9:38 da manhã, 13 de fevereiro de 2017. Isso era o que marcava o calendário e relógio digital do corredor principal da escola, era um corredor amado por todos na hora da entrada, da saída e do intervalo, com suas belas pinturas feitas por alunos e renovadas a cada ano nas paredes, algumas eram abstracionistas, com cores sem nenhuma combinação harmónica, mas que passavam mensagens e sentimentos, enquanto outras eram bem mais simples, como desenhos de animais e crianças brincando, com um céu azul no qual era visível que misturar um pouco de tinta branca não faria mal e doeria menos ao olhar. Em contrapartida, aquele corredor era temido para quem estivesse lá fora daqueles horários, pois apenas iriam aqueles que precisavam falar com o diretor da escola. Ele, o diretor, via de longe o seu mais novo réu, uma garota de longos cabelos negros presos em tranças, pele pálida gélida e rosada, parecendo como se estivesse eternamente ao gelo, uma franja que praticamente cobria seus olhos, os quais quase não eram vistos, mas eram tão negros quanto seu cabelo, pareciam ser sem expressão e não parecia haver qualquer emoção em seu olhar. "Anne", todos já a conheciam bem, e suas idas a diretoria não eram nada anormais. Entrando na sala do diretor, observa aquele cenário totalmente familiar para ela. O característico cheiro de algum perfume barato de revista extremamente forte levado as narinas com os ares do ar condicionado, sempre em 16º. A sala não é grande, ao lado da porta, tem alguns armários de metal de cor cinza azulada onde guardam documentos escolares, são decorados por milhares de imas de geladeira de eventos escolares, padarias, farmácias e de lembranças turísticas. Acima dos armários, dois bonecos de feltro utilizando uma beca de formatura, e ao lado deles, um monte de papeis empilhados. Na mesa do diretor, havia apenas uma pequena pasta, uma calculadora, um computador e um telefone fixo, além da plaquinha escrita "Diretor Silva", e atrás de sua cadeira, outra mesa na qual fica a impressora. Uma sala na qual Anne está bem familiarizada. Ela se senta em uma das 2 cadeiras de visita:
- Licença, senhor. - Pergunta educadamente, de certa forma.
- Sinto muito, minha jovem. - Falava enquanto digitava algo em seu computador - Falo apenas com alunos ou pais, e você não me parece nenhum.
- Outra vez com essa? - Desdenha Anne - A terceira vez com essa desde o início do ano.
- Também é a terceira vez que a senhorita é notificada por não utilizar o uniforme. - Para por um momento de digitar e olha para a garota - Sua mãe não vê os bilhetes não?
- Minha mãe está muito ocupada procurando pessoas que ao contrário de mim tem o mínimo de beleza e se dão bem diante às câmeras. Ela não vai se importar com um prejuízo como eu.
- Ela não se importa tanto que te colocou em uma escola particular. - O diretor voltou a digitar - E seu pai?
- A única coisa que sei dele é que ele deixou o dinheiro para pagar essa escola com minha mãe e a proibiu de gastar com qualquer outro recurso, porque aqueles meus meios-irmãos estudam no Everest. Além de que ele me abandonou quando eu tinha 4 anos.
- Isso aqui é uma escola não uma terapia, portanto não fique reclamando de sua vida. - Bufou - Aliás, nem sei porque ainda te chamo, você é um caso perdido mesmo. Não acredito que ainda tenha sempre notas altas.
- Eu estudo, ué. – Debocha Anne.
Ele continuou a digitar, e imprimiu a advertência de Anne segundos depois. Mas só quando se virou da impressora que percebeu que a menina já não estava mais em sua sala. Anne, a problemática, era assim que a conheciam. Embora ultimamente ela não fosse tanto, todos aqueles outros anos do ensino fundamental II foram marcados por suas "marcas", como chamavam. Desde seu 6º ano, ela pintava as paredes da escola com desenhos, que eram bonitos na maioria das vezes, porém agressivos, geralmente acompanhados de frases como: "matar aula é a solução de suas noites mal dormidas" ou "entre garoto x ou y, continuo sem entender por que te amam", além de palavrões e rabiscos obscenos acima de seus belos desenhos de animais fofinhos, e fez isso por muito tempo. Outro exemplo de marca eram os lanches, que ninguém nunca conseguiu explicar como ela fazia aquilo. Anne conseguia temperar os lanches de seus colegas de classe e até mesmo professores sem que percebessem. Colocava canela, sal, açúcar, pimenta ou alho. Depois observava sua vítima comendo inocentemente o lanche que trouxe de casa, e Anne a observa sentir seu tempero, mas ninguém fazia ideia de como ela conseguia fazer isso sem ninguém notar, tanto que no 7º ano praticamente a sala inteira levava seu lanche em lancheiras com cadeado, e assim ela começou a atacar outras turmas, novamente sem ninguém descobrir como, e, em pouco tempo, todas as lancheiras da escola tinham cadeado, e isso fez Anne desistir de temperar os lanches, e essas eram nem metade de suas travessuras. Ninguém nunca a pegava em suas prendas, e se ela não dissesse tão alegremente que era ela que fazia essas coisas e olhasse com malícia para as suas vítimas. Com o tempo, essas coisas pareciam perder a garça para Anne, e começou a parar gradativamente de faze-las, embora continuasse a ir sem o uniforme às vezes, e de vez em quando surgiam algumas pinturas fofas nas paredes, mas sem as mensagens agressivas.
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Para Anne um arco iris
JugendliteraturCom uma mãe rica, um padrasto distante, 7 irmãos em casa e um irmão feto, nunca faltaram oportunidades para Anne, que poderia ser o que quiser se não envolvesse o nome de sua família. Mas por conta disso sempre lhe faltou apoio e afeto, além de nunc...