Capítulo 11 - O acampamento

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Choveu em todos os dias de abril, e todas as chuvas vieram carregadas. Nada de chuviscos, apenas tempestades. O mês passou com atividades escoteiras na lama, ônibus quebrando no caminho da escola e os encontros com Helena durante os intervalos de meia hora e depois das atividades escoteiras. Não havia perfeição maior para a garota de olhos negros, a chuva sempre fora sua aliada. Não obstante, ao ir embora trazia junto todas as desgraças que o ano havia lhe preparado.
Enquanto isso em uma quinta feira dois irmãos empolgados se preparam para 4 dias de acampamento. Iniciaria na sexta-feira a noite e acabaria na tarde de segunda-feira. O ferido do dia do trabalhor nunca fora tão vantajoso.
Anne e Benny estavam arrumando as mochilas para o primeiro acampamento, além de que nele haveria a promessa de Benny, que nunca estivera em tanta empolgação.

Depois da escola, passaram em casa para almoçar e pegar as mochilas. A autorização estava em mãos, e o dinheiro do uber também.
Chegaram por volta das 3 da tarde. Partiriam apenas 3 horas depois, mas não estavam sozinhos. A chefe Dulce já estava lá, e para passar o tempo, contou para os irmãos as mais diversas histórias de sua época como bandeirante, sua participação na construção de Brasília quando ainda era jovem e algumas histórias aleatórias que vinham à mente. Nunca era chato ouvir as histórias da chefe, ela tinha a magia de fazer aquelas 3 horas parecerem míseros 3 minutos.

Por volta das 17:30, os jovens e chefes começaram a chegar, desde lobinho até os mais idosos. Helena e Freddie chegaram pouco depois, e Dani também. Benny foi correndo conversar com o amigo, e Anne, direto para sua namorada:
- Oi, amor! - Helena chegou dando um delicado beijinho na nuca de Anne.
- Sentiu saudades, foi? - Brincou Anne.
- E como não sentiria falta da coisa mais preciosa do mundo? - Helena abraçou a namorada, que retribuiu o afeto com um selinho.

Descrever um acampamento escoteiro é complicado, é algo que se deve sentir para entender.
Chegaram de ônibus ao lugar do acampamento em meia hora. Era noite, mas a montagem de campo começou a todo vapor. Enquanto uns montavam as barracas, outros montavam as mesas, nada de complicado para os escoteiros. E os lobinhos iam com seus sacos de dormir para o alojamento do campo.
O jogo noturno começou às 11 da noite, a caça ao tesouro no meio da mata, onde algumas pessoas se cortaram em alguns galhos.

Anne não estava escalada para ronda daquela noite, então foi direto para a barraca das meninas da Ursa Maior dormir. Ao que pareceu 6 segundos, acordou com os apitos de um dos chefes da sênior, mas já era 6 da manhã, e o acampamento estava apenas começando.
Cada patrulha fez seu café da manhã, enquanto os lobinhos comeram o lanche feito pelos chefes da alcateia:
- Lobinhos são uns folgados mesmo! - Emburrou Dani - Nem café da manhã esses mini demônios fazem!
- Mas eles não comem as melhores panquecas do mundo. - Falou Freddie - Eles não tem um Lucas como cozinheiro.
Realmente as panquecas do Lucas eram incríveis, mesmo com um pouco de terra e matinho de tempero.
As atividades começaram mais ou menos 8 horas. Começou com um jogo de queimada: Sênior contra escoteiro, e a tropa sênior venceu. Depois do jogo as patrulhas foram dividas em grupos de duas para as atividades em base. A Pinguim ficou com a Sirius, a Morcego com a Urso e a Ursa Maior com a Pavão. O nome da união foi chamado de "Pavão Maior".
- Nome sem graça! - Disse o monitor da Pavão, ele tinha 14 anos e era muito alto - Mas é melhor que aqueles doidos. "Singuius", que merda de nome! - O garoto se chamava Arthur, tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Era competitivo, e por isso era a pessoa com mais distintivos na tropa, e talvez soubesse de tudo sobre o escotismo. Ele e Freddie viviam competindo para ver quem se tornaria grau máximo primeiro, E comseguir a famigerada "Lis de Ouro".
Cada base tinha a duração de mais ou menos 50 minutos. A primeira base que a Pavão Maior foi explorar era a de plantas medicinais. A chefe Dulce estava no comando dessa base, apresentando as plantas e ensinando a fazer chás com folhas de hortelã.
A segunda base era um jogo de arco e flecha com um dos chefes da sênior. Arthur acertou todas as que lançou, afinal tinha especialidade.
A terceira base era um jogo de escape. Eles ficaram presos dentro de uma barraca com as pistas para destravar o cadeado. Eles conseguiram com sucesso.
Ao meio dia enquanto os lobinhos saboreavam o almoço feito pelos chefes, a tropa senior, tropa escoteira e o clã pioneiro decidiram fazer um almoço só para todo mundo, que levou 2 horas para ficar pronto. Uma gororoba de macarrão com algumas outras coisas, e um pouco de terra. Pode não parecer mas estava delicioso.

