Para Anne um arco iris

Capítulo 6 - Uma carta sobre o amor

11/03/2017

Querido Papyrus

Hoje foi com certeza o dia mais confuso da minha vida, só que ao mesmo tempo o mais feliz. Eu talvez esteja namorando com Helena.
Não sei como funciona isso de namorar, as pessoas se tornam namoradas depois do beijo? E até ontem não sabia o que era estar apaixonado, e que estava sentindo isso, e fui pesquisar os sintomas no Google. E espero que tenha algo mais depois desse beijo. Amanhã ela vai trabalhar na agência também, e parece que tudo se corre como um sonho...
Papy, Talvez pesquisar no Google hoje tenha resgatado fantasmas do meu passado do sexto ano, e nem eu lembrava disso mais...
Não escrevia ainda quando estava no sexto ano, e nunca escrevi sobre isso para você, mas o ano de 2014 foi assustador para mim, e talvez o ano que mais amadureci.
Eu mudei de escola no 6º Ano já que minha escola antiga era até o 5º, e eu cheguei sendo a problemática que até hoje ainda me visita as vezes. Mas estou muito feliz para falar de algo tão sombrio.
Acredida que surgiu uma sarda em meu rosto? Helena disse que eu tinha uma sarda quando me beijou, e depois do banho olhei meu rosto no espelho, e eu tenho mesmo uma sarda. Na pontinha do meu nariz, delicada e marrom, nunca fiquei tão feliz por algo da minha aparência. Essa sarda combinou com meus olhos, será que terei novas logo?
E enquanto isso, recebi o meu primeiro beijo, mas essa é uma alegria que posso compartilhar apenas com você, e torcer para que amanhã ao acordar isso tenha sido real. O que meus pais pensariam se soubesse? Eles super apoiam o namoro de Aurora com Andras, e desde então se tornou muito insuportável. Ela se acha a irmã mais velha, e tem motivos para isso, mas agora que "namoro" não posso nem jogar na cara dela isso. Ela é tão conservadora quanto papai, e me disse ontem que quer se casar aos 16 anos com Andras, e pela família dele ser ainda pior no conservadorismo, eles realmente vão fazer isso. Conheci a família de Andras há algumas semanas, só que não lembro se escrevi sobre eles, mas que só sabem falar de política, igreja e "cidadão de bem", eu não me importo de falar duas vezes. Tenho pena único, porque se tem apenas aqueles pais como companhia em casa é claro que seria um chato com apenas 13 anos. Aliás, o aniversário de 12 anos de Aurora e de Bernado está chegando. Vou dar alguma coisa pra ela e algo bem mais legal para Bernado, que apesar de fazer parte da família de metidos de sua escola, é muito mais legal que Aurora. As pessoas tímidas são as mais legais, e pela timidez do meu maninho ele é a pessoa mais legal do mundo.
Voltando a Helena (acredito que esteja acostumado com minhas fugas de assunto, que deixam minhas cartas enormes), ela ontem me convidou para sair no sábado, conhecer o escotismo. De verdade, não faço ideia do que seja isso, mas acredito que seja legal, e me dê mais uma desculpa para ver Helena além das terças e quintas durante 30 minutos. Ela apesar de apenas 15 anos tem já uma rotina de adulto, e não tem muito tempo para sair comigo. Eu sempre tenho tempo livre, afinal vim de uma família rica e não faço nada de interessante, ou seja, a fórmula de uma fracassada. Sinto inveja das habilidades e talentos de Helena, saber tirar boas fotos te garante mais do que desenhar coelhos de pelúcia do século passado ouvindo um bebê chorão. Parando pra pensar agora, não tem motivo pra Helena me dar tanto amor assim sendo uma vagabunda.
Mudando de assunto antes que chore, no caminho de volta ela me mostrou algumas de suas Polaroid, e me mostrou uma foto minha na praça dos cristais enquanto estava distraída. Ela o tirou na Polaroid dela, e me deu. Não sei como ela conseguiu fazer com que eu ficasse tão bonita como o cenário, talvez ela seja tão mágica que até suas fotos tem poderes, e não apenas aquele seu rosto, celestial e doce, e seus olhos mel com aquela faixa azul tão brilhante...Vou guardar para sempre essa foto em um lugar seguro. Tão seguro que não posso te falar.

Papy, quero que aceite Helena como minha namorada a partir de hoje, ja que é algo que minha família jamais aceitaria, talvez o Bernado.

Sua Anne Luz O. May