Foi no mês de dezembro...

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Para a infelicidade de Amália, o Natal de 2002 foi horrível por causa de Anne. Nasceu na noite chuvosa daquele ano, a garotinha silenciosa de olhos negros. Dizendo os médicos, dificilmente crianças nascem com olhos escuros, geralmente eles são azuis, mas os de Anne tinham a mesma profundidade e intensidade dos olhos de seu pai, Jean.
O homem alto de dezenove anos segurava sua filha que o contemplava. Os olhos de ambos eram idênticos, e futuramente, os cabelos lisos, volumosos e negros se mostrariam tão iguais quanto. Jean apenas a segurava em seu peito, e parecia sincronizar as batidas dos corações. Pai e filha, naquele momento, em uma troca de afeto quando deu meia noite, e a maioria das pessoas se serviam de um banquete com peru e arroz, implicando com maçã na maionese ou passas no arroz, tios fazendo a piada do pavê, tias perguntando sobre namoradinhos para seus sobrinhos, crianças que fingiam acreditar que o tio fantasiado é o papai Noel. E agora, tão jovem, ele estava passando o Natal em um hospital segurando sua filha, e ainda em mente que logo sua segunda chegaria.
- Anne - sussurrou - Eu não quero que seja uma idiota como eu. Eu te amo filha... - ele dá um beijo na testa da garotinha - Esse nome foi o primeiro que pensei ao olhar para você.
Partiram antes do ano novo ao Paraná. Aqueles meses passaram muito rápido para o homem, agora pai. Enquanto Anne dormia no colo do pai, o mesmo olhava as gotas de chuva batendo na janela do ônibus. Imaginava as possibilidades que teria se fosse diferente, imaginava não ter que voltar para a fazenda para criar suas filhas, imaginava se fosse mais maduro. "E se eu voltasse e mudasse tudo?"
Jean era o garanhão da escola, com várias namoradas e pais ricos. Uma dessas namoradas era Amália, a mais linda menina da escola, mas era muito religiosa, e secretamente apaixonada por Jean. Como sempre, Jean a conquistou, e eles saíram juntos várias vezes, e foi aí que aconteceu...
Amália descobriu que estava grávida só quatro meses depois, mas nesse tempo eles já não estavam mais juntos por traição na parte de Jean, mas naquela hora, o garoto já estava preocupado com a gravidez de outra garota com qual tinha ficado, essa grávida de dois meses.
O mundo de Jean caiu ao descobrir que seria pai duas vezes. Passou noites chorando, e as vezes se cortava, se culpando por cada coisa que aconteceu naqueles meses. Conversar com as duas famílias foi difícil, principalmente a de Amália. Eles estavam sentados na mesa de jantar em um cômodo estilo vitoriano da casa da garota, onde ele disse as palavras que mudariam sua vida para sempre:
- Case-se com minha filha! - o pai, um homem loiro de traços nórdicos e aparência forte ordenou - Limpe a pureza dela!
- Não posso fazer isso... - Jean não tinha coragem de olhar nos olhos dele. - Eu engravidei outra menina também...
- FILHA! COMO PÔDE? - Gritou a mãe, morena e baixinha, delicada como uma boneca usando roupas impecáveis - VOCÊ DESONROU NOSSA VIDA, E ESTRAGOU SUA VIDA!
- Mãe... - Amália, de 17 anos, estava aos prantos.
- Ainda mais com um vagabundo desses! - bufa o pai.
A briga continuou rolando, e Jean não conseguia mais ser o garanhão da escola, não conseguia se impor, não tinha o que fazer naquela situação, ele apenas olhava para o chão, tentando acalmar seus batimentos cardíacos.
- ENTÃO VOCÊ VAI SER EXPULSA DE CASA! - Voicera o pai.
- Eu vou ficar com o bebê! - Jean se impõe - Eu vou cuidar dele, e vou poupar esse peso da vida de vocês, e da vida da outra família!
Nessa hora ele não pensou muito no que disse, mas agora estava feito, e ele viajava com sua filha até a fazenda dos seus avós. A chuva não parou, mas era possível ver um arco-íris da janela do ônibus no momento em que Anne acordou. A bebê elevou seus olhos e o contemplou, sem entender o que aquilo significaria para sua vida.
- Eu não mudaria isso... - Jean sorri ao ver sua filha adimirando o arco-íris - Eu não me arrependo de ter aceitado ficar com você, não mesmo.

Para Anne um arco irisOnde histórias criam vida. Descubra agora