mãe?

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Courtney Lauren's POV

fui obrigada a engolir o meu orgulho naquele momento. retribui o abraço quente, verdadeiro e acolhedor da dona Pattie. Justin ficou nos olhando com cara de bunda, é a única que ele tem mesmo.

- dona Pattie, por favor me perdoa! eu sei, eu deveria ter dito a verdade, mas... sei lá! não queria te deixar tão triste. - eu disse enxugando as lágrimas dela que desciam abundantes por seu rosto. seus olhos verdes estavam vermelhos e irritados por conta das lágrimas.

- tudo bem, eu compreendo. que isso não se repita nunca mais! - assenti com a cabeça - agora eu quero que me conte mais detalhes - assim fiz. contei toda minha história pra ela que chorou muito, não sei onde aquela pessoa baixinha guarda tanta lágrima.

terminamos de conversar e dona Pattie foi para o seu quarto. aproveitei para tomar um banho. acho que vou dar uma volta por aí; preciso esfriar a cabeça.

vesti uma calça jeans normal, um vans verde água, uma blusa branca. fiz um coque frouxo no alto da cabeça e saí sem passar ao menos um rímel, não estava afim. eram 18hrs31 já estava um pouco escuro.

estava tudo normal até eu ver uma mulher toda arrumada. estava usando um vestido até o joelho colado em um tom vermelho sangue. um par de escarpins nude, bolsa da Chanel branca e um óculos de sol estilo Lady Gaga. ela aparentava ter uns cinquenta anos, mas estava tudo no lugar. quem sabe plástica? ela estava distraída e do nada olhou pra mim. veio se aproximando e eu parei de andar. a mulher tirou seus óculos como se me conhecesse.

- Courtney? - perguntou, parecia emocionada ao me ver ou algo do tipo.

- sou eu. - eu disse com um pouco de curiosidade. sei que o condômino é de luxo, mas nunca havia visto essa mulher antes e como ela sabe meu nome?

- não está me reconhecendo, querida? - neguei com a cabeça - sou eu, sua mãe!  que saudade, meu amor! - ela veio em minha direção na intenção de me dar um abraço. recuei dois passos.

- você está de brincadeira com a minha cara? deixa disso, eu não te conheço! fica longe de mim! - me virei para sair e ela gritou, me fazendo parar.

- Courtney Lauren, dezenove anos, Atlanta. como você cresceu, minha querida! - ela disse meu nome completo, minha idade e meu local de nascimento.

- quem me garante que você não conhece a Grace?

- Grace? quem é essa Grace? - perguntou se fazendo de idiota.

- ah, para! só porque você chegou do nada na minha frente dizendo que é a minha mãe, acha que eu vou acreditar em você? além disso, minha mãe não é loira! - eu disse.

- eu mudei, minha filha. seu pai ganhou na loteria, estamos ricos! - disse ela empolgada.

- nesmo se for mesmo minha mãe, acha certo abandonar sua filha aos dez anos de idade? E
eu morei na rua, passei fome, eu sofri e você, aonde estava? - senti lágrimas invadirem meus olhos, descendo em abundância pelo meu rosto.

- me desculpe. eram outros tempos, não tínhamos condições de sustentar você.

- ah, não? por que não me colocou em um orfanato? você me jogou na rua! e se eu morresse? e se pegasse uma doença? me esquece! - dei meia volta e saí correndo dali.

o caminho estava turvo por conta das lágrimas que insistiam em cair. olhei para trás para ver se ela estava vindo, mas não estava. finalmente cheguei na casa do Justin, ofegante, suada e tomada pelas lágrimas.

- Courtney, o que aconteceu? - Justin perguntou assim que passei pelas enormes portas de vidro da mansão.

- ela voltou. Justin, não quero vê-la! ela me abandonou! - eu falava chorando como uma criança.

- espera. pare de chorar. de quem está falando? - perguntou confuso.

- a minha mãe, ela voltou. - vi Justin arregalar os olhos.

- o que ela disse? - perguntou.

- só me abrace, Justin, apenas me abrace. - e então, deixei o ombro desnudo de Justin completamente molhado por minhas lágrimas.

não eram lágrimas de felicidade, eram lágrimas de raiva, ódio pelo que aquela mulher fez comigo, e agora depois de anos ela volta querendo que eu a ame, que eu a chame de mãe? vai tomar no cu! eu também sou humana, tenho sentimentos. não sou uma psicopata, os ladrões também tem sentimentos, pelo menos alguns deles. não quero nem chegar perto dessa mulher. sou uma pessoa muito rancorosa e acho que nunca seria capaz de perdoá-la.

- Courtney, o que houve? - dona Pattie desceu as escadas correndo, preocupada ao me ver chorando.

- a minha mãe, dona Pattie. depois de nove anos ela resolveu me procurar.

- e o que ela queria? - perguntou pegando em meus cabelos embaraçados.

- não sei, não quero vê-la. ela me abandonou! - eu repetia ainda chorando.

- não, querida. ela te abandonou, mas se arrependeu. ela voltou pra te ver. perdoe, meu bem, é necessário. - dona Pattie disse sendo doce e simpática, como sempre.

- nunca! o que ela fez não tem perdão. eu me tornei o que me tornei por causa dela. nunca irei perdoá-la! essa mulher me deixou na rua, sem rumo, até fome eu passei. não, não quero nem vê-la! - eu disse firme, levantando do colo de Justin e limpando as lágrimas que cessaram um pouco. - e não vou mais chorar, ela não merece. - eu disse e subi as escadas, me trancando no quarto.

enchi a banheira até a borda, coloquei um pé e depois o outro. a água estava gélida. mergulhei, ficando completamente submersa em meio as águas. perdi completamente o contato com o mundo lá fora. estávamos agora eu, meu coração e meu cérebro em conflito. um misto de razão, raiva e orgulho. um vazio de repente surgiu, me deixando completamente desnorteada e sem saber o que fazer. assim, perdi o ar. a água entrou por minhas narinas me deixando nervosa e desesperada, tentei voltar para a superfície da banheira, mas não consegui.

então é assim o meu fim? em uma banheira, trancada em um quarto na casa de um mafioso, depois de discutir com a minha suposta mãe que depois de nove anos resolveu aparecer? acho digno, depois das coisas que fiz eu mereço morrer e queimar no fogo do inferno eternamente.

só quero morrer aqui, sozinha, afogada em uma banheira com minhas lembranças de coisas boas e ruins pelas quais já passei ao longo da minha grande vida de merda.

continua...

A CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora