Capítulo Seis

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― Vai mesmo recebê-la, senhorita? ― indagou Leonor, escrutinando seu entorno enquanto a jovem cheirava a rosa que ganhou. ― Nem mesmo sabe quem a enviou. Aquela mulher poderia ter nos dito. Com certeza o ousado está por perto.

― Não, ele acaba de ir embora ― assegurou Catarina, admirando a perfeição de sua rosa.

― Então, enganei-me?! ― espantou-se Leonor. ― Sabe quem a enviou?

― Sim, eu sei.

No lenço não havia iniciais, emblema ou brasão, mas ela não precisou ver Henry Farrow entrar numa carruagem para saber o que fizera. Não queria se envaidecer, muito menos pensar num homem tão mais velho, mas era exatamente o que acontecia por ter ganhado sua primeira flor, às vésperas do Natal, sua data preferida no ano. E vinda de um cavalheiro que não tinha esquecido um minuto sequer desde a sinuosa descida até ali.

Deixando Castle para trás, a argumentação dos pais ela ouviu como ecos distantes; o barão ansiando comprar charutos altamente recomendados por Luton, a baronesa recordando o marido de suas crises de tosse. Vagamente compreendeu que o irmão defendia o lado materno, mas não tinha certeza. Esteve ocupada analisando novos sentimentos. Relegou o conde ao segundo plano apenas quando o pai sofreu outro acesso de tosse, antes que entrassem na vila de Bridgeford.

― Era sobre isso que eu falava! ― exclamou sua mãe. ― Deve evitar charutos, senhor!

― Não são... os charutos que... me fazem mal... ― retrucou Ludwig, tossindo. ― Apenas não... me recuperei da última... gripe.

― Talvez seja isso, papai. ― Edrick foi condescendente. ― Há menos de uma semana esteve acamado e já se aventurou nessa viagem. Devia ter ficado em Apple White, como Dr. Morrigan recomendou.

― O que... sabe aquele... velho? ― Ludwig respirava com dificuldade. ― Eu queria ver... com meus olhos... como vive... Marguerite.

― Eu disse ao senhor que ela está bem.

― Edrick, preocupa-me a possibilidade... de ela querer voltar. Sua última visita... foi, no mínimo... estranha... Não quero em casa... uma filha arruinada.

― Eu gostaria de entender sua implicância com Bridgeford, papai, mas não agora. Por favor, pare de falar para que se recupere.

― Eu já estou bem. ― Ludwig foi desmentido por outro acesso de tosse, mais violento.

― Edrick, faça alguma coisa ― pediu sua mãe, consternada.

Sem saber como ajudar, Catarina ficou a ver o irmão afrouxar a gravata do pai. As tentativas de amenizar as crises se mostraram vãs, obrigando-os a pararem no hospital local. Pela vontade de Edrick todos teriam acompanhado o barão, ela se recusou. Não sabia lidar com doentes, não suportava o odor de remédios e antissépticos. Se tivesse entrado, não teria recebido a bela rosa.

Não havia mais como fingir que não gostaria de se encontrar com Henry em outras ocasiões e em suas mãos tinha a prova de que ele desejava o mesmo.

― Senhorita? ― A voz de Leonor a despertou. ― Não está me ouvindo?

― O que quer? ― Catarina a encarou com má vontade.

― Perguntei de quem é a rosa.

― Minha. Estava exatamente aí quando aquela mulher a entregou a mim.

― A senhorita entendeu o que eu disse. Quero saber...

― O que não lhe diz respeito ― Catarina se aborreceu. Realmente não tinha como ficar próxima à criada. Quando não estava embaraçada, estava incomodada com sua intromissão. ― Não me confunda com sua patroa, Leonor. Se mamãe a mantém atualizada de seus assuntos, não espere o mesmo de mim. É melhor que volte para seu lugar, pois farei o mesmo.

Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora