Capítulo Dezessete

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As particularidades de seus novos amigos absorveram-na de tal maneira que Catarina não sentiu o avanço do tempo. E, quando Edrick a procurou para que fossem embora, partiu com a mente povoada de ideias, sabendo que na tarde seguinte receberia dos gêmeos que ela elegeu seus preferidos: Dicty e Netty. Sim, tornou-se assim tão próxima.

― Nem que vivesse mil vidas eu estaria preparada para essa noite! ― falou ao entrar na carruagem com a ajuda do irmão e se acomodar diante da mãe e da tia do duque.

― Nota-se por seu entusiasmo ― disse Alethia, divertida. ― E deve se alegrar. A duquesa não foi a única a citá-la como a nova sensação. Há tempos eu não via a filha de um barão ser tão bem recebida.

― Ora, Alethia ― replicou Elizabeth ―, títulos devem ser o que menos contam.

― Oh, não! Posição e condição financeira são quesitos preponderantes. Alguns preferem associar seus nomes às filhas de duques falidos que às de barões endinheirados. A não ser, evidentemente, quando determinado barão é influente ou conhecido.

― Talvez essa seja a vantagem de minha irmã ― comentou Edrick.

― E a beleza, não duvide ― acrescentou Alethia. ― Amanhã descobriremos quão bem-sucedida foi sua apresentação.

Com mente ativa e corpo cansado, Catarina recostou a cabeça no ombro de Edrick deixando que os demais conversassem entre si. Outros bailes viriam, mas aquele sempre seria lembrado com nostalgia. Ainda agitada, Catarina descreveu o baile a uma Jena sonolenta e demorou a conciliar o sono. Despertou com o sol alto, ouvindo Edrick bater à porta.

― Entre ― liberou e se sentou. Surpresa por ver o irmão usando sobretudo, indagou: ― Que horas são? Aonde vai?

― Estou voltando para casa. ― Edrick sentou no colchão dando palmadinhas na cabeça coberta pela touca, sorrindo com afeto. ― Não queria partir sem me despedir dessa dorminhoca, mas você não descia nunca.

― Já é hora?! Por que Jena não veio me chamar? Aquela imprestável!

― Não brigue com ela ― ele pediu, segurando as mãos da irmã. ― Mamãe pediu que a deixasse descansar, chegamos muito tarde. E fez bem, porque você terá um dia cheio. Aliás, aproveite muito bem suas noites de sono. Pelo que vi, vai precisar de toda sua disposição.

― Por que diz isso? ― Catarina uniu as sobrancelhas.

― Você verá... ― respondeu Edrick, enigmático, abrindo os braços. ― Por ora, esqueça sua restrição a contatos desnecessários e dê-me um abraço.

Catarina sorriu e se aproximou para atendê-lo. Ainda era incômodo, mas depois de elucidar a causa, estava disposta a romper aquela barreira. Afastando-se, desejou:

― Faça boa viagem, Edrick. Lamento que não possa ficar.

― Sei que Dr. Morrigan e Marie estão cuidando de papai, mas saber que continua doente tira meu ânimo para festas. E, como não estou à procura de uma esposa, é melhor me manter longe das mães casamenteiras ― gracejou, piscando para ela. ― Esteve ocupada entre uma dança e outra, então, não viu. Cheguei a fugir de duas delas.

― Um dia terá de encontrar alguém ― disse a jovem, gostando da nova proximidade entre eles, puxando os fios do cavanhaque somente para arreliá-lo.

― Quando não me restar opção ― determinou, fazendo uma careta de dor. ― Mas não será dessa vez. Esse momento é seu! Lembre-se do que lhe disse e não se deslumbre por esse mundo novo que se descortina. Priorize sentimentos reais, Catarina, não posses nem aparências.

Rosa Escarlate [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora