolate. Anne podia sempre que quisesse comer de graça, até porque ser a filha da dona tem suas vantagens. Nas pontas dos dedos, estava um lápis de cor que coloria um desenho de um coelho que parecia um brinquedo vintage: fofo e macabro. Esse estilo ambíguo inspirando pelas músicas de Melanie Martinez, o seu estilo favorito de desenho. Enquanto desenhava observava os modelos, fotógrafos e os outros funcionários iam comprar um lanche, ou apenas um refrigerante para aliviar o calor. Algumas Anne conhecia e às vezes conversava, e às vezes não. Mas aquele dia aparecerá lá um rosto muito familiar, e tolamente inesperado. Indo pedir alguma coisa na cafeteria, alguém com longos e familiares cabelos loiros apareceu. "Não pode ser ela! Quais as chances disso?". Anne guardou seus desenhos e esperou um pouco mais, até a garota se virar,e o estopim para ter certrza de quem era foi acionado. Os olhos mel com uma faixa turquesa no olho direito. Era ela.
Helena estava lá, e ficou tão surpresa quanto Anne ao encontrar a menina. Com uma latinha de guaraná e um pão de queijo, sentou-se em uma das 3 cadeiras ao lado de Anne, que terminava de tirar as coisas da mesa. Helena viu aquilo, e queria perguntar dos desenhos, mas sua educação a levou a um cumprimento cordial:
- Oi...- Helena parecia um pouco sem jeito, talvez até envergonhada - Achei que nunca mais te veria.
- Eu também não. - Empolga Anne, estava com o coração acelerado e sorria bobamente - Mas o que você está fazendo aqui?
- Eu trabalho aqui, na verdade esse é meu primeiro dia... - Helena falava meio corada, com aqueles olhos mel com a faixa azul brilhante, o cabelo preso com a franja e alguns fios soltos, parecia que cada detalhe a tornava mais perfeita a vista da garota - e você? Trabalha aqui?
- Na verdade não...- Anne estava completamente envergonhada, como explicaria que na verdade ia lá para ficar vagabundando e que sua mãe e seu padrasto eram os donos? E que só seus irmãos trabalhavam lá? "Eu contei pra ela que tenho irmãos?" - Bom...Eu sou uma vagabunda aqui.
- Vagabunda? - Helena tentava segurar a risada - Aaiai menina....
- Mas é verdade... - Anne desviou o olhar - Eu não faço nada aqui, só meus irmãos...
- Você não me disse que tinha irmãos, quantos você tem?
- 7 moram comigo, um irmão ferto e uma irmã que mora com meu pai.
- 9 IRMÃOS??? - Helena estava espantada. - Como alguém tem tantos irmãos?
- e todos mais novos.- completou.
Helena se recuperou do susto alguns minutos depois, e Anne começou a perder sua timidez, mas seu coração ainda acelerava, de uma maniera que ela não entendia. Anne tomou curiosidade da vida daquele menina:
- E você? Tem irmãos?
- Sim, mas não nove. - as duas riram - eu tenho dois irmãos, um mais velho e um mais novo.
- Hmm...
- Meu irmão mais velho se chama Otávio. Ele é adulto e casado, e tá esperando um filho.
- Então você vai ser titia.
- Vou. - Helena sorri - O mais novo é o Freddie, ele tem 14 anos e ama rock. Ele tem uma banda, e é todo empolgado com música, culpa da mamãe que colocava Beatles pra ele dormir e deu o nome dele de um cantor de rock. Mamãe é doida por música, principalmente rock, tanto que além do Freddie, meu segundo nome é Rose, e não, eu não gosto de Guns N' Roses e n sou fã do Axl Rose.
- O que é Guns N' Roses?
- É uma banda de sebosos e bafudos que gritam músicas ruins - tava nítido que ela não gostava deles - Mas o vocalista é bonito.
- Ah... - Anne anota mentalmente para pesquisar de fato o que era Guns N' Roses ao chegar em casa.
Durante aqueles 30 minutos de descanço de Helena, as duas garotas riram e comversaram tanto que pareciam ja conhecer toda a vida uma da outra. Dessa vez, Helena não cometeria o mesmo erro:
- Meu número. - Entregou a Anne um pedaço de guardanapo com um número de telefone escrito a lápis. - Mas estarei aqui nas terças e quintas, pelo menos até junho.
-Ah...O...Obrigada....- Anne fica envergonhada e gagueja, e sente um frio na barriga, mas não sentia medo, estava feliz.
"Não sei que sentimento é esse, mas é bom. Eu quero ficar mais com Helena, quero ela como minha amiga, minha melhor amiga...
E dessa vez tenho o número dela, mas ela não me ligou nem me mandou mensagem, e estou com medo de enviar e ela não gostar." Escreveu em Papyrus ao chegar em casa. Anne checava de 5 em 5 minutos para ver se tinha algo de Helena em seu celular, mas nada. A garota estava com sono, mas continuava checando, ansiosa a cada notificação, o coração acelerava e quando via que não era Helena sentia mal e seu coração parecia doer. Estava cada vez mais tarde, e Anne caiu no sono, dormindo do lado de seu celular.

Até o ouvir tocar às 3 da manhã.

Anne acordou para atenter, meio tonta e sem entender, mas assim que atende, entende o que aconteceu, e começa a inconscientemente sorrir:
- Alô? - Diz a tão almejada voz do outro lado fo telefone, era ela, era a Helena - Desculpa ligar essa hora, mas meu irmão passou mal e tive que acompanhar ele no hospital. Cheguei agora em casa, e sim ele tá bem.
- Oi Helena....- Anne quase gritava, mas era madrugada e n queria acordar ninguém da casa, principalmente Aurora, que dormia no quarto ao lado usando uma mascara facial e pepinos, coisa que Anne nem sabia que existia fora de desenhos - Tudo bem...e que bom que seu irmão está bem e....
- Te liguei por um motivo - interrompe - Amanhã estou livre a tarde, você deixa eu te buscar na escola pra gente passear?
- Cl...cla..ro - gagueja, segurando a emoção para não gritar de animação. Ela ia passear com Helena, aquela pessoa incrível que ela não sabia o motivo, mas a deixava envergonhada e sorrindo a cada momento...claro que iria.
- Então até amanhã, digo, hoje, sua fofa.
- Até...- E desliga.
"Ela me chamou de fofa, ela me acha fofa!" esse pensamento a deixou muito empolgada. "Ela que é fofa, ela é a coisa mais fofa do mundo..." sonhava a menina, que logo adormeceu outra vez....

Para Anne um arco irisOnde histórias criam vida. Descubra agora