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Na noite daquele mesmo dia, uma das funcionárias da grande casa branca com enormes janelas de vidro temperado se apressa para abrir a porta da sala de estar.

Ao abrir, um sorriso envergonhado surge em seu rosto ao cumprimentar o rapaz alto à sua frente.

- Boa noite - ela diz, e o rapaz responde com um sorriso ladino.

- E aí, gatinha, o Charles está? - pergunta, passando pela moça que fica totalmente atônita com seu gesto.

- Hum? - ele percebe a reação dela e dá uma risada divertida.

- E-está sim - responde nervosa, fechando a porta atrás de si.

O jovem se aproxima dela com um brilho malicioso nos olhos, que são um misto de azul, verde e castanho. Seu topete preto cai um pouco sobre o rosto enquanto ele se inclina em direção à jovem, que dá alguns passos para trás, surpresa.

- Quer meu número? - pergunta com a voz baixa e arrastada, como se contasse um segredo. A boca dela faz um gigantesco "O" enquanto seus olhos se arregalam com a pergunta.

- Deixe-a em paz, Cameron - uma voz feminina o repreende.

A funcionária aproveita que o foco dele não era mais nela e se afasta apressadamente, indo em direção à cozinha. Os olhos de Cameron vagam pela sala até pousarem sobre a jovem Cárpio, sentada em uma poltrona com estofado branco.

O cabelo dela está solto, com ondas douradas caindo ao redor do pescoço, e ela usa uma grande camisa escura. Seus olhos estão concentrados no livro em suas mãos.

- Pequena Cárpio - cumprimenta ele eufórico. - Como vai?

- Faça silêncio, estou tentando ler - pede com rispidez, sem tirar o foco das páginas envelhecidas.

- Cadê o bundão do seu irmão? - pergunta, ignorando o pedido.

- Está no escritório com meu pai - responde, enquanto o rapaz se aproxima dela com as mãos nos bolsos da bermuda.

- O que você tanto lê aí?

- Poesia - diz ela, enquanto a sombra dele projeta-se sobre as páginas, atrapalhando sua leitura. - Conhece a palavra "privacidade"? - ela levanta o queixo para encarar o rapaz, que exibe um sorriso confiante.

- Poesia erótica, né? Danadinha - comenta ele, e ela fecha o livro, acertando o rosto dele com a capa.

- Aí! - o grito dele sai fino e agudo, fazendo-a rir calorosamente.

- "Ain" - ela o imita, rindo ainda mais.

- Ah, pirralha - resmunga ele, levantando-a da poltrona como se fosse um travesseiro.

- Me larga! - ela protesta, tentando se soltar enquanto seus cabelos ficam todos bagunçados.

- Vou te jogar na piscina com livro e tudo - ameaça, andando pela sala em direção aos fundos.

- NÃO! CAMERON! - o som de passos na escada faz ele parar.

Nos últimos degraus de piso branco da escada, Charles os observa com um esboço de sorriso no rosto.

- Bom ver que estão se dando bem - comenta tranquilamente, enquanto termina de descer.

- Manda seu cão de guarda me largar!

- Cão de guarda?! Esse mini projeto de gente bateu o livro na minha cara! - Charles vai para a cozinha, ignorando completamente o conflito entre eles.

- "Michael Cameron, a história de um sem noção que se acha o centro das atenções, mas ninguém dá realmente a mínima" - a loira provoca com ironia, quebrando o silêncio que havia se instalado.

Minha tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora