Divergindo da última vez em que esteve com sua criada, Catarina se manteve quieta ao ser preparada para dormir. Ela trançava o cabelo diante da penteadeira enquanto Jena preparava a cama, quando esta indagou:
― Como foi sua noite, Srta. Bradley?
― Estranha ― disse Catarina, mirando o reflexo de seus olhos.
― Devo entender que foi ruim? ― Jena parou o que fazia para fitar a patroa através do espelho. ― Lamento, pois parecia animada enquanto vínhamos para cá.
― Não foi ruim ― refutou a jovem, dando de ombros. ― Somente... estranha.
― Continuo sem entender. ― Jena voltou a ajeitar as cobertas, a afofar os travesseiros. ― Tem algo a ver com suas primas? Às vezes, ficamos tanto tempo longe de uma pessoa que, ao reencontrá-la, não a reconhecemos.
― É uma forma de descrever o que sinto ― anuiu Catarina, vestindo sua touca de dormir.
― Senhorita, não seria...
― Jena, deixe de tanta conversa e acabe de arruma a cama! ― ordenou, pondo-se de pé. ― Amanhã iremos às compras logo cedo, o que tornará o dia longo. Não vou perder bons minutos de sono descrevendo a uma criada como foi meu jantar.
― Pode se deitar, senhorita ― disse Jena, afastando-se da cama. ― E me perdoe caso tenha me excedido. É que conversamos antes que descesse, então, pensei...
― Que fossemos amigas e que poderia especular sobre minha vida? ― zombou Catarina, acomodando-se entre as cobertas.
― Não chegaria a tanto, mas...
― Jena, entenda que ser atenciosa com você não faz de mim sua amiga ― esclareceu. ― Sei que vê o modo como meu irmão trata Philip, mas o mesmo não acontecerá conosco. Atenda-me com eficiência e responda quando for questionada. Assim, nós nos daremos bem e só. Por ora, vá descansar. Amanhã sairá conosco e deve estar bem disposta para segurar os pacotes.
― Sim, senhorita ― aquiesceu Jena, de cabeça baixa. ― Tenha uma boa noite!
― Quanta petulância! ― ela resmungou ao ficar sozinha, ajeitando-se nos travesseiros, e se afastou para socá-los, considerando-os desconfortáveis: ― Edrick é o único culpado de fazer com que criados acreditassem em amizade entre eles e nós!
Com um bufar exasperado, Catarina apagou a lamparina sobre o criado-mudo e voltou a se deitar. Mirando o teto escurecido, reconheceu que seu aborrecimento não era provocado pela criada, sim, pelos comentários que ouviu durante o jantar. Em especial os que vieram de suas primas. Considerava pouco provável que tivesse algum êxito junto a Henry, impossível até, mas rogou para que cada uma delas arranjasse um pretendente logo na primeira temporada.
― O conde merece alguém melhor... ― murmurou ao fechar os olhos. ― Isso não inclui a oferecida Preston número um, nem a oferecida Preston número dois.
Se era assim, por que Henry estava fardado e tão bem penteado, sorrindo para Gemma, tendo padre Angus ao lado deles?
Sem entender o que via, Catarina olhou ao redor. Avistou Edrick e Philip nos bancos reservados aos amigos do noivo. O barão, a baronesa, Zachary e Franny estavam no lado dos amigos e parentes da noiva.
Estoicos, seus pais ocupavam as extremidades opostas do banco. Os pais de sua prima estavam entre eles, felizes e unidos, rindo. Felicity e ela estavam de pé na nave central. A prima se desfazia em lágrimas, tentava secá-las. Ao mirar as próprias mãos Catarina viu que segurava um lenço e sentiu a umidade em seu rosto, chorava. Olhando para o casal, entendeu. Gemma tinha sido a escolhida, era a melhor.
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Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]
Roman d'amourHenry Farrow, oficial da infantaria, herdou título e fortuna do avô paterno tornando-se o quinto conde de Alweather. Libertino experiente, sem vínculos afetivos com a abastada família, de "sangue sujo" graças à veia paterna e pouco familiarizado a p...