Capítulo Dezesseis

103 18 63
                                    


Catarina temia desmaiar. Segurando com força o braço do irmão, respirava fundo desde que compreendeu que se aproximavam de Buckingham. Ver a guarda real e saltar em frente ao suntuoso palácio tirou o que restava de fôlego e seu nervosismo apenas aumentou ao seguir os demais convidados ― na companhia de Elizabeth, Edrick e Alethia ―, por belos corredores, pisando em tapetes vermelhos, apoiando sua mão nos corrimãos escuros com suas balaustradas douradas. Uma pequena parcela da moradia oficial da rainha Vitória.

Era estarrecedor, e para o bem da verdade Catarina estava agitada e obrigando-se a respirar desde que desembarcou do trem, em Paddington. Não era sua primeira visita a Londres, sim, a mais importante. Daquela vez a considerou ampla e as damas mais requintadas, os cavalheiros mais bem alinhados. O Hyde parque, seu preferido, estava esplendido. Não se incomodou com o fog, aquele misto de névoa e fumaça por vezes cegante. Ela até mesmo se animou a conhecer o metrô, novo meio de transporte londrino, inaugurado pouco mais de dois anos.

― Absolutamente! ― sua mãe refutou. ― Nenhuma de nós porá os pés em tal aberração! Onde já se viu um trem que corre subterraneamente? Morreríamos sufocadas com a fumaça.

Edrick apenas riu, restando a ela conformar-se. Em todo caso, bastou chegarem à Altman Chalet para a aventura fosse esquecida. Sendo recepcionada por Lowell e por um mordomo, ela emudeceu diante de tanta beleza. Imaginar que poderia ter sido privada daquele momento ainda a abalava, mesmo que não corresse perigo.

O barão tornou a piorar. Catarina temeu que por despeito ou vingança ele arruinasse seus planos, mas, diante da família Ludwig pediu desculpas à filha por marcá-la acidentalmente e proibiu que adiassem a viagem. Até mesmo tentou convencer o filho a se divertir e, nesse caso, não seria atendido.

Naquele momento a postura do irmão confirmava o desconforto que sentia. Ambos estavam atrás do par que era apresentado por um arauto. Edrick usava fraque preto, luvas brancas e gravata plastrão da mesma cor. O cavanhaque estava bem aparado e o cabelo preso num rabo de cavalo. Não havia dúvida de que muitas mães o cercariam para apresentar-lhe suas filhas caso o futuro barão melhorasse a expressão. Mera ilusão!

A mente de Edrick estava em Apple White, o irmão não procurava diversão. Somente ela se dispunha a aproveitar a noite enquanto escolhesse um pretendente. Para tanto, não hesitou ao escolher seu melhor traje para o baile Real. Era regra que fosse simples, pois modéstia, discrição e pureza eram esperadas de toda debutante, mas, como no baile do duque, ela arriscou ousar.

De cetim perolado, como as luvas que iam até os cotovelos, o vestido eleito tinha a barra da saia bordada com fios de ouro e pedrinhas que compunham um lindo efeito. O mesmo trabalho fora feito no corpete com decote em coração que acentuava o colo e a cintura; os ombros foram cobertos por largas alças de tule. A crinolina arrematava o visual, deixando o vestido armado. O cabelo Jena prendeu no alto e os cachos pendiam como uma loira cascata até a nuca da jovem. Num dos punhos estava o cartão de danças e na mão um leque de madrepérola, rendado.

De repente Edrick fez com que ela desse um passo adiante, colocando-os às vistas de todos enquanto o arauto dizia:

― O honorável Edrick Ludwig Preston Bradley III, herdeiro da baronia Westling, vindo de Somerset, tem a honra de apresentar sua irmã. Damas e cavalheiros, a honorável Catarina Bradley!

Catarina estava impactada pelas palavras do arauto, pela grandiosidade do Salão Azul com suas colunas lápis-lazúli e scagliola; pelos lustres de cristais e suas incontáveis velas, pela profusão de vestidos das mais variadas cores, pelos penteados.

― Se não olhar onde pisa, certamente irá cair ― advertiu-a Edrick, guiando-a para um dos lados do salão para que outras jovens fossem apresentadas.

Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora