Itens que Anne tem:
· um saco com roupas sujas
· o uniforme escoteiro
· o lenço
· uma capa de chuva
· um casaco
· uma lanterna
· um saco de dormir
· duas meias limpas de pares diferentes
· uma toalha
· um par de chinelos
· um prato
· uma caneca
· uma colher
· dois panos de prato
· um rolo pequeno de sisal
· uma garrafa de água
· uma caneta
· um canivete de bolso
· a carta
· Papyrus"Se vira!" a frase dita por sua mãe ainda estrava ecoando, e Anne nessas últimas horas tinha feito absolutamente nada além de gritar e se mutilar. Ela tinha que se virar, mas não tinha tido instruções de sobrevivência nem primeiros socorros. Estava apenas dois meses no movimento.
Anne tentou lembrar de alguma coisa que a ajudasse enquando o sangue jorrava em seus braços. Lembrou se das bandgens que Helena fez em seus braços meses antes, e tentou fazer algo parecido. Anne tentou os panos de prato com o sisal nos braços pars estocar o sangue, o que deu certo no braço esquerdo, mas quanto ao braço direiro ela nem conseguia mover o outro braço para amarrar os panos, aí caíra a ficha: seu braço esquerdo quebrou. Mas essa notícia não surtiu tanto efeito na garota, que leu uma vez em um dos cartazes do grupo, e sabia o que fazer. Ignorou o braço sangrando apesar do medo da infecção, girou seu lenço usando a parte de trás para apoiar o braço fazendo uma tipoia. Doeu, mas pelo menos o braço imobilizado não estava sangrando. Agora com apenas uma mão, a menina decidiu que pediria ajuda. Subiu com dificuldade o barranco com a mochila nas costas, e a carta e a garrafinha de água nas mãos, e como logo ia escurecer, Anne prendeu sua lanterna no seu cinto.
Anne começou a andar na direção da estrada, esperando encontrar alguém que pudesse ajudar. Isso dependeria de muita sorte, porque achar um pedófilo, sequestrador ou ladrão seria muito mais facil. Ela sabia os riscos a qual estava esposta, mas se havia uma chance de sobreviver, porque não tentar?
Anne andou por mais ou menos uma hora antes de escurecer. Nisso alguns caminhões passaram mas ninguém que parecia ajudar. Anne contava o tempo pelo que ela achava ser, então quando começou a escurecer, dedudiziu que eram 6 horas. Andou por muitas horas durante a noite, sem pausa e sem parar para nada, apenas bebendo goles da água, que estava quase no fim.
Enquanto andava no total escuro apenas com a luz da lanterna, um dos caminhões que passavam parou na sua frente. Anne parou de andar depois de passar horas ininterruptas caminhando na estrada, se sentando no chão mal sentindo suas pernas. A porta do caminhão abriu, saindo de la um homem de estatura média, uma barba rasa, e olhos azuis que brilhavam mesmo no escuro. O caminhoneiro se aproximou da menina que estava pálida, cansada e ensanguentada. Anne naquele momento viu toda sua vida passando em seus olhos, aquele poderia ser o começo do fim, ou então um escape da morte.
O homem analisou a garota com a lanterna do celular, e parecia chocado, principalmente ao ver seu braço direito. O homem se abaixou sussurando algo que salvou a vida de Anne:
- Sempre alerta! - O homem segurou em seu ombro. - Venha comigo, menina.
Anne não falou nada, e apenas o seguiu.Eles entraram no caminhão, onde o homem tirou uma caixinha vermelha com bandagens, água oxigenada e esparadrapos. Em silêncio, ele limpou o sangue dos braços da menina, tirou os panos de pratos ensanguentados e trocou por bandagens limpas. Enquanto o caminhoneiro cuidava da menina, a mesma olhou o relógio do caminhão, era 2h45. O caminhoneiro falou apenas quando terminou, Anne percebeu que ele era um homem quieto, mas aparentemente não ia a sequestrar.
- Por volta das 6 da manhã chegaremos em um posto, enquanto isso quero que você durma, você precisa dormir, escoteirinha.
Anne não contextou.
- Obrigada. - a menina cansada respondeu, e dormiu encostada na janela enquanto o homem dirigia.Anne acordou com a voz grossa do homem a chamando. A menina olhou novamente para o relogio e eram 6h36. A cabeça da menina estava tão cansada antes que só agora conseguiu pensar com mais clareza. Eles estavam em um lugar que parecia um posto com um grande restaurante, com uma vista para o mato e uma cidadezinha de interior ao redor. O céu estava nublado, mas nada de chuva.
- Venha! - Chamou o homem
Anne foi, sem dizer nada apenas desceu do caminhão.Eles entraram no posto, e dentro do posto tinha uma grande loja que funcionava como lanchonete e venda de lembrancinhas para turistas, além de muitos adesivos de clubes de motoqueiros nos vidros, tinha um mapa, que mostrava onde estavam. Aquela era a fronteira de Goiás com Bahia. Anne deu um pulinho para trás ao ver isso, e um único pensamento veio em sua mente: "Esse homem vai me sequestrar."
Os dois estavam sentados tomando o café da manhã na bancada do lugar. Ficaram alguns minutos em silêncio, e Anne estava com tanta fome que quase se engasgou com o café com leite que tomava. Os machucados estavam doendo bem menos, mas ainda não conseguia mover seu braço esquerdo. O homem manteu o silêncio e a calma, e pouco depois quebrou o silêncio:
- Eu também já fui um escoteiro, sabia? - seus olhos tranquilos se encontraram com os cansados olhos de Anne - Soube que deveria te ajudar, afinal aprendi primeiros socorros, mas quando vi seu lenço, me lembrei da minha adolescência e vi que mesmo se você fosse minha inimiga de guerra eu não poderia te deixar naquele estado.
Anne sorriu naquele momento. O homem estava apenas querendo ajuda-lá.
- Eu nem sei como posso agradecer...
- Não esquenta, menina! - o homem retribuiu o sorriso - Prazer, sou Carlos.
- Anne. - devolve os cumprimentos.
- Agora me diga, o que aconteceu com você?Anne contou toda a história em 2 horas. Sobre Helena, seus irmãos, o escoteiro, acampamento, o diário, sua mãe e a carta, que entregou a Carlos. O homem leu, e sua expressão mudou, e Anne jurou ter visto uma lágrima em seu rosto. Ele então baixou a carta, olhou fixamente para os olhos negros da garota:
- Sabe, Anne...- o homem tremia, e fez uma pausa ligeiramente longa - Eu também fui abandonado pela minha mãe. - Anne olhou para ele com os olhos arregalados.
- Como assim?
- Foi no ano de 82, eu tinha 12 anos na época, você deve ser um pouco mais velha que isso. Mamãe engravidou de mim e do meu irmão muito nova ainda, e não aproveitou muito de sua adolescencia por causa disso. Quando meu irmão nasceu ela tinha apenas 15 anos, e quando meu irmão fez 7 anos, eu nasci. Nossa mãe sempre foi muito ausente em nossas vidas, então sempre fui muito próximo do meu irmão apesar da diferença de idade. Nós sempre saiamos juntos, e no ano de 78 entramos no escoteiro. O nosso grupo não existe mais, mas era um grupo para garotos de Goiana. Lá era nossa família e vários meninos da escola também faziam parte. Nos reuníamos nas tardes para ouvir música, pois na sede do nosso grupo tinha uma vitrola e vários discos de todos os tipos de música. Meu irmão amava música, e construiu junto com os garotos mais velhos do escoteiro uma guitarra elétrica e um violão. Eramos pobres, afinal nossa mãe era alcoólatra e gastava quase todo nosso dinheiro com bebidas, e nenhum de nós conheciamos nossos pais. No meu aniversário de 12 anos ganhei dois presentes, um foi o melhor da minha vida, e o outro um dos piores. Meu irmão fez um ukulele com os garotos mais velhos e me deu como presente. Era um sábado, e fomos para o escoteiro, e levei meu ukulele para mostrar para os garotos da minha idade. Eu sempre toco ele para me lembrar do meu irmão....
Anne reparou que uma lagrima saiu do seu rosto ao falar do irmão. Carlos fez uma breve pausa antes de continuar a história:
- Quando chegamos em casa, ela estava em chamas. - continuou - meu irmão se aventurou entre as chamas em busca de doucumentos, dinheiro, e mais coidas importantes, e me pediu para ir na casa de uma vizinha nossa para usar o telefone. Eu não lembro direito o que aconteceu depois disso, só lembro dos bombeiros apagando as chamas enquanto eu segurava meu ukulele e carregavam meu irmão morto lá de dentro. Nunca encontraram minha mãe, certamente deve ter fugido. Fui mandando prum orfanato depois disso, e saí de la apenas em 88, quando tinha 18 anos.
Anne estava chocada. Aquele cara tinha visto o irmão morrer, a casa queimar e nunca mais viu sua mãe. Anne se sentira mal pelo homem, mas ele a entendia, mesmo que sejam situações diferentes, ele sabia como era doloroso ser abandonado pela mãe.Eles continuaram o caminho, mas antes de saírem do posto, o homem a presentiou com um chaveiro:
- Para você não se esquecer de mim quando voltar para Brasília.Na noite daquele dia chegaram em ilhéus, Bahia, lugar onde deveriam deixar a carga. No seu momento de descanso, Carlos levou Anne para o hospital, onde engessara o braço da garota. Logo depois,ele comprou passagens de ônibus para Brasília na rodoviária, e lhe entregou um papel com um número de telefone:
- Me ligue quando chegar. - Anne assentiu com a cabeça, e os dois se abraçaram antes de Anne subir no ônibus e voltar para Brasília naquela noite.
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Para Anne um arco iris
Teen FictionCom uma mãe rica, um padrasto distante, 7 irmãos em casa e um irmão feto, nunca faltaram oportunidades para Anne, que poderia ser o que quiser se não envolvesse o nome de sua família. Mas por conta disso sempre lhe faltou apoio e afeto, além de nunc...