Durante a tarde continuaram pelas bases. Fizeram artesanato inspirado em arte indígena com o mestre do clã, fizeram um jogo na piscina em que tinham que desvendar mensagens que estavam escondidas na água, um jogo com contas matemáticas que ninguém entendeu, e por fim aprenderam a fazer biscoitos da sobrevivência com água, farinha e sal:
- Se algum dia formos para a guerra, o biscoito pelo menos vai ser gostoso. - brincou Freddie, e todos riram.

O terceiro dia do acampamento foi de trilha para os escoteiros e seniores. Levaram barracaras, pois a jornada acabaria apenas no dia seguinte, no fim do acampamento. Eram mais ou menos 20km de caminhada, com as mochilas pesadas e algumas barrinhas de cereal, partiram.
O céu estava nublado, e de certo choveria, mas para os caminhantes isso era bom, afinal achavam que andar na chuva era melhor do que andar sob um sol escaldante. Nos primeiros 5km estavam animados, cantando canções escoteiras como árvore da montanha e alabumticabum. Mas essa empolgação foi embora quando começaram a sentir as pernas doendo:
- Minhas pernas...eu não...as sinto mais...- Reclamou Ângela, que era magricela e tinha asma. A garota estava vermelha de cansaço e o rosto quente.
- Vamos, molenga! - Foi a tentativa encorajaradora de Arthur. O garoto tinha porte de atleta, então não demonstrava sinais de cansaço.
- Você não vê que ela não consegue mais andar, idiota? - Lucas interviu - Ela tem asma.
- Desculpa...- Arthur se sentiu mal pelo ocorrido. Ele sabia que tinha mania de tratar os outros com superioridade as vezes, mas ele não gostava disso - Eu tenho água no cantil. Freddie, encontra algum chefe pra nos ajudar.
- Certo! - o loirinho saiu correndo entre as pessoas na frente, e encontou o chefe Roger não muito longe. O garoto cutucou o chefe desesperadamente.
- O que foi, Freddie?
- A Ângela passou mal por causa da asma. Chefe, ajuda por favor!
Os dois sairam logo depois que o chefe avisou que ele e alguns escoteiros chegaria mais tarde por causa de uma das garotas. Todos seguiram em frente, enquanto o grupo de pessoas da Pavão Maior tentavam ajudar Ângela. A menina estava sentada no colo de Lucas e Arthur enquanto bebia água, e Dani proucurava na mochila da garota a sua bombinha de asma. Assim que a encontou deu pra menina, que logo depois comeu uma das barrinhas de cereal de Nala. Esse inconveniente os atrasou em 30 minutos do resto, mas chegaram no lugar apenas de noite, pois precisaram diminuir o passo.
Quando chegaram no lugar as barracas estavam montadas. Anne se sentou em uma pedra com as pernas latejando, e em questão de segundos uma garota alta e loira corre para abraca-la:
- Anne! Você esta bem? Eu estava muito preocupada, amor. - Helena estava esmagando Anne, mas a menina não se importou, estava de volta com Helena.
Benny chegou logo depois, abraçando a irmã mas sem dizer nada, e saiu disparado pra conversar com Dani, deixando as pombinhas sozinhas. Elas comversaram um pouco, e um chefe sênior chamou para o jantar:
- Comida pronta, galera! - Gritou com sua voz grave, e todos foram para uma lona, onde serviram batatas recheadas, as mesmas que comeu com Helena quando se conheceram.

O fogo de conselho ia começar em alguns minutos, quando começou a chover. Não uma chuva fraca, mas uma tempestade ainda mais forte que a do dia da promessa de Anne. Todos estavam embaixo da lona, enquanto a lenha se encharcava. As gotas batiam na lona e nas barracas fazendo muito barulho, o vento estava tão forte que poderia facilmente derrubar uma árvore. Definitivamente não teria o fogo de conselho, mas uma coisa ainda tinha que acontecer: a promessa de Benny.
Embaixo da lona, naquela chuva forte, Benny fez sua promessa. Apesar de tudo, foi especial. Por volta de meia noite, a chuva finalmente diminuiu, e todos puderam ir dormir em suas barracas.

- Anne! Ei! Anne! - Helena tentava acordar a garota. Que levantou, não estava cansada, mas um pouco tonta.
- O que foi, menina?
- Olha só.
As meninas saíram da barraca, e viram um arco-íris ao nascer do sol. O céu brilhava em tons de laranja, amarelo e magenta, se misturando com linhas azuis no caminho do arco-íris matinal. Um presente divino.

A caminhada de 20km de volta foi ainda pior que a ida. O lamaçal os atrapalhou e deixou seus sapatos pesados, mas por incrível que pareça, foi horas mais rápidas. Chegaram por volta do meio dia, fizeram a bandeira final e se despediram. Benny e Anne foram recebidos pela mãe com uma cara séria. Amália mandou Benny ir esperar um uber, sozinho, e chamou Anne para dentro do carro:
- Você vem comigo. - disse em autoridade, secamente e determinada.

Para Anne um arco irisOnde histórias criam vida. Descubra agora