Dorset, 1864
Inverno
Não era uma jovem fútil. Em absoluto, reiterou Catarina movendo as mãos enluvadas em imaginários vincos de seu vestido vermelho. Não deveria ser julgada por ser bela ou muito amada por seus pais. Era verdade que às vezes lamentava não ter nascido em meio à nobreza ou à realeza, mas não significava que não retribuísse o amor recebido. Tinha grande estima pela baronesa e pelo barão.
Há alguns anos Catarina compreendia ser aquele um título novo, criado e concedido de modo especial por Sua Majestade, a rainha Vitória. O proeminente fabricante da sidra apreciada na corte recebeu a carta-patente quando a filha caçula era muito pequena. Como seus irmãos não tornou-se nobre, porém passou a ser honorável e, mesmo que para ela ainda fosse aquém do que merecia, colocava-a em melhor situação.
Graças à posição do pai, certamente seria cortejada por condes, viscondes, marqueses; ou até mesmo por duques. Se sem esforço nem participações em temporadas de bailes sua estranha irmã, inelegível e balofa, fora capaz de seduzir um deles, levando-o a manchar sua honra para que o casamento fosse adiantado, ela, Catarina Victoria Preston Bradley, poderia sonhar em unir-se até mesmo a Sua Alteza Real.
Marguerite e Logan de Bolbec, um dos duques mais importantes de toda Inglaterra, teriam de se curvar perante ela caso se casasse com príncipe Albert; quarto filho da rainha. Catarina julgava ser preciso ter apenas a sorte de ele estar de licença da Marinha e ser convidada para um baile em que estivesse, então, sua juventude e beleza fariam o resto.
Catarina acreditava piamente que faria uma união grandiosa e, enquanto sua participação nas temporadas não tinha início, contentava-se com os bailes promovidos pelos nobres vizinhos de Apple White, a fazenda de seu pai, nos arredores de Westling Ville, Somerset. Nestas festas ela aprendia o protocolo e exercitava sua indiferença. Quando estivesse em Londres não queria ser confundida com uma simplória moça interiorana. Antes disso, desejava estarrecer a todos com elegantes e refinados modos quando sua origem fosse mencionada.
― Logo será a sensação dos salões londrinos e, sendo filha de quem é, será a preferida dos rapazes ― foi o que disse a baronesa de Luton ao serem apresentadas naquela mesma tarde.
Na ocasião, haviam acabado de chegar a Bridgeford Castle, novo lar de Marguerite, onde se comemoraria o vigésimo oitavo aniversário de seu cunhado num majestoso baile de máscaras. A simpática senhora até mesmo cogitou tê-la como nora. Não teria, mas a pretensão a envaideceu.
Catarina tinha convicção de que seria a sensação e despertaria amor em muitos corações. E naquela noite confirmaria tal pensamento, utilizando seu aprendizado. Na companhia dos pais e do irmão, enfim, chegava à festa que por dias ansiou participar.
― O honorável barão de Westling e família ― anunciou-os Griffins, mordomo do castelo que exercia a função de arauto à entrada do salão; um amplo patamar com duas escadas laterais que formavam semicírculos até o piso inferior, iluminado por castiçais presos ao teto, colorido por belos afrescos e arejado por grandes portas que se abriam para o jardim.
Enquanto desciam, Catarina experimentava o prazer de atrair vários olhares. Compreensível, tinha escolhido a fantasia perfeita. O corpete do vestido, rubro como sangue, acentuava sua fina cintura. Adornando o decote e as alças havia inúmeras rosas e pequenas folhas que destacavam seu alvo colo. Dispensou a máscara para que vissem sua beleza, apenas enfeitou o cabelo loiro com um casquete de rosas, folhas, pedrarias e penas vermelhas.
A criada de quarto de sua mãe, Leonor Ulley, ao maquiá-la colou brilhantes pedrinhas nas laterais de seu rosto, junto às têmporas, e à testa. Catarina sabia que estava deslumbrante e se sentia muito digna de transitar entre as nobres famílias que se reuniam naquela noite especial.
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Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]
RomansaHenry Farrow, oficial da infantaria, herdou título e fortuna do avô paterno tornando-se o quinto conde de Alweather. Libertino experiente, sem vínculos afetivos com a abastada família, de "sangue sujo" graças à veia paterna e pouco familiarizado a p...