Capítulo Oito

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Catarina acordou sobressaltada, com a face afogueada, depois de novamente sonhar com Henry a tomar liberdades. Daquela vez, estavam em uma charneca onde pedras e pequenos arbustos predominavam. O chão irregular era duro, mas por alguma razão se deitou sobre a vegetação rasteira. Descansava, sentindo o vento frio em seu rosto quando percebeu que não estava sozinha. Ao abrir os olhos, tinha o conde ao lado, inclinado sobre ela, admirando-a.

Ele usava a casaca vermelha, tinha o cabelo castanho penteado para trás. De súbito, tocou sua bochecha, sua boca... Tão delicadamente que toda sua pele se eriçou e seus lábios clamaram por um beijo. Sem atendê-la, Henry desceu o carinho por seu pescoço, por seu colo e desfez o laço de seu decote. Não a expôs, mas o que fez a seguir não foi menos iníquo. Sem deixar de olhá-la, ocultou uma das mãos sob o bojo do espartilho e acariciou um mamilo.

― Cathy... ― ele sussurrou em seu ouvido.

Catarina acordou excitada implorando que o conde desnudasse seu seio e o provasse.

― Decididamente, preciso parar de perseguir Leonor e Beni ― disse, esfregando os braços com mãos trêmulas. ― E, o mais importante, preciso parar de imaginar Henry como Heathcliff.

― Senhorita?

― Ai! ― O chamado de Jena a sobressaltou, fazendo com que se sentasse abruptamente e de modo ruidoso derrubasse o que havia sobre ela.

― Senhorita?! ― indagou Jena. ― O que aconteceu? Posso entrar?

― Em um instante ― disse Catarina, deixando a cama para pegar o livro. Sob este descobriu sua rosa. Rapidamente a colocou entre as páginas como alguém que oculta um segredo e pôs o exemplar no criado-mudo. De volta à cama, liberou: ― Entre!

― Bom dia! ― cumprimentou sua criada, escrutinando-a. ― Está bem? Ouvi um barulho.

― Impressão sua ― refutou Catarina, tirando a touca para desfazer sua trança.

― Certamente ― anuiu a criada. De súbito animada, foi diretamente até a janela e afastou as cortinas. ― Garoou durante a noite, mas agora temos sol. Infelizmente creio que chova logo mais ou no final da tarde, mas essa véspera de Natal está linda e convidativa. Caso a senhorita queira, posso acompanhá-la em um...

― Agradeço que me mantenha a par das variações climáticas, porém, dispenso sugestões ― Catarina a cortou, deixando a cama. ― No momento, tudo que quero é que me arrume. Se fizer seu trabalho em silêncio, será como se eu ainda estivesse no mundo dos sonhos.

Jena assentiu e, silente, esperou que a patroa asseasse o rosto e a boca para que as ajudasse com todo resto. Minutos depois, Catarina descia para o café da manhã usando um vestido rosa de mangas longas, o cabelo estava preso num arranjo de cachos e fitas de cetim; em suas mãos levava o livro. O rosto corado era reflexo do sonho, recordado a todo instante. Distraiu-se dele ao entrar na sala de jantar e encontrar somente sua mãe à mesa.

Marie e Beni estavam a postos, esperando que fossem requisitados.

― Bom dia, mamãe! ― Catarina a cumprimentou enquanto deixava o livro na cadeira ao lado, ignorando a presença dos criados. ― Como está papai?

― O barão não se sentiu bem durante a noite, mas se recusou a ficar na cama. Levantou cedo e agora está na sidreria, com Edrick.

― Ele não devia se esforçar se ainda está doente ― disse ela, deixando que Marie a servisse. ― O que pode ser?

― Gripe muito forte ― disse a baronesa, cortando a ponta de um croissant. ― Pedi a Marie que providencie novas ervas para chás mais eficazes.

Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora