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O saboroso aroma de café preenchia o ambiente na casa dos Cárpio, destacando-se sobre o cheiro predominante de "casa antiga". A mesa do desjejum estava repleta de mirtilos, morangos, croissants, geleias, manteiga e uma variedade de pães frescos, criando um convite irresistível para começar o dia de forma deliciosa.

ㅡ Aí, menina, ele pegou na minha mão! ㅡ dizia Vini animadamente, sentado ao lado de Kate.

Seus grandes olhos esverdeados estavam atentos a cada gesto e palavra do jovem de pele negra, iluminada pela pouca luz solar que entrava na sala de jantar.

ㅡ E então? ㅡ indagou Kate, curiosa, ao perceber o silêncio que se instalou repentinamente.

ㅡ E então... nada ㅡ murmurou Vini, perdendo o entusiasmo, enquanto se desmanchava na cadeira de madeira.

Kate franziu as sobrancelhas, tentando entender a mudança repentina no relato do encontro de Vini.

ㅡ Ele não tomou atitude? ㅡ John questionou, sentado na ponta da mesa. Seus olhos azuis estavam fixos nos jovens enquanto ele devorava um croissant.

ㅡ Soltou minha mão quando um grupo de pessoas passou por nós ㅡ comentou Vini bem baixinho, fazendo pai e filha soltarem um "Ah!" em uníssono, seguidos por suspiros de frustração.

ㅡ Um covarde ㅡ resmungou John, com a voz levemente irritada.

ㅡ Por isso que eu sempre digo, nunca se espere muito de um homem ㅡ Kate comentou, alcançando seu copo cheio de suco.

ㅡ Nunca espere muito de pessoas que se importam mais com a opinião dos outros do que com sua própria felicidade ㅡ John corrigiu a fala da filha. ㅡ Não importa o gênero, tem que ter coragem para viver ㅡ concluiu, deixando a jovem de cabelos loiros levemente pensativa.

ㅡ Não o julgo ㅡ Vini declarou, atraindo a atenção deles. ㅡ Não é uma tarefa fácil se assumir, sei disso por experiência própria ㅡ admitiu, soltando um suspiro sofrido.

ㅡ Vai se encontrar com ele novamente? ㅡ John perguntou.

ㅡ Não sei, tio ㅡ Vini murmurou baixo em resposta.

ㅡ Papai ㅡ Kate o chamou.

ㅡ Sim, querida?

ㅡ Mamãe era uma covarde por não querer assumir um relacionamento sério com o senhor?

John engoliu em seco; ele entendeu o motivo do questionamento. A questão de Kate estava relacionada ao que ele havia dito sobre pessoas que têm coragem de viver independentemente do que os outros possam pensar. Vini se segurou muito para não fazer nenhum comentário escandaloso, percebendo o peso daquele momento. O silêncio tomou conta do ambiente, enquanto John buscava as palavras certas para responder.

ㅡ Sua mãe... ㅡ começou ele, com a voz suave. ㅡ Ela não era covarde, Kate. Ela apenas tinha seus próprios medos, suas próprias batalhas internas. Às vezes, o amor pode ser assustador, não porque não se quer, mas porque se tem medo de machucar ou ser machucado. Não é sempre sobre falta de coragem, mas sobre proteção... de si mesma e dos outros.

Sofia, mãe de Kate, se sentia constantemente ameaçada pela presença de Edgar em sua vida. Tinha receio do que poderia acontecer com ela ou com sua família caso pedisse a separação. Seus pais a haviam forçado a se casar com ele justamente para salvá-los da falência que os amedrontava. Mas ela sabia que Edgar era capaz de muitas coisas, e a palavra "limite" nunca fez parte de seu vocabulário. Isso era o que a assombrava e a impedia de ser livre novamente.

Kate observou John em silêncio, refletindo sobre as palavras do pai, enquanto Vini desviava o olhar, respeitando o espaço emocional daquele momento. A tensão lentamente se dissipou, e John, percebendo que o assunto poderia ficar pesado demais para o café da manhã, tentou suavizar o clima.

Minha tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora