Capítulo Onze

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Catarina segurava o pequeno chapéu de feltro enquanto mantinha o rosto erguido, junto à janela, aproveitando o vento frio que a composição provocava. O trem corria com toda sua capacidade, mas a jovem não se importava. O ar puro dava a ela uma infinita sensação de liberdade, também de limpeza e salubridade.

Os últimos três meses em Apple White não haviam sido fáceis de suportar. Desde aquele Natal estranho, quando na véspera o conde partiu sem adeus, e o barão se revelou alguém que Catarina desconhecia, a vida dela não voltou à normalidade.

Não, não deixou de amar seu pai, mas evitava-o quando o via sozinho e se impacientava cada vez mais com as frequentes crises de tosse. Médicos chegavam à fazenda, vindos de vilas e condados vizinhos, da corte, e nenhum descobria o mal que debilitava o barão, dia após dia.

A casa se tornou lúgubre e sufocante, mais fria que a neve sobre os campos. O silêncio reinava e, com exceção às infalíveis visitas da família Kelton, ninguém aparecia. Mais por sua indelicadeza do que pelo rigoroso inverno, ela não voltou a ver Diana e Desdemona Hope depois que as deixou em companhia de sua mãe. Para sua surpresa, sentia a falta das duas.

Catarina também lamentava a ausência do irmão. Nunca foram melhores amigos, contudo, eles costumavam conversar sempre que se encontravam nos momentos ociosos. Há dias não acontecia e se distanciaram ainda mais. Quando Edrick não se ocupava na sidreria, estava fora, vendendo ou entregando a sidra produzida, inspecionando os pomares de macieiras, assumindo gradativamente todas as obrigações do pai.

Se havia um ponto positivo a citar, este seria o afastamento de Henry Farrow também de seus sonhos. Depois das três últimas vezes em que a deixou num cômodo em chamas, ela não voltou a sonhar com ele; ou a ter pesadelos dos quais despertava acalorada, aflita, e não por razões sensuais. O que continuava a ser um grande e profundo alívio.

Sim, era verdade que todo seu corpo estremeceu e ela imediatamente procurou o conde com o olhar ao citarem seu nome durante o jantar da condessa Stamford, mas mero reflexo, um ato falho. Interagiram poucas vezes, mas ainda podia confiar que haviam se afastado como amigos. Logo, seria natural desejar revê-lo, não?

― Catarina, afaste-se dessa janela! ― A ordem de sua mãe livrou-a da questão para a qual nunca teria resposta. ― Caso não se resfrie, ficará com o rosto ainda mais vermelho.

Sem demora Catarina fechou o vidro da janela e se aprumou no assento, mirando a mãe. Elizabeth a fitava com reprovação, meneando a cabeça. As criadas que as acompanhavam, Jena e Leonor, não lhes davam atenção, preferindo admirar a paisagem.

― Não torne a fazer isso ― demandou Elizabeth. ― Já basta seu pai adoentado. Quer ir direto para a cama quando chegarmos à casa de nossos primos?

Seguiam para Dorking, Surrey, onde se hospedariam em casa de parentes por uma semana. Zachary Preston era primo em primeiro grau de sua mãe. Ao se casar com Franny, tivera três filhos: Aston, Felicity e Gemma. Logo, primos em terceiro grau de Catarina.

Não eram próximos, visitavam-se pouco, mas os raros encontros eram divertidos. As primas não seriam apresentadas à corte, mas os pais participariam de jantares na próxima temporada. Por essa razão, Franny as convidou para que, juntas, fossem às compras e estreitassem os laços familiares. Desde que soube da viagem, Catarina a esperou com ansiedade. Seria seu primeiro passeio depois de ficar o inverno inteiro confinada em Apple White. Portanto, ela refutou:

― Absolutamente! Quero aproveitar ao máximo os dias amenos da primavera. Espero que minhas primas estejam tão animadas quanto eu.

― Você está animada? ― Elizabeth a olhava, cética.

Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora