― Onde estamos? ― Henry indagou, analisando com atenção a mansão que via pela janela do coche. A construção precisava de melhorias, mas havia outros veículos no pátio e cavalheiros animados seguiam para a entrada. ― Aqui não é Westling Ville.
― Não, milorde. Estamos na vila vizinha. Pediu o melhor, então, trouxe-o ao bordel da Srta. Lily Krane, em Wisbury ― disse o homem. ― Parece decadente, mas ainda é o mais famoso da região. Todos os cavalheiros das redondezas se divertem aí. Se não está de seu agrado...
― Está ― garantiu, saltando. ― Já esteve aí? Em lugares similares sempre há uma meretriz concorrida, a joia da casa. Saberia me dizer quem é ela?
― Pobre de mim! Não posso dispor do que ganho frequentando bordéis, mas passageiros falam e sou bom ouvinte. Essa por quem pergunta é Amber, a prostituta mais comentada. No entanto, quer diversão e, pelo que sei, com ela não terá.
― Não? ― A contradição intrigou o conde, retendo-o um pouco mais junto ao coche. ― Uma puta que não é divertida? Jamais tomei conhecimento de algo parecido.
― Ouvi dizer que os clientes mais velhos a apreciam pela juventude e que os rapazes a evitam por não se agradarem de sua seriedade. ― Fazendo o sinal da cruz, acrescentou: ― Um deles certa vez disse a outro que foi como ter estado com um cadáver de tão fria e inerte. Disse que ela não tem alma. Que apenas faz... Que ela... Ah, Vossa Senhoria me compreende! Que ela deixa que façam o que querem e só.
Sim, Henry compreendia, e não quanto ao sexo que o cocheiro não se atrevia a mencionar. De corpos sem almas ele entendia e muito mais de insatisfação feminina, então, tornou Amber sua empreitada daquela noite.
― Obrigado por sua informação! ― disse Henry, ajeitando sua cartola. ― Pagarei o dobro do que lhe dei para que me levasse a Apple White se vier me buscar pela manhã.
― Grato por sua generosidade, milorde! Estarei aqui, a vossa espera. Divirta-se!
― Irei, certamente ― prometeu a si mesmo, seguindo os senhores que entravam no decaído casarão, determinado a trazer Amber de volta à vida.
Para esquecer sua malfadada ida a Westling Ville, Henry tomou para si o dever de salvar a reputação do meretrício, livrando-o de uma rameira morta. Enquanto entregava seus pertences à jovem que recebia todos à porta, ele lamentou que não tivesse consigo sua valise especial.
― Boa noite, cavalheiro! ― cumprimentou-o a recepcinista, vestida como uma respeitável dama. Em tom profissional, acrescentou: ― Seja bem-vindo à casa da Srta. Lily Krane! Bebidas são cortesia, logo, poderá ser generoso com quem lhe fizer companhia.
― Amber ― disse ele. ― É quem desejo ter como companhia.
― Se a tem em mente, comunique à Srta. Krane. Entre e sinta-se à vontade!
Henry descobriu que o interior da mansão não divergia da fachada. Para alguém acostumado aos bordéis mais requintados de Londres não foi difícil notar o péssimo estado das cortinas e do tecido das paredes, o pouco lustro dos movéis. Falhas maiores eram disfarçadas com vasos e plantas exuberantes ou quadros pitorescos. O mais instigante ficava ao lado da mesa que Henry escolheu, num canto reservado. Na tela via-se o deus do vinho junto a corpos nus; uma bacanal.
Escrutinando o salão, Henry estranhou a falta das rameiras. Via a jovem que servia bebidas e a solteirona, dona daquele lugar. Não havia obrigatoriedade de apresentações para saber que se tratava da cafetina. Srta. Krane, usava um vestido azul que nada devia aos modelos londrinos. No cabelo havia um enfeite de penachos e pedrarias e no colo uma grande turquesa. Ela circulou pelo salão, trocando cumprimentos e amabilidades até chegar à mesa que ele ocupava.
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Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]
DragosteHenry Farrow, oficial da infantaria, herdou título e fortuna do avô paterno tornando-se o quinto conde de Alweather. Libertino experiente, sem vínculos afetivos com a abastada família, de "sangue sujo" graças à veia paterna e pouco familiarizado a p...