Anne acorda com a cabeça doendo e girando. Sentia sua cabeça em uma superfície confortável, e seu corpo envolto de um cobertor fino, e onde quer que estivesse entrava a luz do sol, mas não forte. Levou alguns minutos para conseguir entender que estava em uma barraca, mas não conseguia se lembrar de como havia parado lá. Ela levanta e sai da barraca, e fica tonta ao levantar. Parecia ainda ser crepúsculo, a grama molhada e uma brisa com cheiro de chuva. Anne não reconhecia aquele lugar em específico, mas enquanto recobrava os sentidos e analisava ao seu redor, percebia que estava em algum lugar da margem do lago. Onde estava não havia muita coisa, mas a vista do lago era maravilhosa. Percebeu que aquilo que a envolvia não era um cobertor, e sim um poncho. Naquele local havia um pequeno deck, e Anne foi para lá sem nem entender o motivo, e sentada observara uma visão do nascer do sol que parecia a hipnotizar, de tão radiante e maravilhoso.
Após aquele espetáculo do sol, Anne escuta passos pesados no deck de madeira, e pouco depois alguém se senta ao seu lado:
- Lindo, não é? - Perguntou alegremente, porém suavemente uma encantadora voz de garota.
Anne se assusta, quase caindo do deck com uma virada brusca e um grito abafado. Ao virar, analisa aquela instigada figura em sua frente, que se tornara mais focada a cada segundo. De fato, era uma garota, bem alta com longos cabelos loiros ondulados que brilhavam ao sol, pele rosada que lembrava a sua, mas não tão pálida, e olhos cor de mel grandes que pareciam brilhar, e segundos depois percebeu que em um dos olhos havia uma listra azul turquesa. Essa também usava um poncho, marrom e branco, lembrado chocolate, com vários quadradinhos coloridos costurados, nos quais pareciam ter algo escrito em cada um.
- Desculpa por te assustar - falou a garota desviando o olhar por alguns segundos - Você estava desmaiada e com um corte profundo em seu braço, precisava cuidar disso.
Ao escutar isso, Anne desesperadamente toca em seus braços tentando sentir alguma coisa, e sente com sua mão esquerda em seu braço direito, sente bandagens. Anne se assusta mais uma vez, e chega a tropeçar o joelho no poncho, e se não fosse por aquela garota estranha a segurando, certamente teria caído no lago:
- Cuidado! - Disse segurando Anne, e nesse momento, percebeu o quão grande era a garota, ela tinha a altura, se não fosse ainda maior, que as modelos da Olave&Marrie - É melhor você vir. Coma alguma coisa e eu tento de explicar.
Sentada em uma lona azul, passando a mão no curativo em seu braço tremendo e se perguntando o que ocorrera, Anne espera a garota loira, enrolada no poncho com o frio da manhã. Começou a observar seu corpo, e a cada novo olhar ou novo toque, sentia um corte diferente, que ardiam ao passar dos dedos. Tocando suas pernas, sentiu um rasgo enorme em seu vestido, e como se fosse programada para isso, apenas ao toque, sem nem ao menos ver o vestido, os seus olhos se encheram de lágrimas, embora não estivesse exatamente triste, mas havia um nó em sua garganta, e outro em seu coração, talvez por ser seu vestido favorito, mas não conseguia explicar o que realmente era. Tocou em seu rosto para enxugar as lágrimas, sentindo um band-ain abaixo de seu olho esquerdo. Anne ficou parada nos minutos seguintes.
Novamente sem perceber, a garota estava ao seu lado, com um prato com 2 grandes esferas deformadas prateadas e duas canecas:
- Você tem alguma alergia? - Perguntou a menina.
- Que eu saiba, apenas a abelhas. - Anne respondeu, sem olhar à garota.
- Que voz linda...- sussurrou a garota, corando levemente suas bochechas - Aqui, pode comer uma batata recheada. - Ela desenrolou a esfera prateada meio preta, e lá dentro havia uma batata com aroma de orégano.
- Obrigada. - Anne responde, ainda sem olhar para ela, não por ignorância, mas não conseguia olhar para ninguém enquanto chorava. - É queijo?
- Sim, mozzarella. E tem tomates também. - As meninas falaram com a batata com queijo na boca - Anne, não é?
Anne finalmente olha para ela, e estava muito assustada. A garota loira observa com seus olhos mel, um listrado, brilhantes como topázios os olhos negros e inchados de Anne abaixo de sua franja, e percebeu o seu espanto:
- Desculpa...eu não queria...te assustar...- A menina gaguejou - Eu usei seu celular para tentar ligar com algum familiar seu...perdão por isso...- ela corou novamente - Ninguém atendeu, então coloquei você na barraca.
Anne termina de mastigar, e quebra o silencio pouco tempo depois:
- Eu passo noites fora de casa faz anos, eles não se importam mais. - Anne falou muito baixo, mas não escondeu seu rosto. - Obrigada...qual é o seu nome?
- Helena. - Respondeu docemente.
As meninas conversaram durante bastante tempo, e Anne descobriu que fora encontrada desacordada a poucos metros de onde Helena estava acampada naquela noite. Anne estava machucada, então ela fez os curativos e tentou ligar para algum familiar para busca-la, mas ninguém atendeu...
- E onde você estava? - Helena pergunta.
- No Cocobambu. - Anne responde - Lembro que me senti mal por causa de minha mãe, e saí correndo. E depois eu não me lembro de mais nada.
- Cocobambu!? - Helena fica surpresa - Olha, você não está perto de lá...correu muito.
- O quão longe?
- Não sei ao certo, mas com certeza foram quilômetros. - Não só Helena, mas Anne também se espantou com aquela informação, logo ela, totalmente sedentária. Um pequeno silêncio se formou, mas Helena voltou a falar após alguns segundos - Mas o que aconteceu para você sair correndo de lá dessa forma Assalto ou coisa assim?
- Não...eu acho que não teve assalto nenhum.
- Você se lembra do que aconteceu?
- Em partes...
Sem nem ao menos reparar, as garotas passaram longas 5 horas que pareciam apenas minutos se conhecendo, descobrindo seus gostos literários, musicais e interesses artísticos, o que era uma grande semelhança entre as duas. Ambas eram artistas de sua maneira. Helena era uma menina de 15 anos de idade, e tinha 1.83 de altura. Dizendo ela, seu tamanho era o motivo dos garotos não namorarem com ela, "Que menino gosta de uma menina mais alta que ele e a maioria de seus amigos? Ou talvez seja minha heterocromia, mas parece que todos em minha família tem isso. " Brincou. A menina era fotografa profissional desde os 11 anos, e fazia pequenos trabalhos desde os 9, ganhou de presente em seu aniversário de 12 anos uma empresa, para divulgar seu trabalho e trabalhar em período extracurricular:
- Uma empresa aos 12 anos? Mas não precisa ser de maior pra ter uma empresa?
- Isso é verdade, ela meio que não é minha ainda. - Riu Helena - mas vai ser quando fizer 16 anos. Vou me tornar maior de idade como presente de aniversário.
- E isso é possível?
- Sim, se seus pais autorizarem sua emancipação. - Helena suavemente arrumava seus cabelos enquanto falava para que o vento não o deixassem no rosto - Acho que falei muito de mim hoje, não é justo só eu falar. Fale um pouco sobre você, Anne.
A menina ficou corada, não só por timidez, mas também porque tinha medo de falar alguma besteira. Esse nervosismo era constante em conversas com pessoas novas:
- Bom...eu tenho 14 anos...e não tem mais nada que valha a pena falar sobre mim.
- Mas você não me disse que era artista?
- Eu achei que era...até perceber que você é a artista de verdade e eu sou amadora. Você vive da sua arte, e foi prodígio. Você se tornou profissional com 11 anos.
- Mas eu duvido que vc não seja artista, você tem olhos de artista por trás dessa franja - Helena afastou a franja dos olhos de Anne em delicadeza e tenura, como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Talvez apenas Anne sentira isso e ela apenas afastou normalmente, só que foi o suficiente para se sentir melhor - E que olhos lindos...Você deveria ver isso em você.
As garotas continuram a conversa por mais algumas horas, mas Anne ainda estava tomada pelo sentimento de quando aquela menina a deu motivação. O seu coração estava acelerado, e ela se sentia extasiada. Aquela sensação era algo novo, mas era bom.
"Não ache que estou ficando doida, mas eu gostei dess sensação e quero ver essa menina novamente" escreveu em Papyrus naquela noite. Mas naquele momento percebeu que elas não tinham trocado nada que pudesse servir para uma futura comunicação. Perceber isso fez Anne chorar até dormir novamente, agora que não sabia se reencontraria Helena outra vez.
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Para Anne um arco iris
Dla nastolatkówCom uma mãe rica, um padrasto distante, 7 irmãos em casa e um irmão feto, nunca faltaram oportunidades para Anne, que poderia ser o que quiser se não envolvesse o nome de sua família. Mas por conta disso sempre lhe faltou apoio e afeto, além de nunc...