O caminho não era assim tão longo como estava percorrendo. Cruzou algumas vielas que não costumava seguir, andou mais alguns metros desnecessários. Mas no final, chegou naquele lugar onde provavelmente seria decidido o seu futuro.
A reação de Hinata no hospital era um tanto confusa para entender. Não restava dúvidas de que tudo era mais difícil para ela, talvez não tivesse conseguido esclarecer que faria mesmo de tudo para que nada de mal acontecesse.
Pensando e pensando, percorreu os corredores vazios da mansão, até chegar na sala onde Hiashi costumava tomar seu chá.
Mas ele não estava ali, Neji fez o caminho contrário, até se encontrar com a velha mulher que cuidava da casa.
— Hiashi-sama, saiu cedo, ele disse que viria procurá-lo.
— E onde ele está?
— Da última vez que vi, ele estava no jardim, conversando com sua mãe.
Neji fechou os olhos, torcendo o pescoço para o lado, estalando-o. Não havia esquecido de sua mãe, mas queria deixar a conversa com ela para depois. Os dois juntos seria um tanto que complicado.
Saiu da mansão e seguiu para o jardim, como era grande, não imaginava em qual canto achá-los, e certamente não iria perguntar a ninguém.
Sentou num banco de madeira, provavelmente os dois estavam falando de sua vida, seu futuro, o que iriam resolver. Perda de tempo, claro. Não iria aceitar imposição de mais ninguém na sua vida.
Ouviu passos se aproximando, levantou-se e ficou mais afastado. As vozes aumentavam a cada passo, pode ter certeza de que eram eles.
A mulher caminhava lentamente, observando as flores e os arbustos crescidos, ouvia atenta o que o homem lhe dizia, sem atrapalhar uma palavra sequer.
Neji examinou a mãe, a calma, e o olhar que ela lançava para o tio, silenciosa. Uma mulher com aparência jovial, os traços aristocráticos deixava-a com o ar ainda mais sério.
Hiashi a conduziu até o banco de madeira, e ambos sentaram-se.
— Queria poder saber o que fazer nesse momento, Nana. — O olhar da mulher seguiu por entre as flores até chegar ao homem ao seu lado.
— Não há nada que você possa fazer, além do que já faz pela família. Hiashi, não é você quem tem que tomar qualquer atitude. Nossos filhos são adultos, inteligentes, sabem o que fazem. Nós apenas devemos apoiá-los no que decidirem.
— Tudo parece tão mais simples quando você quem diz. — Ele respirou fundo. — Mas o conselho...
— Hiashi, o conselho não é mais importante que nossas vidas. Nossos filhos. Se eles acharem que é errado uma Líder assumir um filho nessas condições, é porque nada do que fizemos no passado foi importante. Lembra-se? Nós também sonhávamos com um lugar mais justo, para o futuro. Que é agora.
— Nana, o passado nos mostrou que a injustiça ainda fala mais alto. Senão, meu irmão...
— Meu marido foi um herói. Ele guardou o segredo do clã, salvou você, e nossos filhos. E se eles encontraram o amor juntos, o que podemos fazer? É como a história se repetindo novamente. Mas dessa vez, onegai Hiashi, dessa vez vamos fazer de tudo para que sejam felizes.
Nana se levantou, retirando dos olhos os fios negros que insistiam em cair em seus olhos.
Hiashi a acompanhou no mesmo movimento. Ficaram segundos se olhando, Nana esticou a mão até o ombro do cunhado, entregando-o com a outra mão o lenço que segurava.
Neji viu a mãe se afastar, saindo então detrás da árvore. Esperou que Hiashi dissesse algo, mas ele parecia inerte em seus pensamentos.
— Hiashi-sama, podemos falar agora? — Um pequeno silêncio, até o homem prestar atenção em que lhe chamava.
— Achei que demoraria mais para me procurar, Neji. Mas vejo que me engano as vezes. Acabo de falar com sua mãe, sinto muito se queria dar a notícia você mesmo, mas já que não veio para casa essa noite, ela se preocupou.
— Eu... eu iria... — as palavras secaram.
— Sim, eu sei. Eu só preciso saber uma coisa.
— Eu irei dizer tudo, tudo o que aconteceu, não quero que...
— Neji, eu não estou interessado em saber tudo. Ainda sou o pai de Hinata, e não me sinto confortável em saber que minha filha está grávida. Solteira e grávida.
— Mas eu quero me casar com ela. Já havia dito isso antes, mas Hinata ficou com medo e não quis no momento. — Hiashi continuou falando, mesmo com o nervosismo do sobrinho.
— Existem coisas que um pai não gosta de saber sobre sua filha. Mas há coisas que não podemos fechar os olhos. Hinata não parece preparada, mas uma vez eu a subestimei, não vou fazer novamente. Se você realmente vai assumir tudo o que fizeram, façam isso juntos. Assim que ela sair do hospital irão falar na frente do conselho qual a decisão que tomaram diante dos fatos. Eu não irei argumentar nada antes disso. Já abusaram da minha paciência uma vez, não façam novamente.
Ele saiu, deixando Neji sozinho no jardim.
Simples demais, fora fácil e sabia que isso era causado pelas palavras da mãe. E era essa que deveria conversar. Mas não parecia tão fácil.
Chegou na casa, o cheiro de chá era já esperado, como se ela soubesse todos os seus passos. Como sempre fora.
Na sala, estava ela, sentada diante o incenso e uma imagem de seu pai. Neji aproximou-se lentamente, sentando-se ao lado da mãe.
— Okaasan, me perdoe por ter guardado um segredo e envergonhado o nome de meu pai.
Neji fez uma mesura, apoiando a testa até o chão, em respeito a mãe.
— Levante filho. Não tem do que se vergonhar. Ainda não. — ela descansou os olhos, virando-se para o único filho. — Neji. Sou sua mãe, o respeito que deve a mim nada tem haver com suas atitudes pessoais. Estou apenas triste em saber que não confiou em sua mãe. Mas nada de grave aconteceu, isso é o mais importante.
— Ainda não aconteceu.
— O que quer dizer com isso? Acha que um filho é um erro grave? Ora essa, ninguém jamais irá tocar ou ousar falar dessa criança. Felizmente, todos aqui tem muito o que nos agradecer. Agradecer ao seu pai. E a honra que ele deixou como herança, é forte o bastante para fazer esses velhos ficarem quietos. — serviu o chá quente, esperando que ele bebesse. — O que está feito, está feito.
— Arigatou, okaasan. — Neji fechou os olhos, ouvindo a voz da mãe lhe acalmar o espírito.
**
Sempre quis colocar a mãe do Neji em uma história.
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Shiro
Fanfiction(+18) Hinata e Neji encontraram um no outro uma chance para aprender o significado do amor verdadeiro. ** Personagens são de Masaki Kishimoto. - A história foi concluída em 2010. Mas eu decidi fazer um epílogo em 2016 para comemorar os 6 anos da his...