Epílogo

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Muitos anos atrás

Acordo assustado, meu coração bate tanto dentro do peito que estou ofegante e confuso. Por alguns instantes não sei se estou preso no mundo dos sonhos ou preso em minha cama.

Tento acalmar minha respiração enquanto grossas lágrimas escorrem pelo meu rosto, meu corpo treme e estou assustado.

Na escuridão de meu quarto não posso ver muita coisa, a noite é muito fria lá fora, a minha janela está bem fechada e a luz da lua ilumina um pouco, mas não tanto assim.

E o quarto está muito quieto. Não é para ser assim, não quando Dylan ronca tanto. Mamãe disse que ele terá que operar das amídalas, seja lá o que isso quer dizer, depois disso o ronco vai acabar. Então, acordar em um lugar tão quieto, somente com os galhos das árvores batendo na janela é assustador.

Mas, existe algo mais assustador do que isso. Meu papai.

Hoje ele não está em casa, teve que viajar a trabalho.

Rapidamente afasto as cobertas de mim e olho em volta, tenho que forçar minhas vistas, porém noto que a cama de Dylan está vazia.

Ele deve estar dormindo com minha mamãe. Toda vez que o papai viaja, meu irmão corre para dormir com ela, normalmente foge durante a noite, esperando eu dormir para correr até o quarto de nossos pais e monopolizando toda a atenção dela.

O que é muito injusto. Ele é tão egoísta.

Não me preocupo em calçar minha pantufas e ainda com meus olhos úmidos corro para a porta do quarto e atravesso o corredor escuro até a parede lateral, onde fica o interruptor, não demoro em acender a luz. Depois de tudo claro, corro para a porta do quarto da mamãe.

Quando abro as portas, respiro profundamente o cheiro dela. Agora que papai está longe, o perfume da mamãe é muito bom. Ela não cheira a dor ou tristeza.

Ao me aproximar da grande cama noto que Dylan está dormindo profundamente, seus braços e pernas estão abertos deixando pouco espaço para a mamãe dormir.

Egoísta! Penso irritado. Eu quero ensinar a ele uma lição, mas mamãe sempre disse que devo protegê-lo. Dylan e eu somos gêmeos, mas eu sou o mais velho, então devo cuidar dele. Principalmente quando o papai está bravo, é meu dever puxar Dylan para longe e nos esconder no guarda-roupa de nosso quarto. E mesmo que a mamãe grite muito, não podemos interromper.

Mas, não quero pensar em meu papai agora, não quando tive aquele sonho novamente.

É sempre o mesmo sonho e sempre fico assustado e confuso.

Na ponta dos pés caminho até o lado onde mamãe esta deitada, eu quero me aconchegar em seus braços, mas também não quero acordá-la. Ela está muito cansada.

Minhas tentativas de puxar a coberta sem despertá-la são um fracasso. Logo, escuto seu suave suspiro ao abrir seus olhos e me encarar. Ao seu lado, Dylan continua a roncar.

- Kane, meu príncipe. O que está fazendo aqui? É muito tarde. - Sua voz sempre soa doce em meus ouvidos, mesmo quando ela está rouca de sono.

Quando não digo nada, ela sorri e muito delicadamente abre espaço para que eu possa subir e me deitar em seus braços.

O corpo da mamãe sempre é quente e macio e ela tem os melhores abraços do mundo todo. Sem contar que a cama dela sempre é mais confortável que a nossa. Na escola eles dizem que é um ninho, para ela e o papai. Mas não sei o que isso quer dizer, para mim é só uma cama cheia de cobertas e edredons. Todas as camas não são assim?

DevastaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora