Para Anne um arco iris

Capítulo 9 - O aniversário e a promessa

O mês de março foi alegre e nublado. Não choveu muito, o que seria recompensado pelas fortes chuvas de abril. Anne e Helena continuavam a se encontar. Às vezes, saiam nas quintas feiras durante a noite, outras vezes nas tardes dos sábados. Os passeios eram sempre românticos, e os lugares eram sempre ao ar livre quando estava nublado, e nos shoppings quando chovia.
Anne agora tinha seu uniforme azul-marinho, a saia caqui e meiões cinza, agora estava devidamente uniformizada para o escotismo, e para completar o uniforme faltava apenas o lenço azul bebê, que Anne receberia no dia 8 de abril, quando finalmente faria sua promessa. Os sábados de Anne nunca foram tão divertidos, principalmente depois que Bernardo foi junto com ela. Ele ficou na Sirius, e assim como Anne, ele amava aquilo.
O dia 8 de abril estava chegando, e além da promessa, o aniversário de seus irmãos. Aurora teve as ideias praticamente sozinha: uma "balada teen", com luzes neon e direito a limusine e dinques, e eles só não foram alcoólicos porque o bom senso dos pais existem. Apesar de Bernardo não ter colaborado muito, a sua ideia da lembrancinha serem hand-spiners foi aprovada pela irmã e pelos seus pais.
A primeira semana de abril foi cansativa para todos em casa, os preparativos para a festa iam a todo vapor. A montagem do palco para o DJ começou ainda no domingo, e as tardes que antes eram nos corredores da Olave&Marrie agora se passavam junto de planejadores de festa na mansão da família. A parte externa era enorme, e os 500 convidados caberiam e ainda sobraria espaço. Anne ajudava a carregar as coisas e enviar os convites junto de Aruan:
- Onde essa menina arranja tanto amigo? - o garotinho ruivo perguntou para a irmã enquanto endereçavam os convites.
- Ela deve ter feito alguma promo no insta ou algo assim - Anne falou enquanto dobrava mais envelopes - mas lembre que o aniversário é dos dois, o Bernardo também tem convidados.
- Verdade, mas eu tenho certeza que quase tudo é da Aurora, ela é famosa.
- Mas tu não posou pra empresa internacional mês passado?
- Mas eu fui plano de fundo - Os olhos azuis de Aruan estava vidrado na lista de endereços no notebook para não errar nada - Sem falar que a Aurora pôde ter conta no Instagram desde os 8 anos, e mês que vem eu faço nove! Nove! E nem assim papai deixa.

Quando chegou sábado, a empolgação de Anne fez a garota acordar as 4 da manhã, e sem conseguir dormir vestiu seu uniforme e se olhou no espelho, imaginando como seria o distintivo de promessa em seu peito, o amarelo distintivo de progressão em sua manga direita e o lenço azul bebê no pescoço. Anne estudou a lei escoteira e aprendera a promessa de cor para finalmente se tornar uma escoteira de verdade. Nesse tempo acabou se interessando pelos distintivos coloridos do braço: as especialidades. Tirou culinária vegetariana nível 2 junto de Helena, e fez nível 1 de astronomia com Bernado. Receberia esses distintivos hoje também, e o uniforme dela ficaria incrível!
A manhã chegou, e o Uber levou os dois para a sede do grupo, e a manhã estava agradável até. Fizeram as atividades antes da cerimônia de promessa. A mãe de Anne chegaria na hora da cerimônia, mas antes disso os escoteiros fizeram uma mesa de pioneria, com bambu, sisal e muitas quedas. Às 11 horas, estava tudo pronto para a cerimônia de promessa da Anne, e apesar do tempo nublado, não havia risco de chuva. Pelo menos foi o que a chefe Dulce falou.

Na hora da promessa todos se reuniram em uma mesa de pedra, e fizeram a formação em ferradura. Apesar de ter dito que iria, a mãe de Anne não apareceu. O discurso da promessa se iniciou, e quanto mais o chefe Roger falava, mais o céu fechava. Quando o chefe finalmente chama Anne para a promessa, começa uma tempestade quase que do nada. A chuva começou forte e pesada. Alguns começaram a rir, e outros ficaram em choque.
- Calma, vamos continuar o mais rápido possível e nos proteger. - o chefe Roger tentou acalmar a tropa - Anne, está pronta?
- Sim, chefe!
- Firme! - Todos obedeceram - Promessa em saudação! - Todos fizeram a saudação de promessa, menos Bernardo, que já que não tinha promessa não podia fazer.
- Eu prometo pela minha honra - Começou Anne - Fazer o melhor possível para cumprir meus deveres para com Deus e minha pátria. Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer a lei escoteira.
O chefe prendeu os molhados distintivos no uniforme da menina, que não estava menos seco. Entregou outros distintivos para os escoteiros, encerrando assim a cerimônia, e todos correram para a casinha da tropa para se secar.
- Uma promessa assim não é todo dia. - Freddie falou enquanto tirava sua gandola molhada - Molhou até o certificado.
- Acho que essa promessa não tinha como ser mais especial. - Falou Anne, sorrindo apesar de tudo.
- Espero que na minha não chova. - Bernardo estava enxugando as meias.
- A sua vai ser ainda mais legal, vai ser em acampamento! - exclamou Paolla, uma garota morena com longos cabelos lisos e olhos negros brilhantes. Aquela era a monitora da patrulha Sirius.
- Não vejo a hora...- Sonha Bernardo, olhando para o chuvoso céu.
Ao meio dia todos estavam secos, mas a chuva estava longe de acabar. Fizeram improvisadamente a cerimónia de encerramento dentro da casinha. Após a cerimónia, a chefe Dulce chega com um bolinho e uma vela:
- Feliz aniversário, Bernardo.

A chuva perdurou durante horas, o que fez com que os escoteiros jogassem vários jogos. Mímica, alguns jogos de tabuleiro e adedonha. As 4 da tarde, quando ela finalmente enfraqueceu, a mãe de Anne chegou:
- A chuva me obrigou a recuar, mas lá em casa ela passou e não tem mais sinais de chuva. - a voz dela estava ligeiramente chateada - Por que teve que ser hoje? Vocês com esse negócio de escoteiro enrolaram a festa, sabia? Você poderia ter adiado a promessa não?
- Claro que não mãe. Olha, agora eu tenho esses distintivos, e o lenço, além de ser comprometida com o escotismo.
- Esse comprometimento não paga os 500 mil que paguei na festa.
Anne e Bernado trocaram piscadelas, e riram baixinho.

A festa começou por volta das 19 horas, e já estava muito cheia meia hora depois. Anne observava tudo pela janela do seu quarto enquanto desenhava. Em meio aos lápis de cor, fazia desenhos para seu irmão. Anne não sabia como presentear alguém melhor do que desenhos. Ela comprou uma saia neon para Aurora, já que ela tanto queria uma, mas para Bernardo não conseguia ver algo que o irmão gostaria. Ela sabia tão pouco sobre ele, talvez seus interesses por coisas espaciais fosse a única informação relevante que soubesse, e agora o seu amor pelo escotismo. O astronaura com a bandeira escoteira, igual grande parte dos astronautas, estava quase pronto para ser embrulhado, faltava apenas emoldurar. Enquanto proucurava o porta-retratos, Aruan entra de penetra no quarto da irmã:
- O que achou dessa roupa? - O menino usava um boné, camisetas largas, calções enormes e tão baixos que davam para ver sua cueca, um óculos juliete e um tenis branco. Anne começou a rir incontrolavelmente ao ver o visual do irmão:
- Quem disse que você ficaria bonito como zé droguinha? - Anne se contorcia, afinal seu irmão de 8 anos tava parecendo um mini MC.
- Aurora disse que "elas gostam dos favela" - O ruivinho tirou a juliete - Esse treco machuca! - ele joga para a cama de Anne - Como eu vou ser poupular?
- Usa um terno com enfeites neon, a cara da festa, e faz manobras com o spinner, e pronto! - Anne falou tentando segurar a risada - Mas por favor, não vai desse jeito!
- Obrigado maninha, essa roupa é muito feia. - Aruan saiu saltitante pelos corredores para trocar de roupa. Quando teve certeza de que o garoto estava em seu quarto, desabou a rir na cama, aquela imagem do irmão vestido de zé droguinha era hilária demais para se segurar.

Anne desceu para a festa meia hora depois, com os presentes em mãos. Não conseguia achar Aurora, então deixou o presente da irmã com uma amiga aleatória, e foi proucurar Bernardo. Achou o garoto facilmente, ele estava comendo algumas coxinhas junto do Dani do escoteiro. Os dois haviam se tornado grandes amigos na última semana.
- Hey, Anne! - calorosamente chamou Bernardo -  Senta com a gente.
Anne se sentou, e entregou sem muitos rodeios o desenho emoldurado. Tanto Bernardo quanto Dani estavam impressionados. A capacidade de desenho de Anne era espetacular.
Depois de comer algumas coxinhas, Dani teve que ir embora de última hora porque seu pai estava passando mal. Os irmãos desejaram melhoras ao pai do amigo e pegaram mais coxinhas logo depois.
- Anne? - perguntou timidamente o garotinho de olhos mel.
- O que foi?
- Mais tarde você me encontra na Clareira Cruzeiro do Sul?
Anne acentiu com a cabeça, e seu irmão foi embora sem falar mais nada. Anne observava aquela lotada festa, com vários adolescentes dançando e Aurora cumprimentando seus convidados. Anne estava entediada, mas não existe tédio que não possa ser vencido com coxinhas.