Maleficium || Livro Um - Potentia

Capítulo Dezoito - Mae

Nota da autora que vos fala:

E CHEGAMOS NO MEU CAPÍTULO FAVORITO DE TODA VIDA.

Espero que vocês gostem, o tanto quanto eu gosto. É toda a definição desse livro, desse universo, é extremamente importante não só pra história, mas também pra mim, pois significa um dos capítulos mais emblemáticos que já escrevi, de verdade. É isso.

QUEM PUDER COMENTAR E SURTAR, AGRADEÇO <3

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Capítulo Dezoito – Mae

Invenire vos

- Você vai fazer meu irmão perder a cabeça. – Chiara cantarolou a frase, fazendo com que eu me sentisse ainda mais inquieta diante de todos aqueles olhares recaindo sobre mim, enquanto nós duas observávamos Pietro, Dimitri e Noah diante da bancada do bar, ocupando-se em pegar mais bebidas para todos nós . Não, eu não acreditava que era alguma espécie de ser transcendental estonteante, na real, eu sabia que boa parte daquelas pessoas me encaravam por identificarem, pouco a pouco, que aquela era jovem de poder descontrolado que estava fugindo do Conselho nos últimos dois meses.

Por segundos, acreditei que sair um pouco da versão pobre-coitada que parece estar sempre desleixada e fugindo por aí, iria me fazer mais parte daquele mundo, daquelas pessoas. Todo mundo parecia ter saído de algum episódio pitoresco de alguma série mágica e fantástica que eu tanto gostava quando era adolescente, com suas roupas coloridas ou magia aflorando por elas de alguma forma. Por mais que o vestido branco de Chiara fosse de um corte simples, alças que eram seladas em sua nuca, dando bastante destaque para todo o volume frontal que ela tinha (e arrancando olhares consideráveis de Noah, não havia como negar), eu podia ver um brilho delicado no tecido... Como se houvesse o exposto a um feitiço de iluminação delicado. E não demorei muito a entender que havia realmente o feito, quando percebi, em mim, o mesmo efeito sutil.

Quando Chiara surgiu com aquela peça, horas atrás, insistindo para que eu a vestisse e provasse o vestido que havia conjurado especialmente para mim, eu retesei. Quis ignorar e falar que ficaria trancada no quarto, por mais que soubesse muito bem que não iria me aguentar... Eu precisava de uma distração considerável para as vozes que ainda eram repetidas em minha cabeça, dessa vez por vontade própria... Em alguma espécie desagradável de punição própria. E eu nem tinha a desculpa de que o vestido não tinha nada a ver comigo... Chiara havia acertado em cheio.

Ombros à mostra, tecido fino recaindo por meus braços com delicadeza em ondas escuras sobre a minha pele, a cintura... Eu parecia até um pouco mais magra, enquanto o vestido firmava-se ali, em um espartilho discreto, não muito firme e preso à parte traseira da roupa em fitas de cetim cor de chumbo. A saia era fluida, com detalhes em renda e com o mesmo brilho que fez meus olhos se acenderem, assim que o vesti... Era tão único, tão estranhamente bonito, que, pela primeira vez em muito tempo, eu me percebi realmente bonita... Mais "eu mesma" do que o vestido azul comum que utilizei na noite em que tudo pareceu desandar e se encaminhar em minha vida.

O corte desigual das tiras de tecido desenhado e liso, no mesmo tom de preto intenso, permitia que, volta e meia minhas pernas ficassem à mostra, mas nada que me deixasse incomodada... Havia mais mobilidade do que o vestido justo de Chiara e eu estava satisfeita com isso. Mais ainda em ter teimado com ela ao usar meus surrados coturnos, cujos eu não fazia a menor questão de esconder, uma vez que o vestido não era tão longo quanto imaginei que fosse recair em mim. Perfeito para rodopiar, como a criatura estranha que eu era, mais ainda para arriscar-me em fugas forçadas, caso o pior viesse a acontecer. Eu poderia tentar sair daquela "silenciosa guerra" e me vestir como uma princesa sombria, mas a fodida "guerra" não iria sair de mim.