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Na fria sexta-feira, 9 de junho, o pôr do sol visto da janela do apartamento era fantástico. Àquela hora todos já estavam em casa, e um casal de garotas estava sentado na varanda. Abraçadas, em silêncio, apenas observando o crepúsculo do céu com cor de manga, em tons de magenta e laranja. Mesmo morando juntas, o romantismo não as abandonou.

Helena estava quieta naquele dia, tinha feito uma prova complicada e quase passou mal de nervosismo. Anne se preocupou com a namorada, estava tão abalada que seus olhos âmbar com a faixa azul perderam o brilho e estavam com o semblante cansado, mas Freddie falou que ela sempre ficava assim com as provas, e que não precisava se preocupar. Isso não confortou a garota.

A tentativa de animar Helena de Anne com o pôr do sol pareceu funcionar à primeira vista, mas parecia que havia algo faltando em Helena, algo desconhecido para Anne.

—Venham, Meninas! —Leon chamou as garotas da varanda, e elas atenderam ao chamado, saindo do apartamento.

Anne não era a única disposta a ajudar Helena a se sentir melhor, mas ao contrário dela, a família sabia o que estava acontecendo com a filha, e descobriram que levar a garota para comer fora a deixava melhor.

Os cinco desceram e entraram no carro, chegando em torno de 15 minutos em uma hamburgueria vegetariana de Águas Claras. Anne esteve lá apenas uma vez durante esse mês que estava morando com a família, e já amava aquele lugar. A decoração rustica e moderna ao mesmo tempo tinha um ar gracioso e vintage, com luzes amareladas, mesas de madeira a céu aberto e quadros preto e branco, discos de vinil e televisores antigos como decoração. Não à toa, aquele era a hamburgueria favorita de Freddie.
Os cinco se sentaram em uma mesa redonda e fizeram os pedidos nas comandas entregues pelos garçons. Helena fez o pedido, mas não sorriu, e seu semblante parecia cada vez mais triste e cansado. Anne abraçou a namorada, ouvindo seu coração cada vez mais rápido. O medo tomou conta da garota que, ao contrário de todos da mesa, não estava pronta para o que viria a seguir.

Helena começa a chorar e gritar. Parecia se sufocar nas palavras que ninguém conseguia entender. A garota se tremia e estava cada vez mais pálida, havia parado a circulação do sangue em seus braços que estavam frios e sem movimentos, e seu coração acelerava a cada segundo, e as lágrimas de desespero já encharcara parte de seu moletom. Helena estava sem ar e seus pulmões pareciam apertados e o coração maior que o normal, não conseguia mover os braços e começou a ficar roxa e asfixiar-se com sua saliva. Não era a primeira vez que isso acontecia com Helena, mas toda vez, a sensação de que morreria naquele instante não mudava.

Depois disso tudo foi muito rápido. Ao perceberem que Helena estava roxa, Freddie aplicou a manobra de desobstrução de vias aéreas para desengasgar a irmã, que após voltar a respirar, desmaiou. Nessa hora chegaram os hamburgueses.

No carro a caminho de casa, Anne ainda estava apavorada com o que acabará de acontecer. Foi deixada em casa com Freddie enquanto os adultos levavam Helena ao hospital. A garota estava sentada no sofá, olhando para a janela. Seu moletom estava molhado com lágrimas, sentindo o vento frio em seu rosto, o clima parecia deixar tudo mais frio. Freddie sentou-se ao lado de Anne, abraçou a menina abalada, diferente do garoto, que estava calmo e não parecia ter medo:

- Anne... - O garoto pegou um lencinho e limpou as lágrimas no rosto da garota - Ela vai ficar bem.

- Espero que sim... - Anne tremia, de frio e medo.

- Bom... - Freddie se afastou um pouco - Isso era um segredo nosso, e Helena não gosta de falar sobre isso...

- Do quê?

- A Helena tem crise do pânico.

Anne paralisou. Olhando para Freddie, sua mente fugiu por um instante da realidade, e ao retornar, chorava muito.

- Calma, Anne! - Freddie novamente deu o lencinho para a garota - Ela tem isso desde os 10 anos, e os ataques acontecem com cada vez menos frequência. Anne! Não se preocupe, ela vai ficar bem! - O garoto a abraça. Anne tinha muitas perguntas, mas não sabia se queria as respostas delas, naquele momento queria apenas o afeto de alguém.

- Isso tem relação com a Serena, não é? - Anne pergunta algum tempo depois, um pouco mais calma, mas ainda tremia e chorava.

- Na verdade tem... - Freddie parecia que ia chorar - Mas não gosto de falar disso...

- Entendo...

Anne se deitou no menino, onde chorou até dormir enquanto o gelado vento de inverno passava pela janela. Freddie olhava para a garota com amor, e cantou Hey, Jude, substituindo por Hey, Anne enquanto a menina repousava em seu colo, tentando ser uma forma de consolo e apoio. Aquele mês havia transformado os dois em irmãos, e mesmo Anne, que tinha 9 deles, nunca teve um tão próximo como Freddie.

Para Anne um arco irisOnde histórias criam vida. Descubra agora