Capítulo Quatorze

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― Santo Deus, que ano! ― exclamou Catarina, sem que ninguém a ouvisse, alto e forte como se assim livrasse seu peito da opressão que desde a manhã o apertava.

Vagava pelo pomar de macieiras, envolvida por uma manta, esfregando os braços para que espantasse o frio. Era início de inverno, não parecia que fosse nevar num futuro próximo, mas o vento era congelante e a chuva vinha encharcar a terra todos os dias. Suas botas a todo instante afundavam na lama e certamente Jena teria trabalho para limpar a barra de seu vestido, mas ela não se importava. Nada era tão relevante quanto o que aconteceria em poucos dias.

Enfim, iria para Londres!

― Oh! ― gemeu e se recostou num dos troncos. ― Falta tão pouco, e parece que tenho tanto a esperar. Não acredito que finalmente irei à corte, que sairei daqui!

As duas coisas estavam ligadas, com significados distintos. Há meses ela não sabia qual delas motivava-a a seguir em frente. Ansiava ter um marido e com o mesmo afã queria se afastar do pai. Queria liberdade.

Os dias e semanas que a distanciaram de seu perturbador encontro na manhã de Natal permitiram que pensasse com clareza e percebesse quão perverso era o barão e dele queria distância. Portanto, encontrava-se com o pai nas refeições das quais ele estivesse bem-disposto a participar e só. Respondia-o quando questionada, sorria quando preciso, e intimamente rogava pelo momento em que ele e seu herdeiro passariam ao gabinete para que ela ficasse somente na companhia da mãe. Se antes eram unidas, tornaram-se inseparáveis; confidentes, amigas.

Depois da ida a Surrey, e de muita insistência, Elizabeth cedera aos questionamentos da filha e revelara toda sua história. Desde então Catarina sabia que o pai não somente abusou de sua própria confiança como também a de sua mãe, destruindo sonhos e o futuro dela ao lado do primo que amava. Compadecida, mesmo temendo as consequências de tal ação, Catarina tentou não pensar somente em si e pediu em suas preces que Zachary levasse a cabo suas intenções.

No entanto, meses findaram, estações mudaram, e nenhum recado suspeito chegou até sua mãe. Elizabeth mantinha-se estoica, como se nada esperasse e essa postura exasperava Catarina tanto quanto a intermitente espera.

― Passou o tempo de ser feliz com quem amo. Não tenho ilusões, Catarina. Zachary não me procurará. E temos muito a fazer. Com a gravidez de Marguerite e a temporada cada vez mais próxima, vamos nos ater aos preparativos de nossa viagem e às peças que daremos ao bebê que virá. Façamos melhor proveito de nosso tempo e energia, sim? ― dizia a baronesa, exibindo sua enervante resignação.

Por vezes Catarina teve vontade de chacoalhar a mãe e recusou-se a experimentar a mesma placidez. Ao menos até que Logan estivesse na fazenda dias antes que ela completasse dezoito anos. A visita foi breve, solitária, para que ele confirmasse o estado de saúde do barão e pudesse tranquilizar a preocupada esposa; em suas derradeiras semanas de gravidez.

― Acabo de me lembrar, Catarina! Não imagina quem a mencionou numa carta que recebi dias atrás ― dissera seu cunhado entre os goles que dava no vinho servido durante o jantar.

Catarina julgou ter a resposta, pelo tom ou talvez pela menção à missiva, mas não se atreveu a citar nomes. Com a dedução de imediato suas mãos suaram, seu coração pulsou mais rápido, suas pernas estremeceram. Por essa razão pigarreou e, tentando demonstrar indiferença, pousou os talheres na borda do prato e disse:

― Decerto que não, duque. Quem escreveria meu nome em uma carta dirigida ao senhor?

― Alweather ― Logan respondeu, encarando-a como se tentasse desvendar sua alma. ― Considerei, no mínimo, curioso. Marguerite acredita que ele somente quis ser gentil, uma vez que previamente a mencionou.

Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora